AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Entrevista, Lançamento

SHANGE sobre novo single: “Tentei fazer algo que soasse diferente de tudo aquilo que já criei”

22 Maio, 2020 - 12:53

Estivemos à conversa com SHANGE, músico e produtor que lançou HEADSPACE esta sexta-feira.

O multi-instrumentista Gonçalo Lemos é professor de música e, ao longo do seu percurso, já tocou em bandas de rock e metal e atuou como baterista em concertos de Blind Zero e até de Pedro Abrunhosa. Nos últimos tempos, o aveirense tem-se aventurado pela eletrónica com o seu novo projeto, SHANGE.

O novo single, HEADSPACE, sucede EMBRYO, lançado em janeiro. Mais uma vez, Lemos revela um gosto especial por sonoridades IDM (e não só), como, aliás, explica nesta entrevista, onde fala sobre uma série de tópicos, incluindo a ideia por trás deste tema e do seu pseudónimo, o seu percurso musical e planos para o futuro.

Editado esta sexta-feira pela Chilli Pepper Fields Records, HEADSPACE está disponível no YouTube, num vídeo feito por Maria Mendes, e nas plataformas Apple Music, SoundCloud e Spotify.

Este novo HEADSPACE é muito interessante. Gostava que me falasses um pouco sobre este single, por exemplo da concepção que está por trás do tema.
Este tema surge numa fase em que eu andava a experimentar outras plataformas para criar música, nomeadamente num smartphone onde instalei imensas aplicações e synths virtuais. Eu andava muito de comboio há um ano, e nessas viagens e ocasiões de tempo “morto” surgiram imensas ideias, melodias e beats. Algumas não aproveitei mas muitas delas foram a base para as minhas músicas, incluindo a HEADSPACE. Foi um dos primeiros temas que compus, e em que realmente tentei fazer algo que soasse diferente de tudo aquilo que já criei.

As ligações a mundos como o do IDM parecem óbvias – como é que tu descreves a música de SHANGE?
No último ano e meio, comecei a ouvir e apreciar a música eletrónica de outra forma; é dos universos musicais mais abrangentes em termos de influências e sonoridades diferentes, e é tão vasto que acho que qualquer pessoa pode encontrar géneros ou até faixas com as quais se vai identificar. Alguns dos grandes nomes associados ao IDM como Floating Points, Boards of Canada e Four Tet são sem dúvida influências muito presentes no que tenho composto e produzido atualmente. Mas não só claro, géneros como o techno, ambient, breakbeat também têm muitos artistas que me têm inspirado e dominado a minha playlist pessoal nos últimos tempos.

E o que é que te inspira?
Sobretudo alguns dos artistas e géneros que mencionei. Também acho que as coisas que acontecem à nossa volta e a nós próprios acabam por ser fontes de inspiração das quais não podemos escapar. Mas posso dizer que uma das experiências que me levaram a começar este projeto foi sem dúvida o concerto A/V do Objekt no Primavera Sound 2019 em Barcelona, juntamente com o Ezra Miller, um artista visual incrível. Tocaram na íntegra o último álbum dele, o “Cocoon Crush”, talvez o disco de música eletrónica que mais me inspirou desde que comecei a entrar neste mundo, portanto foi mesmo uma experiência única. Acho que fazer algo dessa dimensão artística é uma das minhas maiores ambições neste momento.

Depois de EMBRYO, este HEADSPACE é o segundo single que assinas enquanto SHANGE. Podemos esperar por ouvir estes temas em algum lançamento?
Sinceramente, não sei responder muito bem a esta pergunta; quando tudo isto surgiu tinha a ideia de talvez fazer um registo longa-duração, um álbum ou um EP. Mas comecei a gostar da ideia de trabalhar música a música e ir lançando singles que acabam por refletir o que tenho andado a fazer e a ouvir num determinado período de tempo. Não riscando completamente essa hipótese, acho para já pouco provável estes temas figurarem noutra release.

Como surgiu o convite da Chilli Pepper Fields Records? É por esta editora que irás continuar a lançar música?
O Victor Butuc, músico, promotor e grande amigo meu convidou-me para eu tocar numa das festas que ele organiza na sede da Chilli. Praticamente ainda sem músicas feitas, montei uma performance em alguns dias com um iPad e um smartphone. Quem lá estava gostou muito do concerto e isso encorajou-me a continuar a criar. Alguns meses mais tarde a editora é fundada, e naturalmente fiquei muito entusiasmado e motivado pelo convite para fazer parte deste coletivo. Sendo assim, esperem ver os futuros lançamentos através da Chilli Pepper Fields, sem dúvida.

Porquê SHANGE? Quer este pseudónimo simbolizar alguma mudança na tua aventura pela música?
Bem, o pseudónimo resulta de uma conjugação de vários fatores; eu gostava da ideia do projeto ter um nome com uma palavra apenas, e ainda mais que essa palavra não fosse apenas um substantivo, verbo ou adjetivo qualquer, que fosse única na verdade. E como estava de certa forma a mudar o meu percurso na música até então, a palavra “change” foi-me ficando na cabeça durante algum tempo. Depois surgiu-me a ideia de alterar a primeira letra da palavra e gostei do resultado, tanto fonético como escrito. E após alguma pesquisa, vim a saber que era um apelido de uma escritora americana e lutadora pelos direitos fundamentais das mulheres e da população afro-americana no século XX, Ntozake Shange. A mudança da própria palavra “mudança”, e a associação deste apelido a uma figura de causas nobres acabaram por ser os fatores mais importantes para confirmar a escolha deste nome, sem dúvida.

Sei que és um melómano que, além de professor de música, tem estado envolvido em vários projetos musicais. Podes falar um pouco sobre este teu percurso?
A música faz parte de mim desde muito cedo, começando por ouvir os discos do meu pai em criança, carregados de música boa como Genesis, Yes, Herbie Hancock, Billy Cobham entre tantos outros, depois por tocar bateria e guitarra em bandas de metal e de rock durante a minha adolescência, até às aulas de instrumento que dou hoje em dia. Fazer parte de projetos tão variados como os Monolyth, Fadomorse, Enes e muitos outros, e ter tido experiências enriquecedoras no ano passado como ter tocado bateria num concerto do Pedro Abrunhosa, e ter ido à Rússia com os Blind Zero também como baterista, são tudo coisas que contribuíram imenso, não só para a vertente musical mas também (e sobretudo) para a vertente humana.

Em jeito de conclusão, o que podemos esperar de ti durante os próximos tempos?
Por causa do que todos nós estamos a viver, penso que será sobretudo um ano dedicado a refletir, compor e a preparar 2021. Para além deste HEADSPACE, planeio lançar mais música este ano, e estou também a planear um set para ser filmado em registo live, para que as pessoas vejam um pouco do que é um concerto meu e do que esperar ao vivo. Importante também referenciar e agradecer a duas pessoas que me ajudaram muito com este release: o Andrés Malta, músico, produtor e meu brother que fez um trabalho incrível com a mistura e o master; e a Maria Mendes, que fez o vídeo que acompanha esta música e que a complementa com um bom gosto e personalidade únicas.

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