AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Artigo

Lançamentos favoritos de março

11 Abril, 2023 - 17:56

Música de diferentes coordenadas.

Arooj Aftab, Shahzad Ismaily e Vijay Iyer – Love In Exile [Verve Records]

Música ambiente, sincera, minimalista, espaçosa, melancólica, folclore e que envolve qualquer sítio por onde passe. As longas e emocionantes composições de “Love In Exile” podem residir nas nossas casas para todo o sempre. Não nos importamos. A poesia e voz da paquistanesa Arooj Aftab, os sintetizadores de Shahzad Ismaily (filho de pais paquistaneses) e o piano de Vijay Iyer entram aqui numa comunhão sem igual e a não perder – ontem, hoje e amanhã.

Azar Azar – Cosmic Drops [Jazzego]

Disco sublime do músico Sérgio Alves, aliás AZAR AZAR, que sucede um igualmente brilhante trabalho de reworks a Miles Davis. Novamente com edição da portuense Jazzego, isto é jazz espacial para viajar e dançar com o cosmos como pano de fundo – e o hip-hop, o funk e muito mais a acompanharem também a festa deste “Cosmic Drops”.

Fever Ray – Radical Romantics [Mute]

Nídia, Aasthma, Vessel, Trent Reznor & Atticus Ross, o irmaõ Olof… Estes são alguns dos nomes que contribuíram para o mundo que é “Radical Romantics”, o último álbum da sueca Karin Dreijer. E não há como não ficar rendido à irreverência da ex-The Knife. Seja pelas letras ou pela sinceridade que evoca em cada tema, Karin é tudo aquilo de que precisamos, com uma progressão que nos faz nascer (cientes do que nos rodeia e do que dizem de nós em What They Call Us) com consciência do destino que é a morte (no Bottom of the Ocean). Mais ou menos aceitação de quem somos, mais ou menos melancolia, mais ou menos festa, aqui há amor até mais não. Do radical e sincero.

Lake Haze – Coordinates Of A Decaying World [Paraíso]

Lake Haze acerta na muche de olhos fechados. Desta vez, via Paraíso, com um 12’’ que, sem deixar de ser seu, tem novas pitadas para descobrir no electro sonhador e envolvente de Gonçalo Salgado. Traços siderais, góticos e italo antes do remate final em Acid Genesis, que atua como uma daquelas viagens pensativas de que tanto gostamos na música de Lake Haze.

Moreno Ácido – Trash/Treasure [Call To Action]

A assinalar a estreia do seu próprio selo Call To Action, Moreno Ácido pôs cá fora o enérgico e convidativo “Trash/Treasure”, um EP de quatro faixas que está também disponível em versão física (vinil 12’’). House do bom e do melhor que toca em influências como acid e breaks ou agarra em vozes e teclas certeiras para pôr tudo a dançar de sorriso na cara.

Nonsensical – Momentum [O’Clock]

Backbone já anda por há muitos anos. Em dezembro passado, lançou o primeiro EP a solo na forma de “Gatekeeper”, pela Counterchange, e em março estreou “Momentum”, via O’Clock. Este último chega com assinatura de Nonsensical, um nome que se inspira em coordenadas de techno mais profundo e mental, com travos ambiente, ideal para fãs de Deepchord, Forest Drive West ou Efdemin. Esse último, note-se, remata tudo em beleza com um remix para Solina.

Nørbak – Res Extensa [HAYES]

Impossível ficar indiferente à música do amarantino Nørbak. Neste caso, uma fileira de quatro bombas que abre com um exercício rítmico de TR-909 (Nove Zero Nove), que, só por si, já pede para adicionar este vinil à prateleira – com o bónus de ter uma das capas mais bonitas do catálogo da HAYES. Techno feito para pistas sem deixar de ter o lado mental e introspetivo evidente.

Octa Push – Purga

Já se sabe que a música de Octa Push é bem rítmica. Neste caso, no regresso aos álbuns depois de Língua (2016), os irmãos voltaram a chamar uma série de convidados – tão interessantes e distintos quanto Aline Frazão, Emmy Curl, Prétu, Meta, LaBaq ou Scúru Fitchádu – para se deixarem influenciar por cada um para compor um disco feito inteiramente em português e crioulo. Álbum bem Octa Push, sim, mas que se expande até mais além.

Surgeon – Crash Recoil [Tresor]

“Crash Recoil” assinala o regresso de Anthony Child aos álbuns com este pseudónimo, cerca de cinco anos após “Luminosity Device”. Com um lado analógico vincado, este é um disco techno que vai crescendo ao longo dos 50 minutos e que, mesmo sendo fresco, tem Birmingham e fundações de música industrial (e não só) associadas. O contexto cultural deste nome é evidente e o próprio admite as influências de Coil, The Cure e até de King Tubby no álbum. Surgeon é Surgeon e este disco é tão ou mais Surgeon quanto possas imaginar.

Temudo – Moraliste [Blueprint]

João Rodrigues é um dos mestres de techno que temos por cá. Extraordinário designer que brinca com a paleta como poucos, a minúcia de Rodrigues vale convites como este, de James Ruskin, para assinar “Moraliste” pela Blueprint. Temudo vai até regressar à Klockworks em breve, mas não sem antes dar espaço para que cérebros e pernas se percam nos detalhes destas armas tão certeiras.

Yves Tumor – Praise A Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds) [Warp Records]

Yves Tumor sempre foi áspero. Aqui mantém a rispidez e o experimentalismo, mas o lado mais pop rock que tem vindo a explorar continua claro. Ouça-se Parody, por exemplo, tema simples (mas com letra e voz apaixonantes) que ajuda a chegar ao clímax do disco. Magia pop-rock-eletrónica para ouvir do início ao fim, como qualquer outro disco de Yves Tumor.

Com design de Catarina Ribeiro

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