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Época de festivais cancelada: quais os artistas que vamos perder?

15 Maio, 2020 - 15:23

Daniel Duque e Rui Castro falam sobre alguns dos nomes que não vamos poder ouvir este verão.

Até se conhecerem as implicações provocadas pelo novo coronavírus, havia uma certa ideia de que 2020 seria um ano em cheio para os festivais. Um exemplo é o Basilar, que nunca chegou a anunciar a sua primeira edição, mas que estávamos ansiosos por conhecer. Apesar de a organização não revelar nenhum pormenor oficialmente, deixou algumas pistas espalhadas pelas redes sociais: “uma experiência de rave íntima no norte de Portugal”, em Montalegre, marcada para a segunda semana de setembro.

Mais a oeste, Viana do Castelo iria receber a 15ª edição do Neopop. Até à data em que foi anunciado o reagendamento para 2021, havia apenas algumas novidades. Queríamos ouvir os Cobblestone Jazz, trio de Mathew Jonson que atuaria novamente ao vivo pelo Forte de Santiago da Barra, onde escutaríamos a sua típica improvisação jazz com toques de eletrónica. Outro nome pelo qual aguardávamos era o live act dos italianos 999999999, que prometiam muita fúria de acid techno, assim como a compatriota Adiel, que tem chamado muito a atenção nos últimos tempos. Dax J e Ricardo Villalobos, cada um ao seu estilo, iriam também estar de volta à cidade vianense, bem como Dr. Rubinstein, FJAAK, Héctor Oaks ou Paula Temple. Entre as revelações estavam ainda, entre outros, os Modeselektor (live) e a Hessle Audio, que levaria consigo Ben UFO, Pangaea e Pearson Sound, num festival que nos tem habituado a atos cabeça-de-cartaz como Moderat, Kraftwerk, St. Germain e Underworld – e nunca chegámos a saber se haveria um ato assim para 2020.

Ricardo Villalobos regressaria este ano a Viana do Castelo

Também preparado para celebrar a sua 15ª edição estava o Sound Waves, festival aveirense que acontece na Praia de Esmoriz. Este ano, o cartaz parecia evidenciar uma certa mudança no rumo que a curadoria tem vindo a tomar nas edições anteriores. Por Aveiro, estariam nomes normalmente associados a este evento, como Marco Faraone e Monika Kruse, mas também atos um pouco distintos do habitual, como é caso do hipnotismo acid dos Boston 168 (em formato live). E por entre nomes como Antigone, Cristian Varela b2b Marco Bailey e Marcel Dettmann, queríamos muito ouvir a atuação ao vivo do monstruoso Luke Slater enquanto Planetary Assault Systems, importante projeto techno que no ano passado lançou dois incríveis trabalhos: “Straight Shooting” e “Plantae”, pela sua Mote-Evolver e pela Ostgut Ton, respetivamente.

Na capital, além do Brunch Electronik, que não revelou nenhum plano ou confirmação para 2020, estávamos a contar com a sétima edição de Lisb-On Jardim Sonoro. O festival lisboeta decorre no Parque Eduardo VII, por onde já passaram importantes nomes da música, como Tony Allen em 2017 – o falecido baterista iria estar de volta este ano, ao lado de Jeff Mills, naquele que seria o regresso da dupla a Portugal. Jeff Mills, a solo, era uma das confirmações e, como é bem sabido, o veterano de Detroit nunca desilude. Mais ainda, além de estarmos algo ansiosos por conhecer o cartaz completo, queríamos ouvir o trio Body & Soul, formado pelos experientes Danny Krivit, François K e Joe Claussell, o concerto do londrino Kamaal Williams e a lição de electro e techno de Convextion (aka E.R.P.). Para o festival estavam também confirmados Nicolas Lutz, Peggy Gou, Magazino, Pedro Ricciardi, Silvestre e Zenner, mas não deixa de ser possível que tenhamos oportunidade de os apanhar em 2021.

Pelo Crato, o Waking Life receberia os alemães Bohren & der Club of Gore, que provavelmente iriam apresentar o novo álbum “Patchouli Blue”, no qual voltam a aliar sonoridades dark ambient a jazz. Este é um evento pelo qual aguardávamos com expectativa – afinal, é dotado de uma curadoria bem variada e certeira, basta olhar para algumas das confirmações conhecidas até à data do cancelamento, como Ceephax Acid Crew, Hieroglyphic Being e Norberto Lobo. E como se não bastasse, também eventos como Boom, Elétrico e Fora de Tempo foram obrigados a alterar os planos que tinham para este ano.

Mas não foram só estes festivais de nicho, dedicados à eletrónica, que tiveram uma aposta forte neste género nas programações para 2020. Alguns dos festivais generalistas – NOS Alive, Vodafone Paredes de Coura e NOS Primavera Sound – voltaram a reforçar o seu espólio de estrelas com nomes ecléticos do underground internacional, que poderiam perfeitamente ser incluídos – com lugar de relevo, diga-se – em qualquer um dos festivais acima mencionados.

Eris Drew b2b Octo Octa era um dos atos que aguardávamos com mais expectativa (fotografia retirada do Facebook)

Parov Stelar, nome de quem Paulo Portas é admirador confesso, subiria ao palco Sagres do NOS Alive, no dia 9 de julho, para nos brindar com o seu electro swing característico, de fusões jazz, house, electro e breakbeat. Parece que teremos de esperar por melhores dias para assistir à reprodução do seu recente triplo-álbum, “Voodoo Sonic The Trilogy”, com a pujança merecida que este imprime nas atuações com a sua banda. Outro dos nomes sonantes a figurar no Passeio Marítimo de Algés seria Caribou. Após um hiato de cinco anos, o canadiano viria apresentar o sucessor do aclamadíssimo “Our Love”, intitulado “Home”, e partilharia protagonismo com nomes como Billie Eilish, Faith No More ou Anderson Paak.

A norte, a seleção eclética na eletrónica do NOS Primavera Sound, a quem fizemos referência no ano passado, voltava a não desiludir e eram muitos os artistas cuja curiosidade em ver ao vivo terá de ser retida. Josey Rebelle viria representar o melhor que o multiculturalismo do Reino Unido tem para oferecer, com uma fusão de estilos destemida e uma perícia de mistura digna de poucos. Estávamos sem expectativas, dado à ampla abrangência sonora que carrega e à imprevisibilidade que isso acarreta, mas de coração aberto para a receber. Também no Parque da Cidade do Porto residiria um dos b2b mais promissores da época festivaleira nacional. Como se a mestria de Octo Octa – que já lhe valeu convites para a série “The Art Of Djing” da Resident Advisor – não fosse suficiente para nos empolgar, a cumplicidade que tem, dentro e fora dos decks, com a experiente Eris Drew, e a escuta de alguns dos sets que ambas têm em conjunto, dar-nos-iam certezas suficientes de uma atuação memorável. Já Special Request prometia transformar o festival numa autêntica rave onde seriamos assolados pela atitude irreverente da sua música assente nas raízes do hardcore, breakbeat e jungle.

Isto, obviamente, sem descurar nomes como Avalon Emerson, Aurora Halal, D Tiffany e Park Hye Jin, que também marcaria presença noutro festival ainda mais a norte – o Vodafone Paredes de Coura. A sul-coreana viria representar o emergente k-house, onde a mistura de house com hip-hop e ainda os seus próprios vocais relembrar-nos-iam da atuação estrondosa da sua conterrânea, e maior embaixadora do género, Yaeji, em 2019. Outro dos nomes presentes no “habitat natural da música” seria Mall Grab, australiano que considera que a música de dança deve ser para curtir, sem se levar muito a sério – a deambulação constante entre o lo-fi, electro, breakbeat e afins são prova disso mesmo. Embora aprovemos a veracidade deste pensamento, não deixamos de sentir uma certa desilusão por perder a atuação imprevisível e sempre excitante de um dos pesos pesados da eletrónica da Oceânia – e também de confirmações como Antal e Floating Points, claro. Mas provavelmente o nome mais sonante a perder na eletrónica de Paredes de Coura serão os Soulwax. Os belgas por trás do duo 2manydjs regressam às origens com a sua banda de rock eletrónico, cuja sonoridade híbrida assentaria na perfeição na estética e mística deste festival, à semelhança do que bandas como LCD Soundsystem, Death From Above 1979 ou Hot Chip fizeram no passado.

Vemo-nos em 2021? Ou quem sabe a partir de outubro.

Fotografia de capa por Rúben José, Ricardo Villalobos por André Teixeira

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