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Lançamentos favoritos de março

3 Abril, 2020 - 16:45

Ao longo do mês de março, foram vários os trabalhos que não pararam de rodar n’A Cabine. Daniel Duque, João Freitas e Rui Castro falam sobre eles.

Mystic Fyah – Slow Dubs Vol. 1 [INFINITA, 4 de março]
A editora portuguesa, que reconhece a “desigualdade no acesso ao conhecimento e à produção cultural”, lança agora o terceiro EP do seu catálogo, com o mesmo objetivo de sempre: fazer chegar a música a toda a gente e não a um público restrito. A INFINITA já abraçou house ou techno, mas desta vez traz uma sonoridade dub. Este lançamento é composto por dois originais, de Mystic Fyah, e conta também com duas remisturas do patrão Miguel Torga. As quatro faixas, lentas e hipnotizantes, estão recheadas de influências jamaicanas com ambientes mellow, graves bem profundos e delays exagerados e deliciosos.



VA – Droogs005 [UVB-76, 5 de março]
“Sounds like 97 again”, dizia alguém num comentário no SoundCloud. E de facto Monolith é uma jungle moderna que invoca as sonoridades do passado para uma contemporaneidade mortífera. É impossível ficar indiferente mas, vindo de quem vem – Gremlinz, Jesta e Kalu – não nos surpreende. Já City Limits, do veterano Friske, é daquelas que nos leva ao rubro, mas sem histerismos. Uma faixa híper funky, diferente de tudo o resto, cujo arrepio na espinha fala por si.



Lift Aym – Rare-Earth Exposure [Eastern Nurseries, 6 de março]
Gravado entre 2018 e 2019 por Lisboa, Macau e Hong Kong, “Rare-Earth Exposure” é o primeiro EP de Lift Aym. Numa edição da portuguesa Eastern Nurseries, o produtor revela por que razão precisávamos de ter ouvido um lançamento seu há muito mais tempo – apesar de este ser o seu primeiro release, o lisboeta já tocou em vários espaços da cidade. Neste EP, o responsável parece estar a contar uma história dada a coesão que se escuta, envolvendo o ouvinte num espaço que o leva por caminhos ambient e experimentais.



Nikki Nair – Scuzzy EP [Pretty Weird Records, 6 de março]
Como catalogar o nome da faixa que dá nome a este trabalho? Não sabemos, mas talvez o nome da editora por onde é lançado seja o mais indicado: Pretty Weird Records. O mesmo se pode aplicar a The Analyst, um electro super dançável de tonalidades igualmente estranhas, mas incrivelmente aditivas, que já valeu rotações por parte de Four Tet, Ben Ufo e a própria dona da editora, a disruptiva Dj Barely Legal. Ficaremos atentos a este norte-americano que promete dar que falar.



Future Beat Alliance- Never Forever [R&S Records, 13 de março]
Matthew Puffett, outrora também conhecido como Mode-M e Soul Electrik, inicia 2020 com o single “Never Forever”, tema presente no seu álbum de 2009 “Patience and Distance”, assinado pela Eevo Next. O futurismo tribal e a progressão musical trazem consigo grandes influências da música techno, IDM e breakbeat, com linhas de arpejadores hipnotizantes e ambientes dinâmicos. Para além disso, o tema tem direito a um remix de Afriqua, com uma perspetiva mais rítmica e complexa que a original, carregado de texturas, teclas, drum breaks e atmosferas abstratas.



Nazar – Guerrilla [Hyperdub, 13 de março]
Nazar, neste longa-duração, traz consigo as suas raízes ancestrais angolanas e mistura-as num cocktail de glitch, bass music e sonoridades plásticas e abstratas, pintando uma arte sonora que acaba por ir ao encontro da que lhe é habitual, baptizada, pelo próprio, de rough kuduro. O jovem, residente em Manchester, de 26 anos, já não é uma cara nova para a editora, sendo este o seu quarto lançamento na casa de Kode9. Um álbum de estreia interessante, recheado de contrastes atmosféricos entre o caos e a serenidade.



Norbak & Temudo – Battered From The Fall [Grey Report, 13 de março]
Inicialmente editado em vinil, mas já disponível em versão digital, “Battered From The Fall” assinala o regresso desta colaboração entre Nørbak e Temudo, eles que são dois dos mais curiosos e excitantes produtores de música techno em Portugal. O sucessor de “I Will Guide Thy Hand” segue, em parte, os mesmos passos que o trabalho lançado pela Modularz no ano passado: texturas e detalhes altamente ricos e especiais, embutidos em ritmos que resultam em quatro faixas vigorosas, que, certamente, vão encher as medidas de festas por todo o mundo. É difícil ficar indiferente às produções deste duo, e parece que não vão ficar por aqui: ainda este ano, há novo release colaborativo na calha.



DJ Lycox – Kizas do Ly [Príncipe, 20 de março]
É mais do que sabido que da Príncipe só saem boas edições, mas não é por isso que “Kizas do Ly” deixa de surpreender. Surpreende, de facto, especialmente pelo rumo e abordagem que DJ Lycox toma ao longo de aproximadamente 12 minutos. São quatro faixas extraordinárias, em que o DJ e produtor alia melodias sonhadoras e comoventes a batidas kuduro, que, por sua vez, fazem com que o corpo não fique estático. E esse é precisamente o busílis deste EP: “Kizas do Ly” tanto dá para deitar, ouvir e pensar, como também para levantar, ouvir e dançar.



Drumming GP, Joana Gama e Luís Fernandes – Textures & Lines [Holuzam, 20 de março]
Quatro composições, cerca de 49 minutos, fruto de uma colaboração que já se havia encontrado em palco, em 2019. Esta não é a primeira vez que ouvimos nos nossos sistemas de som o piano de Joana Gama e os sintetizadores de Luís Fernandes, mas é a primeira vez que temos oportunidade de os ouvir ao lado do Drumming Grupo de Percussão, bem no conforto dos nossos lares. Apelidar este “Textures & Lines” de obra-prima talvez seja um pouco ousado, mas a verdade é que é um dos mais belos trabalhos portugueses que ouvimos nos últimos tempos.



Etapp Kyle – Nolove [Ostgut Ton Germany, 20 de março]
A famosa label do Bergain recebe, mais uma vez, Etapp Kyle. Depois de lançar “Alpha”, volta com um EP de quatro faixas recheadas de musicalidade, ambientes sublimes e percussões altamente detalhadas com ritmos quebrados. O ucraniano conta com lançamentos na Prologue, Underton e Klockworks, mas para além disso, os seus DJ sets têm provado versatilidade na mistura e também na seleção de faixas, criando viagens pelas várias vertentes da música de dança. O reportório musical do artista fala por si e merece, sem dúvida, uma atenção por parte dos ouvintes abertos a uma experiência eletrónica transcendente.



Ka§par – Ave de Rapina [20 de março]
Ka§par é um DJ e produtor que dispensa apresentações. O experiente lisboeta já trabalhou como A&R, foi aluno da Red Bull Music Academy e, entre tantas outras aventuras, tem vários trabalhos no currículo. No entanto, nas prateleiras conta apenas com um longa-duração, “Ascensus”, de 2013, lançado pela holandesa 4lux. Agora, chegou finalmente o momento de o voltar a ouvir neste formato. E não desilude: em “Ave de Rapina”, mostra todo o ecletismo que marca a sua carreira. Um álbum para ouvir vezes sem conta.



LUZ1E – Ridin EP [Shall Not Fade, 20 de março]
“Ridin EP” é heroína auditiva no seu estado mais puro. Footwork, juke, leftfield, soulful house, breakbeat, pitched down drum’n’bass, e provavelmente ainda contém mais uns quantos elementos que outros detetarão. O que sabemos é que a alemã Luz1e fez os nossos níveis de serotonina disparar e deixou-nos a suar sem nos mexermos. Parem tudo o que estiverem a fazer e ouçam-no, com atenção.



Nucleus & Paradox- LSD Jazz/Rocksteady [Esoteric Music, 20 março]
O disco de 2009 teve direito a um remaster em vinil e ao seu primeiro lançamento em digital na label gerida pelo duo, mas tal como todos os outros temas, o formato físico (12”) já não está disponível devido à enorme procura por parte dos fãs verdadeiros à essência dos breaks. As duas faixas refletem o refinado conhecimento musical por parte dos produtores com influências e samples de música funk, jazz e rock psicadélico. Certamente não será o último lançamento dos drum programmers nas lojas online. O próximo será “Esoterica / Illuminism”, de 2010 – a versão em vinil já está esgotada no Bandcamp, e o formato digital aponta para dia 3 de abril.



Odete – Water Bender [New Scenery, 20 de março]
“Water Bender” conta a história de uma heroína capaz de manipular a água, e “continua na experimentação [dos EPs] ‘Amarração’ e ‘Matrafona’”, numa “culminação certa dos dois releases”, explica a própria em entrevista ao Rimas e Batidas. A utilização da voz ou de pormenores como flauta são alguns detalhes que utiliza ao longo do trabalho, sempre com a sua peculiaridade bem assente. Esta é a primeira vez que Odete assina um EP por uma editora internacional, nomeadamente pela londrina New Scenery, que, com “Water Bender”, fez uma aposta certeira. Afinal, o selo britânico dedica-se a artistas LGBTQ+ e a DJ e produtora é, sem margem para dúvidas, um verdadeiro exemplo da qualidade que reside nessa comunidade em Portugal – como comprova neste EP.



3phaz – Three Phase LP [100copies, 27 de março]
Neste álbum de estreia, o enigmático artista do Cairo 3Phaz recorre a uma exploração rítmica avançada através da agregação de géneros musicais tipicamente egípcios, como o Mahraganat e Shaabi, com elementos da eletrónica de dança moderna para a criação de algo verdadeiramente distinto. São nove faixas que se forem corretamente usadas quando as pistas reabrirem, podem ser letais. E uma coisa é certa – nunca ouvimos nada assim.



Daniel Avery & Alessandro Cortini – Illusion of Time [Phantasy, 27 de março]
Desde logo, ler as assinaturas de Alessandro Cortini e Daniel Avery no mesmo álbum faz o coração palpitar. Apesar de produzir e tocar techno (e não só), o britânico Avery já havia mostrado o seu lado ambient e drone em alguns trabalhos; já o italiano Cortini, mestre de sintetizadores, que tem esse mesmo papel nos Nine Inch Nails, é bem conhecido pela aptidão em criar universos densos, daqueles que entram pelo corpo adentro, como se escuta no seu “Volume Massimo”, de 2019. E aqui, em “Illusion of Time”, é essa mesma densidade ambient que é explorada, num trabalho colaborativo que não é particularmente singular, mas que é altamente viciante.



KILLAKLAN 001 – The Assassinator [Prototype Recordings, 27 março]
A Prototype surpreende positivamente os verdadeiros fãs do techstep com o lançamento do LP sampler de Killaklan 001. A abordagem contemporânea ao subgénero transpira mistério, minimalismo e uns graves bem puros, tal como o drum’n’bass deve soar. As duas faixas com ambientes dark relembram os Prototype Years, uma época que, certamente, deixa saudades aos apreciadores de longa data e aos jovens crate diggers.



Volruptus – First Contact [bbbbbb recors, 27 de março]
“First Contact”, o segundo álbum na carreira de Volruptus, é composto por 12 faixas incrivelmente intensas, que dificilmente deixam o ouvinte alienado do mundo que nele se escuta. O disco, editado pela bbbbbb, de Bjarki, é descrito em comunicado como sendo de “electro mutante”, e talvez esse seja o termo que melhor descreve este release do islandês. Também parece haver outro tipo de influências sonoras neste LP, mas é clara aproximação a um electro de outro do mundo – um electro espacial, alienígena e, acima de tudo, arrepiante.



No Moon – Set Phasers to Stun [X-Kalay]
Este foi daqueles lançamentos que nem sequer pensamos se incluiríamos ou não. Como não, se estamos perante a epitome do electro futurista? O produtor natural de Yorkshire, No Moon, dá-nos uma verdadeira lição de como aproveitar o revivalismo do electro, acid, e breaks e de os catapultar para a intemporalidade. Helena Hauff, DJ Stingray e outros que tal, sabemos que estão a ler. Usem e abusem, por favor. Nota: o disco esteve agendado para março, mas entretanto tem nova data de lançamento: 10 de abril

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