Composições feitas a partir de cerca de duas centenas de discos. O primeiro episódio chama-se “Areias Movediças” e é assinado por Nuno Oliveira e Rita Laranja.

Que a Favela Discos não para já todos sabemos. O que muitos ainda não sabiam é que o coletivo portuense passou o ano de 2022 a realizar um trabalho de investigação e criação à volta do arquivo da Fonoteca Municipal do Porto. O resultado chama-se “Mantra de Retalhos” e chega na forma de podcast.

Mensalmente, este podcast irá mostrar composições sonoras que nasceram a partir da “sobreposição de samples recolhidos de quase duas centenas de discos”, pode ler-se no site da Ágora Porto. O primeiro episódio, “Areias Movediças”, leva-nos “às profundezas do tempo através da música ritualística, religiosa e tradicional, ecos de um templo ancestral que se afunda na areia.”

Nas palavras de Nuno Oliveira, que assinou o primeiro episódio ao lado de Rita Laranja, as composições não têm qualquer tipo de “discriminação estilística e de origem.” Segundo Oliveira, a equipa agarrou em discos tão distintos quanto “concursos de bandas de marcha, recolhas de música tradicional portuguesa e do mundo, música clássica antiga, moderna e contemporânea, discos do Tony Carreira e discursos e poemas do Papa João Paulo II.”

“Do mais pop ao mais abstrato”, pode ler-se ainda no mesmo site, os oito episódios “colocam em confronto as diferentes realidades das gravações, criando jogos entre instrumentos, vozes, timbres e signos, que são coisas mais gerais à música, e também juntando-lhes uma camada de jogos de tempo, degradação, tecnologia, política, e simbologia, inerentes a este processo de remistura de pedaços de arquivo.”

Esta não é a primeira vez que a Favela Discos conta com os seus membros e amigos para trabalhar tendo o Porto como base. Em 2020, a compilação “In Trux We Pux” teve apoio da Câmara Municipal da cidade, no âmbito do programa Criatório, e “registou e expôs uma série de correntes sonoras e de práticas colaborativas que se tem desenvolvido nos últimos anos na cidade”.

“Areias Movediças” pode ser encontrado no SoundCloud ou no site oficial, sendo que ambos os sítios incluem também outros podcasts da Fonoteca Municipal do Porto. Para este episódio inaugural, trabalharam-se discos que vão desde o Grupo Universitário de Câmara de Compostela a Georges Albouze.

Fotografia por Renato Cruz Santos