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Lançamentos favoritos de maio

4 Junho, 2020 - 11:51

14 lançamentos revisitados por Daniel Duque, João Freitas e Rui Castro.

Baby T – Portra [Samurai Music, 1 de maio]
No lançamento do mais recente projeto de B.Traits, podemos assistir a uma libertação da artista rumo a um ecleticismo sempre presente, mas tantas vezes mal interpretado. Com Baby T, a canadiana regressa às suas origens, onde os ritmos mais acelerados do dnb e jungle eram uma constante, proporcionando um escape para explorar terrenos com uma nova atitude. O facto de a faixa homónima ter três mixes distintos (ambient, jungle e hybrid), e ainda dois remixes de pesos pesados da Samurai Music – Homemade Weapons e Ancestral Voices – são evidências da amplitude sonora que a canadiana pretende com este “novo” pseudónimo. Um trabalho paradoxalmente surpreendente e expectável, que prova que não devemos julgar um livro pela capa.




Três Tristes Tigres – Mínima Luz [1 de maio]
22 anos depois de “Comum”, os Três Tristes Tigres regressam com o álbum “Mínima Luz”, um disco que, além do habitual trio, conta com a participação de nomes como Fred Ferreira e Angélica Salvi em alguns temas. A voz de Ana Deus – e as letras de Regina Guimarães – juntam-se às guitarras ou sintetizadores analógicos e modulares de Alexandre Soares para escrever uma história imensamente encantadora, que se destaca como uma das mais bonitas deste ano. Ao longo do álbum experiencia-se pop, rock e não só, tudo envolvido numa obra de excelência.




ZZY – Disorder [1 de maio]
O título do novo álbum de José Veiga parece uma antítese – “Disorder” tem ordem, pés e cabeça. A escolha do nome talvez se deva ao facto de o trabalho ser “mais sombrio, obscuro e misterioso”, desenrolando-se “ao redor de um universo mais íntimo e introspetivo”, segundo palavras do próprio. Ao contrário de “Plastic Jazz”, um dos nossos favoritos em outubro do ano passado, ZZY não se vira para sonoridades jazz, mas antes para uma reflexão muito própria vivida em paisagens ambient, experimentais, glitch e até dubstep. “Disorder” pode até ser o resultado de autorreflexão, mas o ouvinte fica também a refletir. E o quão bom é isso.




Vários Artistas – NSD004 [No, She Doesn’t, 8 de maio]
Este é o quarto lançamento da No, She Doesn’t, e parece representar na perfeição aquilo que se pode esperar do catálogo da editora lisboeta, numa mistura de diferentes abordagens que assenta como uma luva no ouvinte. Nomes da editora, como DJ Spielberg e DJ Legwarmer, juntam-se a convidados, como Moreno Ácido e o britânico Native Cruise, para explorar música de dança que se inspira numa miríade de estilos, de electro, a garage, passando até por house. Ora mais rápido, ora mais lento, “NSD004” vai criando estados de espírito à medida que se escuta – e não é esse mesmo o propósito da No, She Doesn’t?




Daino – Crescendo [Percebes, 11 de maio]
João Costa é teclista profissional e professor de música, mais conhecido como Daino no panorama. Este seu primeiro vinil (que está também disponível em formato digital) conta com quatro faixas – e um remix de Andrew Emil – e abre com um piano que nos envolve numa expectativa típica da música de dança, partindo daí para momentos cativantes onde se flutua com a companhia de vozes e outros instrumentos. É obrigatório incluir “Crescendo” nesta lista – aliás, este é um disco de house com toques de funk ou soul tão bonito que nos arriscamos a dizer que é um dos melhores EPs do ano.




Asquith – Rave Til Dawn [Asquith, 15 de maio]
Graças a este EP já organizámos uma rave secreta cá na redação. Não digam a ninguém, é segredo. Não é verdade, mas bem que poderia ser. Este trabalho do londrino Asquith evoca aquilo por que tantos de nós ansiamos: dança e suor noite dentro, até que o amanhecer nos atire novamente para a realidade quotidiana. Cada uma à sua maneira, as faixas que compõem “Rave Til Dawn” transpiram euforia sonora num rasgo de serotonina que nos transporta para tempos mundanos de outrora. Que saudades.




Ilana Bryne – Strange Adventure [naive, 15 de maio]
Mais de um ano depois, Ilana Bryne regressa a esta lista, novamente com uma edição pela lisboeta naive. “Strange Adventure” é um EP com quatro faixas originais e um remix de Russell E.L. Butler, um EP que inspira desde o primeiro segundo, um EP que tanto agarra com melodias e baixos – como em Exclusive Shit Holds No Weight – quanto com percussões incríveis – em I Used To Love T.H.E.M., por exemplo. Mais uma vez, Ilana Bryne não desilude no percurso que faz, num roteiro que passa por breakbeat, electro e até house.




Nídia – Não Fales Nela Que a Mentes [Príncipe, 22 de maio]
Nídia, a par de produtores como DJ Marfox e DJ Nigga Fox, ambos presentes no catálogo da Príncipe, é um nome a manter debaixo de olho sempre – afinal, também ela mostra as raízes africanas de forma bem característica e peculiar. O sucessor de “Nídia É Má Nídia É Fudida”, de 2017, parece mais emocional, com melodias a acompanharem ritmos numa fórmula que parece não seguir catalogações impostas de antemão, mas antes uma aparente vontade de a DJ e produtora se exprimir abertamente. Ao longo de aproximadamente 30 minutos, que passam rapidamente a 60 depois da primeira escuta, “Não Fales Nela Que A Mentes” corre pelos ouvidos com uma abordagem e fluidez apaixonantes.




2UNDER8 – Sensualist [Streck, 27 de maio]
O coletivo suíço estampou-nos na cara o caos, e uma linguagem musical bastante estranha com este lançamento. Uma mistura de breakbeat, drum and bass, techno, jungle e dubstep… Definitivamente sem qualquer rótulo possível de se catalogar facilmente. A Streck, também suíça, é uma editora que conta com lançamentos de artistas ainda com um foco pouco iluminado na cena, mas que carregam uma assinatura artística um bocado fora da caixa, como comprova este “Sensualist”.




Ghost Hunt – II [Lovers & Lollypops, 28 de maio]
Não precisávamos de ler esta entrevista para perceber que os Ghost Hunt bebem de fontes como as suas vastas influências musicais para compor a obra que se encontra em “II”. O segundo álbum do duo formado por Pedro Chau, dos The Parkinsons, e Pedro Oliveira, ex-membro dos Monomoy, feito através do baixo do primeiro e dos synths e drum machines do segundo, é bem revelador disso mesmo. “II” soa a um sucessor natural do disco homónimo dos Ghost Hunt, de 2016, num trabalho que vai buscar tanto ao punk como ao synth pop, ou até mesmo, quem sabe, a inspirações como noise. Imperdível.




Beton – Dockside [Pets Recordings, 29 de maio]
As duas faixas transpiram urbanização, basslines sujas, e arpejadores celestiais. O trabalho do artista belga, que apareceu em 2017, já passou pelas editoras K7, Turbo Recordings, Trek U Plan, e mais uma vez pela alemã Pets Recordings. O seu último tema, Directions, esteve presente numa compilação da K7, em 2018. O artista reaparece inesperadamente em 2020, com um EP de breakbeat com uma sonoridade bem atual e contemporânea.




Blanc Motif – Maze [1980, 29 de maio]
Em lançamentos anteriores, embora os portuenses Blanc Motif já pulverizassem a sua música com toques de techno, a dupla aparentava estar especialmente virada para o universo do ambient e drone. Agora, neste primeiro álbum, editado pela 1980, o duo de André Miranda e Rodrigo Ferreira tem o techno mais atmosférico, mental e profundo como certeza, sem deixar de levar a granularidade do seu lado mais ambient até este labirinto. Dizer que este é um álbum repleto de textura talvez ajude a descrevê-lo, mas chamá-lo de viciante é bem mais certeiro.



Felipe Gordon – Júpiter EP [Lost Palms, 29 de maio]
Arrepio na espinhaa e beicinho snob de aprovação normalmente é sinal de que a música é verdadeiramente boa – pelo menos para nós. Foi exatamente isso que sentimos ao ouvir na íntegra este “Jupiter EP”. É que não há uma única faixa que fuja ao house gourmet das melhores castas. Quem diz house, diz funk, soul e jazz também, tal é a riqueza que emana do trabalho mais recente do colombiano. Caro Felipe, se tiver mais disto, mande vir.



Hidden Agenda – Dispatches [Metalheadz, 29 de maio]
24 anos depois de “Dispatches”, dos Hidden Agenda, a Metalheadz felicita-nos com o remaster, em formato digital, para contentar os diggers e as novas gerações que desconhecem tal nome ou release. Este portal transporta-nos diretamente para 1996, quando o drum’n’bass já tinha nome, mas estava ainda em desenvolvimento. As influências do passado – jungle music – e do futuro – techstep – já andavam a rondar o género, e este lançamento é um mesclar disso mesmo.



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