AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Artigo

O’clock: a nova vida da promotora que se transformou num coletivo

1 Julho, 2020 - 14:46

Agora coletivo e editora, a portuense O’clock tem o primeiro lançamento marcado para este fim de semana, altura em que acontece também um evento de apresentação.

Todos os anos vemos nascer projetos e coletivos no panorama de música eletrónica. Frequentemente, no entanto, muitos dissipam sem deixar rasto. Não lhes é dado espaço no circuito português, resultando numa clara desmotivação daqueles que fazem esforços por levar a sua arte e paixão a mais gente. No caso da O’clock, o agora coletivo e label portuense parece estar mais motivado do que nunca.

Quase por acaso, tudo começou no ano passado quando Telmo Moranguinho, que assina como TM, foi convidado para um sunset onde acabou por ficar responsável por todo o evento. “Como na altura era um novato na cena, e ainda sou, achei demasiado presunçoso assumir a cabine durante a tarde toda”, explica-nos o DJ portuense. Foi por isso que, para esse evento, decidiu convidar Ferro, que “acabou por batizar involuntariamente o nome do projeto”.

Desde início, Telmo Moranguinho quis “organizar eventos que elevassem a cultura local, o talento jovem, não almejando line-ups de artistas que já todos conhecemos”, mas antes “line-ups novos para o ouvido e olho mais atento no Porto”. Nos primeiros oito meses, a O’clock esteve responsável por cinco eventos – dois no Rooftop Sta. Catarina, três no Porto-Rio. Sempre com a máxima de ter “local heroes” – “que nos ajudam com a sua visão mais sapiente sobre o movimento que devemos aprender e absorver” – foi no barco portuense que “tudo começou a ganhar um contexto com uma vertente mais fiel ao techno”.

À entrada dos seus eventos, a mensagem da O’clock é bem clara

Questionado sobre os grandes objetivos e valores do projeto, TM voltou a refletir sobre a importância de “procurar o que se faz a nível regional, a cultura local de música eletrónica”. A O’clock quer “proporcionar momentos de intimidade, união, igualdade, compaixão” – no fundo, verdadeiros momentos rave – tendo sempre uma grande premissa por trás: “colocar toda a gente num patamar de igualdade, de educação social, sem registos fotográficos onde as pessoas se sentem confortáveis”. “Desligar de tudo o resto”, remata ainda.

O período de pandemia que se tem atravessado revelou-se frutífero para muitos projetos. Para a O’clock não foi exceção, como nos conta TM: “aproveitei esta pausa para repensar o futuro [do projeto] pois sempre tive outras ideias que gosto de pensar, partilhar e discutir com pessoas próximas”. O jovem acredita que “naturalmente, mais tarde ou mais cedo”, a atividade de organizadora de eventos teria de expandir. E foi esse mesmo o caminho dos portuenses: agora, a promotora atua também como coletivo e editora.

Entre outros novos membros, Morrice é uma das novas certezas do coletivo, ele que agora divide responsabilidades com Telmo Moranguinho no projeto. O DJ e produtor, também conhecido por Fauvrelle, regressou a este alias em 2019, precisamente numa festa da O’clock. Em conversa com TM, “reviu certos ideais” neste trabalho, “assim como uma visão musical semelhante”, algo que “originou o arranque desta colaboração”, refere o veterano portuense que “ficou rendido à ideia”.

Esta motivação de Morrice deve-se também a outros fatores, como o coletivo “ser um misto de estilos, idades e localidades”, dar “oportunidades para os mais jovens ou menos conhecidos” e, ainda, poder “oferecer mais união na cultura”. Enquanto membro mais experiente, Carlos Fauvrelle acredita que “pode ser a ponte entre ideias e resultados” – “isto tudo sem nunca perder a visão” pois, geralmente, “são os mais jovens que quebram barreiras e avançam para novas etapas”.

Conforme desvenda Morrice, o momento que estamos a viver serve para “pensar no impacto” que a O’clock pode ter nos produtores musicais do coletivo. “No futuro”, gostariam “de ver um Porto mais urbano, menos restringente em algumas regras impostas pela cidade, assim como um maior apoio ao movimento nacional”. Afinal, “estamos a viver uma era dourada na produção techno portuguesa e seria bom ver os clubes ou eventos cheios, com valor nacional, não existindo grande necessidade em apostas todos os fins de semana em artistas internacionais”.

E uma vez que os dois membros estão cientes da qualidade que existe na eletrónica em Portugal, o primeiro trabalho do catálogo da O’clock servirá também para provar isso mesmo e, acima de tudo, para mostrar aquilo que os membros do coletivo fazem. Com “liberdade total”, os artistas convidados assinam um lançamento “bastante plural”, diz TM. “A Timeless Feeling” está disponível a partir do próximo dia 4 de julho no Bandcamp e inclui faixas de Backbone e dos membros 808BULLY, BRNCHS, Ferro, ITSRØBBEN, Maria Callapez, Morrice, Morsil, QUIZAK, SLNC e TM.

Em jeito de apresentação deste primeiro lançamento, e de comemoração do primeiro aniversário e desta nova fase, a O’clock organiza um evento online este fim de semana, nos dias 4 e 5 de julho. A Rádio Breca é o parceiro de media oficial e pode ser tudo visto através do Facebook.

Fotografias cedidas pelos portuenses

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