AUTOR

A Cabine

CATEGORIA
Artigo

Lançamentos favoritos de outubro

9 Novembro, 2021 - 17:51

Por entre discos e mais discos lançados em outubro, escolhemos 14 que ainda hoje rodam na nossa redação.

Augen – Tripulante

Por vezes conhecido por Gabi von Dub na cabine, ou em casos como este por Augen, Gabriel Mendes anda por cá há muitos anos. Sabe tocar em diferentes contextos e, mais do que isso, conhece música até mais não. Imagine-se, portanto, o momento em que lança o seu primeiro álbum depois de uma série de EPs no currículo, lançados por editoras como MiMi.

Talvez seja por esses e outros motivos que “Tripulante” é uma peça tão bem construída, tal é a coesão e a envolvência que transporta consigo desde a primeira até à última faixa. Essas duas são bem alucinantes e desconcertantes, mas, pelo meio, a abordagem ambient e experimental nunca é fechada a um padrão. O objetivo de funcionar como “um meio de transporte” para o ouvinte, no entanto, é uma constante. E é cumprido. DD

Basement Space – Neptune Sunrise [Butter Side Up]

O catálogo de Patrick Edenhall, mais conhecido como Basement Space, conta apenas com três lançamentos em conta própria. Talvez por isso, seja ainda desconhecido para tantos. Contudo, a música que o DJ, produtor e engenheiro de som sueco coloca cá fora não deixa ninguém indiferente. Prova disso é que já mereceu a confiança de editoras como a Slow Life e, agora, a Butter Side Up – e também merece a vossa. Para quem gosta de house e breaks, voltas e reviravoltas numa pista de dança, esta é para vocês. NV

crwdcntrl – butoh [Rotten \ Fresh]

Admitimos que um disco que abre com uma intensa malha techno que conta com um poema de José Régio já é motivo suficiente para integrar esta lista, não fosse essa faixa uma das mais promissoras do ano no que toca a pôr clubes a enlouquecer por completo. A questão é que o vila-realense crwdcntrl não se fica por aí neste “butoh”: trata-se de um EP bem delicioso que enche as medidas de qualquer fã de techno mais duro, obscuro e algo industrial. É um dos lançamentos mais rígidos da Rotten \ Fresh e um dos mais viciantes de outubro, não fossem os riffs de faixas como Power Is Not A Means aquilo que precisamos nestes tempos de regresso aos clubes. DD

DJ Lycox – LYCOXERA [Príncipe]

A Príncipe lançou dois belos discos em outubro – “Não Sou Perfeito”, de PT Musik, e este “LYCOXERA”. Ambos poderiam surgir nesta lista, mas a escolha recai sobre o regresso de DJ Lycox à editora lisboeta, num 12’’ que revela o quanto este DJ e produtor tem crescido. Afinal, estamos a falar de Ivan Martins, um nome que aos 16 anos já assinava trabalhos por esta label e que no ano passado editou um dos nossos favoritos de 2020, “Kizas do Ly”.

Ao contrário desse disco, no entanto, “LYCOXERA” larga o lado mais romântico (pelo menos na maioria dos temas) e presenteia-nos com uma autêntica e incrível festa de seis faixas (sete na versão digital) que não deixa ninguém arredar o pé, tal são os diferentes ritmos e detalhes escrupulosamente trabalhados para nos fazer dançar. Uma autêntica bomba. DD

Fura Olhos – Fura Olhos [Revolve]

Fura Olhos é eletrónica cantada em português e isso atrai a nossa atenção de imediato, quanto mais quando se trata de “eletrónica sentida e intensa”. E motivos faltassem para essa atração, note-se que estamos a falar de uma dupla bracarense que junta dois músicos de gerações distintas: o experiente Miguel Pedro e a cada vez mais curiosa jovem Inês Malheiro.

Ao longo de oito temas e cerca de 40 minutos, o álbum homónimo de Fura Olhos conduz-nos por um labirinto quase místico – no qual conseguimos encontrar a saída, no entanto, bem como compreender o mistério envolto. Por aqui, a doce, honesta e por vezes modificada voz de Inês Malheiro, que escreveu também as letras, acompanha composições de Miguel Pedro, que foi ao “baú” resgatar gravações de campo, sintetizadores ou cordas, tudo isto para compor uma das histórias mais bonitas do ano na música portuguesa. Simplesmente imperdível. DD

Holden Federico – Deliverance EP [SK_eleven]

Esta é a grande estreia de Holden Federico na SK_eleven – ou, aliás, este é o seu primeiro lançamento. Para além de ser um connoisseur de techno, tendo até feito uma selecção de música dos anos 90s para a Dance Wax, mostrou que a sua produção acompanha o seu conhecimento e qualidade como DJ. São quatro faixas corridinhas, rápidas e cheias de groove completamente dançáveis. Claramente sabe perfeitamente o que é necessário numa pista de dança. E claro, os discos em vinil esgotaram em menos de um mês. JF

Liquid Earth – Scope Zone [Kalahari Oyster Cult]

Este ano tem sido absolutamente frenético para a Kalahari Oyster Cult, que demonstra ser uma editora bem eficiente. Não só pelo número de lançamentos, mas sobretudo pela qualidade dos mesmos. O mais recente, assinado por Liquid Earth (aka Urulu), e que conta com uma remistura de Youandewan, é outro caso sério. Mais uma vez, a editora deu abrigo a uma sonoridade rave característica dos anos 90 e eles fizeram o resto: dois temas progressivos, com breaks e uma linha de acid persuasiva, que nos conduzem até uma noite de apoteose. NV

Manuel Darquart – Down 2 Dance EP [Slam City Jams]

Precisamente um ano depois, a dupla neozelandesa Manuel Darquart está de volta às nossas escolhas mensais, e desta vez com um um EP inteirinho da sua autoria. E que EP. Tresanda a Italo-house, e isso nunca fui antónimo de música gourmet. É preciso é saber apreciar o requinte, nas suas doses e alturas apropriadas. Mas não foi a faixa homónima que mais nos atraiu. Foi antes a vibe etérea e smooth de Cultivating Yucca e de Prince of the rinse. Dica de escuta: piscina, sol, mojito e dolce far niente. Era já. RC

Max Cohle – Peace of Mind [Microdrive]

Quem é Max Cohle? Pois, perguntamos o mesmo, e resolvemos ir à descoberta. Sobretudo depois de escutar este sideral “Peace of Mind”. Encontramos então um parisiense, dedicado a sonoridades deep/tech/minimal house, cujas produções têm todas um fator em comum: groove. Esse, e a qualidade inerente, obviamente. Mas vá, oiçam, explorem, e tirem as vossas próprias conclusões. RC

Miguel Torga – Matutino [INFINITA]

Deixemos tretas de lado e sejamos sinceros: Hugo Vinagre é um dos grandes produtores portugueses. Seja como Early Jacker, nome com que passou por editoras como Tribal, ou como Turista, com o qual assinou um belíssimo disco pela Discos Extendes, Vinagre dificilmente edita material que não agarre o ouvinte.

Folguemos, então, com o regresso do pseudónimo Miguel Torga aos álbuns, sete anos depois do bastante aclamado “Hexágono Amoroso”. Falamos de “Matutino”, um disco que corre ao longo de mais 50 minutos por entre campos tão verdejantes quanto convidativos, por entre sonoridades house ou elementos dub, por entre vozes viciantes ou letras cantadas em português. Se dúvidas restassem de que Vinagre é um produtor único e maduro, este trabalho é uma das grandes provas desse facto. DD

Paradox – Soviet [Paradox Music]

O drumfunk master a cada release que faz é um tiro certeiro no alvo. A comunidade treme e os dancefloors também. Decadência, graves pesados, rugidos sintetizados, breaks estaladiços, reggae voice samples com delays e mistério, são alguns dos ingredientes presentes neste incrível (como sempre) EP. Por entre um intemporal amen break ou um lado mais hipnótico, não vais querer perder este. JF

Presha – RATS [Samurai Music]

Fechem os olhos. Agora escolha uma faixa ao calhas. Pronto, escolheram a melhor. O selo da Samurai Music já fazia adivinhar que vinha daí algo sublime, mas não estávamos preparados para um trabalho tão sólido. Sobretudo atendendo a que é o primeiro trabalho inteiro a solo do veteraníssimo dj e dono da editora, Presha. A estreia aconteceu 25 anos depois da sua incursão nesta aventura pelos meandros do drum’n’bass, e o resultado foi um fortíssimo resgate às sonoridades de meados/fim dos anos 90, com um mistura contemporânea e ênfase nas vertentes mais dark típicas da Samurai Music. RC

Sensible Soccers – Manoel

O agora trio Sensible Soccers é possivelmente um dos projetos mais deliciosos dos últimos anos. Para “Manoel”, a banda inspirou-se em dois filmes do incontornável realizador Manoel de Oliveira – “Fauna Fluvial” e “Pintor e a Cidade” – para nos fazer chegar um disco cuja sonoridade é tão característica desta banda. De um lado ambiente a um mais pop, de teclas emotivas a linhas de baixo bem vincadas, a viagem é bem característica de Sensible Soccers, sim, mas não deixa de nos oferecer algo novo e a não perder.

Tim Reaper & Dwarde – BLUFF005 [Bluff Records]

Este é o primeiro lançamento de dois dos melhores nomes do momento no panorama do jungle na Bluff Records. Mas nem tudo é bom e, como tal, temos boas e más notícias. Começando pela perspectiva positiva, podem contar com quatro faixas que variam entre o jungle, breakbeat e até com um toque de UK hardcore pelo meio e com uma colaboração de Dev/Null na faixa Exoplanet. A má notícia é que o EP também foi lançado em vinil e em menos de um mês ficou esgotado. JF

Textos por Daniel Duque, João Freitas, Nuno Vieira e Rui Castro

relacionados

Deixa um comentário







t

o

p