AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Entrevista, Lançamento

dpe0: um antídoto para quando está tudo envenenado

18 Janeiro, 2021 - 14:26

É português, mas vive há vários anos em Londres, desde onde editou o seu EP de estreia. Este é Miguel de Melo, ou dpe0, e o seu “Everything, All at Once”.

Londres, 2020. Com o confinamento em vigor e as ruas desertas, dpe0 (ou “don’t poison everything”) virou toda a atenção para o EP de estreia que lançou este mês. Revelador do lado mais experimental de Miguel de Melo, “Everything, All at Once” contrasta os seus primeiros singles, marcados por um “sentido de escapismo e calma”, com uma reflexão caótica do “ambiente silencioso” que o português emigrado no Reino Unido viveu durante esse período.

“Eu estava a tocar alguns acordes num plugin que começou a crashar e a fazer barulhos ásperos e altos, o que foi engraçado dado que foi uma reflexão perfeita do que estava a sentir naquele momento”, conta-nos dpe0. “Foi nesse momento em que tudo se começou a juntar”, num trabalho que viria a resultar neste “Everything, All at Once”, um EP de cinco temas originais e cinco remixes.

Sem formação musical, dpe0 procura “abordar tudo como uma textura”. “Não toco teclados nem guitarra, por isso tendo a passar muito tempo a conhecer o instrumento em si, mas sem querer saber demasiado. Há tanta beleza em não saber o que se está a fazer, as coisas acontecem de forma mais natural”.

Para este EP, utilizou “muitas frequências duras e distorcidas” e aliou experimentações na guitarra elétrica, transformando “completamente o som” ao alterar o pitch à medida que esticava, cortava e misturava todos os elementos para chegar à poção final. O resultado é um antídoto para tempos de reclusão como estes, com componentes químicos que recolhem evidências de estudos de ambient ou drone, tudo envolvido numa aura que se vai revelando um autêntico porto de abrigo para o ouvinte.

Não é de agora que a música tem protagonismo na vida de Miguel de Melo. Quando era criança, o seu pai trabalhava numa rádio, o que provavelmente fez nascer a paixão que nutre hoje por esta arte. “Sempre desempenhou um papel importante na minha vida, permitiu encontrar-me a mim próprio e a pessoas que pensam da mesma maneira”, confessa.

Algumas dessas pessoas surgem neste EP, concretamente no lado B de “Everything, All at Once”. “Depois de o EP ter sido feito, pareceu natural pedir a alguns dos meus amigos para refazerem a sua faixa favorita”, explica, acrescentando que “só viu um par de pessoas desde que a pandemia começou, por isso tê-las envolvidas no projeto foi uma forma de se sentir um pouco mais próximo delas”.

Também centrados em mundos de ambient ou drone, mas com rasgos de estilos como techno pelo caminho, Alley Catss, IDNTMTTR, Lvcefecit, mt.pleasant e Tiago Silva Ribeiro foram os convidados para reinterpretar faixas deste trabalho, à venda desde dia 8 no Bandcamp, onde é possível encontrar outros temas de dpe0.

Disponível em versão física (cassete) e digital, “Everything, All at Once” conta com mistura de Lee Avant (que já trabalhou com FKA Twigs) e masterização de Enyang Urbiks (que já deu mão a música de nomes como Arca ou Amnesia Scanner).

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