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A Cabine

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Lançamentos favoritos de setembro

7 Outubro, 2020 - 14:24

Agora com o outono como pano de fundo, chegou a altura de recordar a banda-sonora que marcou o nosso mês de setembro.

4TGANG – Nasty Shit EP [Human Disease Network, 4 de setembro]
Ora cá está uma bela viagem pela pluralidade rítmica de raízes britânicas. E o nome assenta que nem uma luva. “Nasty Shit” conta com um misto de UK garage, bass, breakbeats e claras influências de artistas como Machinedrum ou Addison Groove. Se não quiserem ouvi-lo na íntegra, espreitem só o UK garage progressista, de tonalidades e vocais etéreos, de Make It, e a percussão invulgarmente frenética de Bossa Percussia. Mas avisamos que depois destas, a audição das restantes faixas é praticamente obrigatória.



Blacksea Não Maya – Máquina de Vénus [Príncipe, 4 de setembro]
Fosse lançado um desafio para adivinhar a sonoridade de “Máquina de Vénus” antes de o ouvir, o mais provável seria que as respostas não estivessem assim tão perto da realidade. As influências africanas de géneros como kuduro continuam lá, mas basta apertar o play para ouvir um universo obscuro que vai além do que normalmente se esperaria deste trio – no caso da faixa de abertura, por exemplo, ouve-se uma inspiração techno, daquele que queima devagar. Com seis faixas de DJ Kolt, uma de DJ Perigoso e outra de DJ Noronha, “Máquina de Vénus” é o mais recente e imperdível ex-líbris da revolução sónica que tanto se escuta em lançamentos da Príncipe.



Demuja – Now You Know [Independente, 4 de setembro]
Haverá algum nome na eletrónica mais subestimado que Demuja? Talvez, mas este é sem dúvida um dos produtores mais exímios, polivalentes e despercebidos da contemporaneidade eletrónica (passou pelo Vira Pop em 2018, e poucos de nós demos por isso). Depois de autênticos clássicos, o austríaco debita quatro faixas distintas que catapultam este lançamento como um dos melhores do seu espólio. Há jungle clássico desenterrado dos 90, UK garage aditivo, e a boa vibe funky de Nights Out, cujo sorriso e ginga na anca são impossíveis de disfarçar. Mais disto, meu caro, mais disto.



Pessimist – Atyeo [Ilian Tape, 4 de setembro]
O artista residente em Bristol lançou este incrível EP de quatro faixas na Ilian Tape, um trabalho onde são preservadas as raízes inglesas da dance music – jungle, drum’n’bass ou hardcore. Uma fusão de estilos interligados por influências, elementos rítmicos e sonoros, basslines gordas, ambientes bem dark e ritmos que, ainda que lentos, nos estampam as feições do drum’n’bass na cara.



Sheri Vari – Flagrante Delírio [Percebes, 4 de setembro]
Primeiro trouxe o despertar e, em setembro, Sheri Vari desenhou mais uma travessia pela mente humana com um traçado único de “funk introspetivo e arrojado”. As cores vibram ao som da velha guarda nestas quatro faixas embebidas em vocals, synths e teclas, aquecidas pelo analógico e batidas clássicas. Com contributos de Javonntte e Daino, a DJ covilhanense apresenta um paradoxo bem imerso nas profundezas do house, numa quimera que parece trazer-nos simultaneamente de volta à tona. Como que um desafio, “Flagrante Delírio” carrega intemporalidade e ousadia consigo. E sabe a mel.



Tricky – Fall To Pieces [False Idols, 4 de setembro]
O novo álbum de Tricky, depois do seu EP “20,20”, ainda este ano, abraça-nos com o seu lado mais melancólico. “Fall To Pieces” é um disco que viaja por entre influências downtempo, trip-hop, ambient e não só, com tendências e sensações escuras, mas delicadas, que fazem deste álbum uma bela adição para o currículo do fundador dos Massive Attack. Com Marta a dar voz à maioria dos temas, esta é daquelas bandas sonoras perfeitas para dias de chuva e viagens de metro – ou simplesmente para estar em casa de olhos fechados.



Nikdo – After The Trip [MicCult Records, 14 de setembro]
Mais uma entrada nova no nosso radar de scouting que nos deixou as antenas auditivas em alerta. “After The Trip” surgiu de socapa num digging de SoundCloud aleatório e foi impossível ficar indiferente ao dub techno subtil da faixa homónima. A partir daí partimos à descoberta do restante EP e não ficamos desiludidos, apesar do registo ser bastante homogéneo entre todas as faixas. Mas é como um restaurante que tem apenas três opções no menu: se são a sua especialidade, não vale a pena mudar.



Vários Artistas – Unk Planet V.A. 001 [Unk Planet, 14 de setembro]
É raro gostar-se de todas as faixas num VA. Mas neste primeiro lançamento da Unk Planet, é cada tiro cada melro. Com artistas como Constratti, Lefthook ou Tescu, o microhouse, o deep e o minimal vêm certificados com selo de qualidade dos seus autores. Motivos mais do que suficientes para estarmos atentos ao que o futuro desta nova editora argentina nos reserva.



Lewis Fautzi – State Of Pressure [Soma Records, 18 de setembro]
O produtor português volta à editora dos Slam naquele que é um EP de quatro faixas onde Nørbak e Temudo têm também o seu lugar para as remisturas dos temas State Of Pressure e Epidemic Of Wellness, respetivamente. Lewis Fautzi, que este ano passou por labels como Granulart, Mord ou a sua própria Faut Section, mostra aqui um EP repleto de mecanismos e de energia, num trabalho que, além da versão digital, está disponível em vinil de 12’’.



Vários Artistas – Breaks ‘N’ Pieces Vol. 1 [Breaks ‘N’ Pieces, 21 de setembro]
Em Portugal nunca foi uma moda, ou uma tendência que “batesse” nos circuitos habituais, mas já ouvimos falar de que há quem sinta saudades de ouvir UK Garage na pista de dança. Como tal escolhemos este V.A recheado de boa disposição e energia. Alguns dos nomes aqui são novos na música eletrónica, mas, por exemplo, Eliphino é conhecido e bem conceituado no meio. Como se lê nas descrições por aí fora, é “proper heavy UKG, breakbeat, bass & club fodder”.



Earl Grey – French Exit [Interspective Records, 25 de setembro]
Os oldheads do jungle e drum’n’bass com certeza conhecem a enigmática faixa The Lick, mas, definitivamente, não estavam à espera que o produtor de Manchester voltasse nesta roupagem complexa, clean e tão “à frente”. Um comeback destes merece lugar na lista dos melhores do mês e, quem sabe, nos melhores do ano. A musicalidade rítmica e atmosférica neste lançamento é mágica e hipnotizante. Apaixonados por ritmos, ambientes frescos e subs avassaladores, podem-nos agradecer mais tarde. Um trabalho fabuloso que deve ser ouvido e partilhado.



Harrison BDP – Sound Expansion Meditation [Shall Not Fade, 25 de setembro]
Harrison BDP. Podíamos proferir apenas isto, que o nome já é sinonimo de gourmet auditivo, mas achamos melhor descrever o paladar que o seu mais recente trabalho nos transmite. Do house pleno em groove que o caracteriza, ora uplifting ora deep, passando por um electro espacial ou um house resgatado dos 90, o menu é suficientemente diversificado para que a Shall Not Fade o incorpore no seu cardápio repleto de estrelas Michelin.



Hangloser – Olaias Chicane [Mera, 28 de setembro]
Liguem os motores: a estrada faz-se longa e tumultuosa. “Olaias Chicane” é o mais recente passeio de Hangloser por rotas iluminadas à luz da lua e dos faróis. Banda-sonora irreprovável da azáfama das corridas de carro noturnas, o mais recente EP de José Quintino veio dar seguimento à trajetória de “Proposition 1231”, num registo que sonda o industrial incisivo, feroz e intrépido. Com toques de breakbeat e techno, a segunda parte deste caminho quer explorar a “relação etérea entre a máquina e o ambiente” numa abordagem impetuosa e “tudo menos pacífica”.



Vários Artistas – Ghosts Don’t Sail These Shores [Weathervane Records, 29 de setembro]
O quarto lançamento do catálogo da Weathervane Records revela-se como uma excelente companhia para qualquer fã de música ambient. “Ghosts Don’t Sail These Shores” caminha por diferentes subgéneros deste estilo ao longo de mais de uma hora, juntando promessas portuguesas (o patrão Oströl, Vasco Completo ou UNITEDSTATESOF) a nomes mais experientes (como Augen ou Moreno Ácido) e, ainda, a uma série de produtores internacionais. Em poucas palavras, a Weathervane, que começou como uma espécie de arquivo para produtores em quarentena, é possivelmente um dos melhores frutos da pandemia, e esta compilação é prova disso mesmo.

Textos por Carina Fernandes, Daniel Duque, João Freitas e Rui Castro

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