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Infinita, um novo projeto editorial

4 Março, 2019 - 15:09

A Infinita tem como objetivo “escoar produção artística e oferecer música às pessoas”, explica Hugo Vinagre.

Foi criada uma plataforma de edição de música gratuita, atendendo às necessidades dos que produzem frequentemente e não estão para gastar tempo de espera nem passar por burocracias. A Infinita, que quer “divulgar e educar sem reservas”, ganha forma através de Hugo Vinagre, nome por trás dos projetos Miguel Torga, Turista e Early Jacker, e dos responsáveis pela parte gráfica e gestão de artistas, Diogo Vasconcelos, que é também diretor da revista PISTA e dj sob o nome de Diogo, e Carolina Mimoso (Caroline Lethô), respetivamente.

A primeira edição Infinita, Nós Vimos Em Paz, já está disponível no Bandcamp e fica a cargo de Sétima Dimensão, um projeto que conta com uma colaboração entre Hugo Vinagre e Nuno Costa (VIL) na faixa homónima, além de Declaração De Intenções, produzida apenas por Hugo. O resultado é música espacial, e Vinagre explica que “a ideia é fazer mais colaborações, mas eventualmente poderei ser apenas eu” – ainda assim, afirma que o projeto Infinita não é apenas para si, “quer que seja de todos”.

E como tal, também vai haver festas de acesso gratuito, sendo a primeira já no próximo sábado, dia 9 de março. Além de dj sets de Sétima Dimensão, Caroline Lethô e Diogo, há uma conversa com Alexandre Ribeiro, Isilda Sanches, Rui Vargas e Vitor Belanciano sobre “Música Digital – Democratização e Novas Formas de Distribuição”.

Via e-mail, A Cabine enviou algumas perguntas à Infinita para saber mais acerca do projeto, das quais destacamos três:

Qual ou quais as necessidades de criar a Infinita?
Hugo Vinagre: A editora nasce no momento em que eu sou confrontado com o facto de serem necessários dois anos para editar um disco em formato físico. Não posso esperar dois anos cada vez que quero editar música. Faço música quase todos os dias, tenho música infinita por editar, portanto, tive de criar uma forma de escoar a minha produção artística. Entretanto, percebi que muitos dos meus amigos estão na mesma situação e, portanto, resolvi não me editar apenas a mim.

Para além disso, penso que deve existir alguém ou alguma entidade que desempenhe a tarefa de oferecer às pessoas estéticas musicais marginalizadas e de fugir a tendências vigentes. E quando digo estéticas marginalizadas não estou a considerar techno e house porque esses géneros estão mais do que estabelecidos. Atualmente o techno e o house são géneros extremamente pop(ulares). É impossível considerar underground géneros que enchem pavilhões ou estádios de futebol. A palavra underground, atualmente, serve apenas para vender eventos e para fazer as pessoas sentirem que fazem parte de um grupo especial. As pessoas gostam de sentimento de pertença. Não quero dizer com isto que não vamos, também, editar techno e house, editaremos com toda a certeza, mas, provavelmente, serão perspetivas menos convencionais desses géneros. Mas voltando ao tema de oferecer música…

Idealmente seria o Estado a fazê-lo, já que pagamos impostos, deveria ser o Estado a educar e a colmatar esta lacuna de oferta cultural. Não sendo feito pelo Estado, penso que quem está numa posição privilegiada tem a obrigação e até o dever moral de o fazer porque estamos perfeitamente conscientes que existe desigualdade no acesso ao conhecimento e à produção cultural. Nós propomo-nos, por ínfimo que seja, a atenuar essas diferenças. O objetivo é editar música e fazê-la chegar ao maior número de pessoas possível. Não queremos fazê-la chegar apenas a quem ouve house ou techno, queremos mostrá-la a toda a gente, sem exceções e de forma gratuita. Quando dizemos que queremos que seja ouvida por toda a gente, é mesmo por toda a gente. Não estamos interessados em fazer música para minorias. Sabemos que não vamos derrubar ditaduras culturais, mas sentimos que temos o dever de divulgar e educar sem reservas, enquanto conseguirmos.

Quais são os objetivos deste projeto? E a longo prazo?
HV: Como já referi, o objetivo será escoar produção artística e oferecer música às pessoas. Mostrar-lhes músicas que não estejam habituadas a ouvir. Criar novos hábitos e gostos. Porque os gostos discutem-se e as sensibilidades educam-se. Pelo caminho contamos descobrir algumas pérolas e promover o trabalho de artistas que de outra forma não conseguiriam fazer o seu trabalho chegar a uma rádio, por exemplo. Há uns anos atrás, desenvolver este tipo de projeto sem a ajuda de um mecenas seria totalmente impossível porque seria sempre necessário dinheiro para produzir e distribuir música – e na INFINITA queremos estar o mais afastados possível da palavra negócio.


Através de que meios querem chegar ao público?
HV: Vamos chegar às pessoas através de distribuição digital, mais concretamente, através do site Bandcamp. Mas também queremos ir ao encontro das pessoas de uma forma presencial. Para isso contamos fazer alguns eventos ao ar livre e outros ao ar preso. Estes eventos serão sempre de acesso gratuito a toda a gente. Não acreditamos em restringir a informação e o conhecimento apenas a quem tem forma de pagar por ele.

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