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N’A CABINE #028: Phoebe

31 Agosto, 2020 - 12:21

Phoebe é um dos responsáveis pela Troublemaker Records, mas neste podcast dissolve problemas ao longo de uma hora.

Bruno Trigo é o DJ e produtor por trás de Phoebe, nome com que se apresenta ao público através de lançamentos como o mui sentimental “Affection” ou o festivo “Living On Valued Energy”. O leiriense é ainda um dos patrões da Troublemaker Records, coletivo queer não-branco que Bruno encara como o seu “safe space”.

Mais recentemente, participou nas compilações “Complacent = Complicit”, da Rádio Quântica, “Labanta Braço”, iniciativa solidária do Rimas e Batidas e Raptilário, e, ainda, no VA “RESISTANCE”, da sua própria label.

Aqui, Phoebe assina um episódio em que caminha muito por territórios breakbeat, apesar de pôr também um pé em sonoridades house e techno. Com faixas de Objekt, Joy Overmono ou até de nacionais como Herlander, com o seu viciante grito de guerra don’t get their name out your mouth, este mix apresenta-se como uma bela banda-sonora para qualquer hora do dia.

Para começar, a inevitável pergunta da praxe: quem é Phoebe? Como surgiu este nome?
Ahah! Então o nome Phoebe surge graças à personagem de Liza Kudrow, na série Friends, como Phoebe Buffay. Eu fui um bocado fanático pela série durante a minha adolescência, mas fanático a sério, ao ponto de saber falas de cor (ahah). Apesar da falta de diversidade do show, sempre foi uma boa maneira de me abstrair da vida e ficar só naquele mundo deles, de certa forma imaginava-me sempre a viver em Nova York com xs meus friends.

E ‘opá’, sempre me identifiquei muito com a personagem dela, ela era a mais fun plus, teve uma vida mesmo lixada e acho que ninguém a levava muito a sério no grupo de amigos dela pois eram todos uns meninos privilegiados e achavam que ela era meio “maluca”. E eu, de certa forma, revejo-me nisso.

Quando é que te apaixonaste pelo DJing? E pela produção?
O DJing sempre esteve presente na minha vida desde que me lembro de mim! O meu pai foi DJ durante os anos 90 em Leiria e cresci sempre rodeado de discos, e a ir com ele e com a minha mãe para clubs, por isso acho que era um bocado inevitável não acabar no mesmo path (ahah).

No que diz respeito à produção, acho que foi uma cena um bocado mais gradual, porque também já desde novo usava o virtual DJ e prendia loops de certas músicas e ia gravando, e depois colava esses loops no Audacity e começava a criar as minhas próprias malhas, ainda que de uma maneira rudimentar mas lá me divertia . Daí fui só fazendo aquela evolução de Audacity para Garage Band, para Fruity Loops e depois, lá por volta de 2014, quando me mudei para Hong Kong, comecei a trabalhar com o Ableton intensivamente por não conhecer muita malta ao início. Só a partir daí é que comecei a criar cenas mais “coesas” (achava eu claro).

Consegues falar sobre as grandes influências do teu percurso?
Bem, então acho que a maior parte das minhas influências vêm dos meus pais e das coisas que ouvia com cada um deles no carro. Por exemplo, o meu pai sempre foi um gajo das bandas, então com ele ouvíamos sempre Jesus and Mary Chain, Sonic Youth, Joy Division, Slowdive e The Smiths / Morrissey, enquanto que com a minha mãe a cena mudava de perspetiva. Ela já ouvia Sade, Erykah Badu, Lauryn Hill, Morcheeba e muito, muito house. Por isso, acho que consegui absorver bem as duas vivências e começar a ir buscar as minhas próprias influências, através das tools que me foram dadas, e comecei digging as cenas que curtia. Por exemplo, durante a minha adolescência estava bué drum & bass, garage e jungle, sempre muito inspirado com o que se fazia no UK naquela altura (o meu primeiro projeto de DJ até era só drum ahahah), mas, ao mesmo tempo, também explorava outras sonoridades, tipo Boards Of Canada, Burial ou DJ Rashad. Por isso, acho que todas estas perspetivas de som me ajudaram muito no meu percurso hoje.

Como preparas um set, seja uma atuação ou um podcast?
É assim, eu raramente me preparo para um set e quando me preparo já sei que nada do que fiz em casa vai acontecer na cabine (ahah), mas muito porque todos os meus dias são passados digging música. Por isso, tenho só imensas pens e quando chego para tocar é sempre um bocado random, também porque o meu DJing style é muito diverso, por isso é sempre mais complicado preparar algo.

Fala-nos sobre a Troublemaker Records e sobre a aventura que tens vivido com ela. Passaste recentemente pelo Boiler Room, ainda que a partir de “casa”, e a britânica Wire dedicou recentemente uma peça à Troublemaker. Qual é a sensação de ver o teu trabalho reconhecido além-fronteiras?
A Troublemaker Records é o meu passion project aka a minha vida! É o nosso safe space, é a nossa casa! Tem sido um caminho um bocado atribulado, muito pela simples razão de nós não fazermos ideia daquilo que estamos a fazer. Estamos a aprender à medida que vamos avançando e acho que só tem piada por isso mesmo.

Em relação ao Boiler Room, foi definitivamente um marco na nossa carreira, mas foi apenas um convite dxs nossxs amigxs d Mina, que sempre nos deram a mão e nós estamos eternamente gratxs por isso! Mas não vejo isso como reconhecimento além-fronteiras porque mal somos reconhecidos aqui, e a mesma cena vai para a peça da Wire. Fiquei super feliz porque é uma revista que acompanho há anos, mas também foi um convite feito por uma amiga nossa, a April, que também sempre foi super supportive do nosso trabalho e eu estou eternamente grato a todas estas pessoas que nos tem dado a mão, sem essa ajuda nada tinha acontecido. Mas, ao mesmo tempo, sinto que o nosso trabalho aqui em Portugal é um bocado posto de parte, por essa razão acho que o nosso trabalho lá fora é visto de maneira igual.

Como encaras o atual panorama de música eletrónica em Portugal? E que papel pensas que podes ter na cena, por exemplo através da Troublemaker?
Na minha opinião, estamos a criar uma scene muito forte, especialmente na comunidade queer malta, tipo Odete, Stasya e Trypas Coração. Estão a abrir imensas portas para as younger generations, mas continuo a achar que ainda há uma falta de ajuda no que toca aos clubes darem as devidas oportunidades à comunidade. E não é só dar slots, é mudar toda a estrutura, porque podes ter uma noite queer num club como o Lux, mas depois se os seguranças / staff, clientes e toda a estrutura tem atitudes homofóbicas , racistas e transfóbicas é muito contraprodutivo, pois não cria um safe space para estas comunidades mais marginalizadas. Acho que ainda há muito trabalho pela frente e enquanto continuarmos a fechar os olhos a estes problemas nada vai mudar.

E é aqui que se calhar a Troublemaker entra, no sentido em que vamos continuar a ser vocal e expor os problemas que há na scene, valha isso um “cancelamento” ou não.

E nos próximos tempos, o que podemos esperar de ti?
Bem, por enquanto Phoebe vai estar um bocado em standby até 2021, vou-me focar muito mais no “trabalho de escritório” com a Troublemaker, pois ainda temos muito para aprender e trabalhar enquanto editora. Mas depois em 2021 vamos ter imensas surpresas, seja releases, collabs e merch.

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