AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Artigo

Guia para dançar (e não só) nesta edição de Mucho Flow

30 Outubro, 2024 - 17:58

Alguns dos nomes de música de dança em destaque neste Mucho Flow. E outros tantos.

A edição de 2024 de Mucho Flow está aí à porta. O festival acontece desta quinta-feira 31 até sábado 2, com música até mais não – muita dela em estreia no país – nos espaços Centro Cultural Vila Flor, Teatro Jordão e Teatro São Mamede.

A experiência não se fica pelos concertos ou DJ sets. Sendo um festival que acontece em diferentes espaços, o Mucho Flow permite conhecer a riqueza da cidade, incluindo tascos como o Tio Júlio, considerado por muitos como paragem obrigatória.

Este ano, há ainda três conversas alinhadas para o Centro Internacional das Artes José de Guimarães, com os temas “Políticas Noturnas”, “Ecologia Tecnologia” e “Mutações Culturais”, como podes recordar nos horários para o Mucho Flow.

Conhece alguns dos nossos destaques de eletrónica de dança (e não só, na verdade) para esta edição abaixo.

Quinta-feira, 31 de outubro

O nosso destaque de quinta-feira passa por um ato nacional de eletrónica. Não é para dançar com o corpo, mas para viajar com a mente. Rita Silva é um nome forte da nossa cena e tem chamado a atenção com o trabalho que desenvolve com sintetizadores modulares, como se verifica em “The Inflationary Epoch”, um dos nossos favoritos de 2022. A artista tem também um novo single, wytai, que integra o trabalho mais pessoal até à data, a sair nos próximos tempos pela Revolve. Razões não faltam para abrir o Mucho Flow com chave de ouro.

Mais dançável, a amálgama eletrónica do trio britânico Ebbb merece toda a atenção, este que tem em “All At Once”, EP editado este ano pela Ninja Tune, uma boa amostra do que esperar. Em estreia nacional, sucede-se a dupla sul-coreana Hypnosis Therapy, com o vertiginoso mundo marcado por punk, hip-hop e tanto mais, antes de a noite fechar com Bassvictim, duo que bebe de fontes díspares, como música bass e darkwave, para hidratar ouvidos com a sua própria fórmula.

Sexta-feira, 1 de novembro

Sexta-feira e sábado ficam marcados pelo habitual fecho clubbing no Teatro São Mamede. A 1 de novembro, essa pista conta com a estreia de Alex Wilcox no país às 2h, norte-americano baseado em Berlim que tem muito para nos dar – na pista e em casa, com lançamentos editados por selos como Mama Told Ya, de Anetha, ou bbbbbb recors, de Bjarki. Dele, podemos esperar o que esses carimbos anteveem e muito mais: techno do mais ao menos duro, energia footwork, apontamentos house. Tudo que bem lhe apetecer, no fundo.

Às 3h30, hora de Crystallmess. A francesa tem alguns trabalhos lançados, como um split com Toxe editado pela PAN, mas é como DJ que se destaca. Uma passagem pelos seus sets e podemos perceber que é daquelas que não tem quaisquer medos de explorar diferentes vias na cabine – ouça-se o mix que assinou para a FACT, por exemplo, que tanto vai ao footwork e juke de DJ Rashad como a Lil Wayne ou referências como Nkisi e Objekt. Festa mais do que garantida.

Para rematar a noite, nada mais nada menos do que Violet, um dos nossos destaques, ou não fosse ela um dos grandes porta-estandartes da música de dança em Portugal. O trabalho que desenvolve em plataformas como Rádio Quântica, festas como mina ou espaços como Planeta Manas já dizem tudo. Na música, é igualmente caso sério. Apesar de podermos falar sobre discos como “Transparências”, aqui olhamos para a sua faceta de DJ – e essa é irrepreensível. Tal como Crystallmess, também Violet dá de tudo e mais alguma nos seus sets, sempre com mestria e cuidado. Ou melhor, dá-nos tudo que é bom para as exigências da pista.

Antes disso, a partir das 17h, há muito mais para ver e ouvir em Guimarães. A estreia do rapper Jawnino, que tem no primeiro álbum “40” um bom exemplo dos diferentes géneros por onde paira, é especialmente notória para quem gosta de explorações eletrónicas, mas não esqueçamos FRANKIE, Nadah El Shazly, Anastasia Coope, Still House Plants e Mabe Fratti.

Sábado, 2 de novembro

Embora nem tudo seja para dançar, nada é dispensável no Mucho Flow. O último dia começa com a habitual conversa no CIAJG e segue para o auditório do Teatro Jordão, por onde passam Bianca Scout e a estreia nacional de Clarissa Connelly. Depois, nas galerias desse espaço, há, por esta ordem, PAPAYA, UNIVERSITY, outra estreia em solo português aguardada por muitos, e Angry Blackmen, dupla de rap experimental de Chicago que é inevitavelmente um dos destaques destes dias em Guimarães.

No Centro Cultural de Vila Flor, dois projetos de eletrónica certamente esperados por muita gente em Guimarães. Primeiro, 33EMYBW, com a desconstrução marcada por raízes chinesas ou música de clube que leva constantemente até à SVBKVLT, neste caso acompanhada por Joey Holder para um espetáculo audiovisual que a organização descreve como um “verdadeiro assalto sensorial.” Depois, também pela primeira vez por cá, Snow Strippers, duo de Detroit imperdível para os saudosistas de movimentos como electroclash e witch house. Na verdade, os dois atos são a não perder, dado o contexto e raridade que representam.

Para dançar no Teatro São Mamede, mais nomes para nos fazer suar até à última faixa. Vinda da efervescente cena da América Latina até Espanha, desde onde tem viajado para clubes como Panorama Bar, Toccororo representa bem o que se pode esperar de muitos dos DJs neste festival: ecletismo, sim, essa palavra tantas vezes mal aplicada. Mas é verdade. Aqui, podem contar com ritmos e malhas vindas de todos os cantos: dos Estados Unidos (jersey club) ao Brasil (funk), a passar por Venezuela (raptor house) e quem sabe Península Ibérica (já que o tribal também costuma fazer parte dos sets), muitas vezes com temas pop pelo meio. Preparem as pernas.

E se é preciso preparação física para Toccororo, imagine-se para Gabber Eleganza. O nome já diz tudo, não é verdade? Mas não se preocupem: pode haver gabber, mas há mais. Aliás, sets recentes mostram que toca nomes como Aphex Twin, Forest Drive West ou Two Shell. Mostram progressão desde techno mais deep ou música bass até momentos mais hardcore. Ou tudo misturado. É boa onda, garantimos, e sem adornos exagerados. Vai valer.

Para o encerramento, o residente DJ Lynce (na fotografia). O que dizer? É um dos grandes DJs que temos a norte e no país, habitual em pistas como Passos Manuel e outras tantas, sempre com discos que tanto nos podem levar ao breakcore mais obscuro como a Black Sabbath (recordamos o fecho do Café au Lait, neste caso). A questão é que este remate vai ser feito em modo live, formato altamente elogiado na edição passada que há de andar por caminhos acid, jungle e acima de tudo festivos. Mal podemos esperar.

Fotografia por Jorge Nicolau

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