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“Chão Vermelho” e o barro sónico de Joana Guerra

13 Novembro, 2020 - 10:23

O quarto álbum de temas originais da compositora, violoncelista, cantora e experimentalista portuguesa tem selo da berlinense Miasmah Recordings.

Joana Guerra, criadora do aclamado “Cavalos Vapor”, lançado em 2016, volta à carga com “Chão Vermelho”. No seu novo lançamento, a artista faz uso da já habitual combinação entre voz e violoncelo, aventurando-se também no campo das guitarras, tanto elétrica como portuguesa, e dos teclados. O disco é, segundo a própria, um “murmúrio ou prece pagã”, com peças que evocam a “iminente possibilidade de regeneração” e de “renovação, como acontece no ciclo menstrual da mulher”.

Mas o percurso pelo micélio escarlate e pelos barros secos da terra que a viu crescer não é um que Guerra tenha feito sozinha, explicando que “à medida que o esqueleto das canções ia surgindo, ficava claro o chamamento para outra instrumentação”. Invocou então o violino de Maria do Mar e os ruídos concretos e percussão de Carlos Godinho para trazer ainda mais cor às áridas planícies sónicas de “Chão Vermelho”. São músicos que a violoncelista “admira imenso”, chamando-os de dotados de “uma sensibilidade estética e um calor humano” com os quais cria muita empatia, tendo já tocado com ambos em várias outras ocasiões e projetos.

Para além da participação dos dois músicos no disco, houve mais gente envolvida na sua criação. A faixa Equinopes conta com as sonoridades “redondas e íntimas” do contrabaixo de Sofia Queiróz Orê-Ibir e com a voz, gravação e mistura de Bernardo Barata. Segundo Guerra, ambos são “bastante experientes na área da improvisação” e dotados de uma “linguagem [musical]” com a qual a artista se identifica, o que permitiu a todos os envolvidos o espaço necessário para “viajar” e propôr novas ideias, para além das linhas de orientação fornecidas. “Chão Vermelho” conta ainda com letras da autoria de June Nash, na faixa Lume, Joana Bértholo e Joana Guerra em Equinopes e Alix Sarrouy em White Animal. A capa do álbum, por sua vez, conta com a fotografia de André Cepeda e com o design artístico de Erik Skodvin.

O universo sónico da artista multidisciplinar deve muita da sua constante expansão às suas colaborações regulares com inúmeros músicos de diferentes géneros, bem como à participação musical em projectos de dança, performance e teatro. Para além das colaborações com coreógrafas como Clara Andermatt, Madalena Victorino e Marina Nabais e com a companhia de teatro João Garcia Miguel, Joana Guerra compôs a banda sonora de “Nos campos em volta”, de João Botelho, e de “Pecera”, de Asur Fuente.

“Chão Vermelho” vem dar continuidade a um legado musical que, apesar de consistente e rigoroso, não teme a exploração de novas ideias e possibilidades, e está disponível em edição digital e vinil no Bandcamp da artista e também através da Miasmah Recordings.

Fotografia por João Duarte

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