AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Entrevista

Gustavo Pereira: “[O Neopop] é a nossa romaria, a nossa celebração anual para promover esta cultura”

7 Agosto, 2019 - 15:31

Estivemos à conversa com Gustavo Pereira, mais conhecido por Gusta-vo, no âmbito do Neopop, que arranca esta quarta-feira em Viana do Castelo.

A 14ª edição de Neopop começa este dia 7 e estende-se até dia 10. Ao longo de quatro noites, há música junto ao Forte de Santiago da Barra, no Teatro Sá de Miranda e até no Neo Camping.

Amelie Lens, Jeff Mills, Laurent Garnier e Underworld são alguns dos nomes que passam por Viana do Castelo, cidade que, ao longo destes anos, recebeu atos como Kraftwerk, Moderat e St. Germain, um dos temas desta conversa.

Em jeito de antevisão desta edição de Neopop, Gustavo Pereira, um dos organizadores e mente por trás de projetos como Gare ou The BPM Festival em Portugal, falou com A Cabine por telefone.

Começo por perguntar acerca daquilo que podemos esperar nesta edição. Sabemos que têm algumas coisas preparadas – como mais pontos de água – mas será que podemos esperar por mais novidades?
Parece que vamos ter mais água a cair do céu também, infelizmente [risos]. Todos os anos tentamos – e temos uma grande preocupação com o conforto do nosso público – melhorar as condições do recinto, dando mais condições e mais conforto para o nosso público, artistas e também para o nosso staff. Mas sim, além dos pontos de água, vamos tentar ter mais pontos para as pessoas relaxarem e descansarem; a torre, que no ano passado estreámos em parceria com a Red Bull, este ano vai ser aberta, sempre limitada por uma questão de segurança, mas vai ser uma zona de lounge; vamos também ter massagens das 18h até à meia-noite; vamos ter algumas instalações de luz pelo recinto… Vamos tentar melhorar alguns aspetos que achamos que pecávamos nas edições anteriores. Isto são pormenores e apontamentos que vamos tirando de umas edições para as outras, e vamos tentando melhorar. Por vezes até por meio de sugestões do próprio público.

Falaste das previsões de chuva. Vi que o Neopop partilhou há pouco no Instagram alguns planos para isso, não é verdade?
Sim. Por acaso esqueci-me de referir, mas é uma coisa importante; no ano passado, tivemos bastantes queixas pois o nosso recinto desde há dois/três anos que tem sido utilizado também para outros eventos em Viana do Castelo, como as romarias ou até a Queima das Fitas neste ano que passou. A relva não tem aguentado, no último ano tivemos muitas queixas em relação ao pó; o recinto era desgastado e no terceiro e quarto dia já estava completamente em terra batida e levantava-se muito pó. Essa foi uma das primeiras preocupações que tivemos para resolver este ano, e que resolvemos através de relva artificial para colmatar esse problema. Entretanto, caso chova, acaba por colmatar também o problema da lama. Além disso, como nunca tivemos previsões tão assustadoras, não a nível de precipitação, porque apesar de a precipitação que se prevê não ser grave – são aguaceiros e chuvas ligeiras – pode estragar o sucesso do evento a nível de visuais, por exemplo. Porque poderíamos até ter de parar o evento às vezes. Como não queremos ter esse risco, decidimos instalar umas coberturas nas duas áreas, com uma dimensão suficiente para albergar toda a gente e para proteger os palcos, material, artistas e o próprio público.

Em relação ao tema, Keeping Techno Safe, parece recair sob uma preocupação de promover temas como respeito ou a necessidade de haver um espaço seguro. É esta a ideia?
Eu acho que sim. A ideia que queremos transmitir é que existe uma preocupação a todos os níveis. Por exemplo, pela forma como o techno – quando falo em techno é a música eletrónica, não nos vamos cingir nem restringir apenas à música techno – é difundido e promovido, e acho que isto elucida as pessoas, transmite a mensagem de que, da nossa parte, existe essa preocupação. Não é só trazer uma carrada de artistas e um bom line-up, mas sim proporcionar boas condições aos artistas e boas condições ao público. E assim, dessa forma, proteger o techno. Engrandecer, respeitar e proteger a palavra techno e a música de dança, a música eletrónica. Tem sido o nosso mote, e este ano ainda mais pois a campanha acabou por acompanhar e comunicar exatamente isso. É claro que também, a todos os níveis, queremos manter o techno a salvo para não ser marginalizado e para não ser visto como muitas vezes as pessoas pensam, que é um bando de malucos que vêm curtir… mas não, são pessoas conscientes, normais e que gostam, seguem e que têm direito como outra pessoa qualquer a desfrutar a música techno. Acho que falta um bocado essa informação e nós estamos a tentar transmiti-la. Acho que também faz parte do trabalho dos promotores, realmente dignificar a música eletrónica e não denegrir como, infelizmente, aconteceu um bocado no passado. Por isso, às vezes, muitas pessoas têm um certo receio e um certo estigma quando se fala neste tipo de eventos. Isto é um evento como outro qualquer, é a nossa romaria, a nossa celebração anual para promover esta cultura de eletrónica.

O que é que tens a dizer sobre o cartaz deste ano? Que atuações destacarias, por exemplo?
Acho que é muito ingrato, especialmente para mim que faço o cartaz e que tenho um apreço por todos os artistas – uns gosto mais, outros gosto menos, mas tenho um respeito imenso por todos – e acho que todos têm valor nos seus campos, na sua área mais específica dentro da música eletrónica. Acho que não é muito justo estar a destacar. É claro que os Underworld são o maior destaque, mas de resto posso destacar estreias como a de Colin Benders, Héctor Oaks, Amato & Adriani, Acid Pauli. Acho que o regresso e encerramento do Laurent Garnier vai ser especial. É como digo, depois de fazer um cartaz, e especialmente para mim, é um bocado ingrato estar a destacar alguém. Todos eles têm valor, todos têm o seu papel neste cartaz e todos têm de ser destacados, sejam nacionais ou internacionais. Acho que os artistas nacionais que participam neste evento não ficam, nem de perto nem de longe, atrás dos outros artistas deste cartaz.

Gostava de falar sobre isso. No que toca a esta aposta nos portugueses, tens o objetivo de dar a conhecer as novas coisas que se andam a passar por aqui?
Sinceramente gostava mais – e se calhar este ano já acontece num ou outro caso, com horários um bocadinho mais de destaque e com outra visibilidade – de fazer mais isso. Infelizmente, acho que ainda existe um bocado de preconceito por parte do público, que, quando vê certos nomes a tocar em horários mais nobres, acaba sempre por reclamar porque acham que os artistas internacionais é que devem estar nessas horas. Eu acho que os artistas internacionais, se recebem um cachet mais alto, têm outras condições, outras regalias, mais exposição a nível mediático… se são eles que vão chamar realmente as pessoas para virem a estes eventos, então acho que também devemos aproveitar para alavancar alguns artistas e aproveitar estes momentos para divulgar o que é nosso.

Este ano são os Underworld. No ano passado tivemos St. Germain, já tivemos Kraftwerk… É uma aposta que querem continuar no futuro? Estes concertos de nomes mais míticos e influentes?
Sim, sem dúvida. Isso é uma das coisas que não posso revelar, os nomes em que estamos a trabalhar, mas sim, tanto os Kraftwerk, como os Underworld, os St Germain, Moderat ou até Hardfloor, são nomes que já tinham sido falados há alguns anos. Depois, por uma razão ou outra, vai-se proporcionando e vai acontecendo. O que posso dizer é que sim, com certeza que iremos dar continuidade a essa visão e a esse tipo programação. Todos os anos esperamos contar com uma banda mítica, com uma banda que fez história e que marcou e inspirou a música eletrónica.

Como é que vês o crescimento do Neopop ao longo destas edições?
Desde o Anti-Pop… É enorme e às vezes dou por mim a ir ver os anos anteriores, a recuar nos anos e ver vídeos no YouTube ou projetos. Às vezes já nem me lembro de como é que começamos isto. Mas sim, o crescimento tem sido sustentado, tem sido sempre suportado pela aprendizagem que temos de ano para ano… E não vamos ficar por aqui de certeza. A nossa ideia nunca é parar de pensar em crescer e melhorar o festival de ano para ano. Acho que um festival com 13 anos tem de se superar ano após ano para que exista também um interesse das pessoas em vir ao festival. Há outras ofertas e as pessoas acabam por, naturalmente, procurar outros eventos, e também por isso procuramos outras novidades, algo para mais para dar, e crescer devagarinho mas de forma racional, bem pensada e sustentável.

Depois destes anos todos, tens algum momento que tenha sido especialmente marcante para ti?
Todos os anos são marcantes [risos]. Todos os anos são bastante intensos, mas claro que há marcos. A 10ª edição foi um deles porque marcou a introdução de um novo palco, um Anti Stage, mas é como eu digo, todos os anos são muito marcantes e muito intensos. Mas esta viragem [na 10ª edição] foi muito importante e, basicamente, foi uma nova era. Também há a mudança de Anti-Pop para Neopop, acho que foi uma mudança também muito importante a nível de organização e a nível interno pois permitiu-nos olhar para o festival com outros olhos e profissionalizar a nossa equipa, ou seja, deixar de ser um festival feito quase por brincadeira e gosto para ser uma responsabilidade e quase uma obrigação, um trabalho a tempo inteiro. Acabámos por perceber que o festival estava a atingir uma dimensão maior do que nós esperávamos e percebemos que tínhamos de dar muito mais de nós para continuar a fazer o festival. Acho que esses são os dois pontos mais marcantes, e este ano também acho que sim pois estamos a ter um desafio muito grande, que é este da chuva pois, basicamente, à ultima da hora, tivemos de alterar os planos todos, desmontar, voltar a montar e repensar no recinto para que consigamos acolher as pessoas, dar o máximo de conforto e para que a chuva e a meteorologia, caso nos preguem uma partida, não nos consigam apanhar desprevenidos.


Fotografia por Andreia Gomes no Brunch Electronik 2018

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