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Reportagem

Legowelt reconstruiu a atmosfera sónica de “Nosferatu: Phantom der Nacht” em Braga

30 Outubro, 2020 - 10:59

O mestre holandês dos sintetizadores reinventou as paisagens sonoras do clássico de Herzog numa atuação ao vivo que teve lugar na ‘Blackbox’ do gnration.

Numa sala escura com a plateia cheia, há dois predadores da noite: um é o Conde Drácula, incarnado por Klaus Kinski, que manipula a peste negra, o seu agente imobiliário e as leis da natureza numa destrutiva sede de amor. O outro é Danny Wolfers, conhecido na música como Legowelt, que acompanhou esta jornada transilvânica com uma variedade de arpejos sintéticos e etéreos.

Uma das maiores virtudes do live act foi o aproveitamento de planos cénicos bastante demorados das paisagens, tanto naturais como urbanas, do filme. Legowelt encontrou nestes “momentos mortos” a oportunidade perfeita para se exprimir artisticamente, aproveitando o silêncio narrativo para criar a sua própria história através da manipulação sónica de um arsenal de sintetizadores de pequeno e médio porte ligados ao Ableton Live, sempre em sintonia com a componente visual apresentada à plateia.

Para complementar o peso atmosférico já muito presente na atuação do artista, o uso generalizado de máscara num local escuro e o destaque dado à peste negra no filme pintaram uma camada de atualidade arrepiante na película de 1979.

Alguns espectadores, mais familiarizados com a sonoridade do artista, destacaram a experiência como “muito diferente de uma performance convencional de Legowelt”, ressalvando contudo que isso não era de todo um aspeto negativo. Outros comentários realçaram a ausência total de percussão e o uso da “arma especial”, um Korg que ocupava um quarto da mesa do artista, mais para o final do filme.

Este formato que conjuga música ao vivo com cinema tem sido mais comum em Portugal, em eventos como as Curtas Vila do Conde dos últimos anos – em 2019, por exemplo, a violoncelista Marta Navarro e o artista sonoro Tiago Cutileiro uniram-se, criando um novo mundo sónico para “O gabinete do Dr. Caligari”, filme mudo de 1920. Também o gnration tem apostado neste modelo, como foi caso dos Mão Morta Redux com o filme “A Casa na Praça Trubnaia”, no início do ano, ou dos Indigo Quintet a musicarem três curtas de Jacques Tati, em outubro.

Já em Braga, foi noite do último filme de uma série de três que Legowelt escolheu para acompanhar com composições originais e criadas para a ocasião, tendo também feito, noutros momentos, acompanhamento para “2001: Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick, e para “Fata Morgana” (1970), também de Werner Herzog. “Nosferatu: Phantom der Nacht” marcou o fim deste terceiro capítulo, que funde cinema com eletrónica, com uma performance tal que se espera que abra portas a mais iniciativas deste género.

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Fotografias por Adriano Ferreira Borges / gnration 2020 (cedidas pela organização)

ERRATA: A reportagem original mencionava que este formato filme-concerto não tem sido muito comum no gnration, mas, na realidade, o espaço bracarense tem apostado em eventos do género.

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