AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Podcast

N’A CABINE #020: Tiago Fragateiro

9 Julho, 2019 - 19:00

Tiago Fragateiro é o nosso convidado para o 20º episódio de N’A CABINE.

Questionado acerca da sua história, Tiago Fragateiro diz-nos que essa “é daquelas perguntas que evita sempre responder”, esperando que a “experiência de todos estes anos se reflita e seja notada no seu trabalho”. Ainda assim, o veterano portuense faz um esforço e explica que os seus 25 anos na cena não passam apenas pela atividade como dj, mas também “por praticamente todas as funções, desde o bar à porta, da direção artística à gestão comercial”.

“No seu entender”, conta-nos, o conhecimento obtido através desse contacto com “todas as dinâmicas” é aplicado na “atividade como dj” pois esta “não se pode limitar exclusivamente ao que se passa na cabine e pista de dança”. “É importante que [o dj] tenha noção das especificidades, complexidade e, mais uma vez, das dinâmicas de cada espaço ou evento, do seu histórico, a sua gestão, do perfil de cada público e staff e como estes se comportam e reagem em diferentes situações”, refere Fragateiro, acrescentando que “é desta forma que aborda cada atuação” e que esta “experiência acaba por facilitar o seu trabalho”.

Como “muitos outros”, Tiago Fragateiro começou “por brincadeira, curiosidade e por querer mostrar aos outros a música que ouvia em casa”. Mas antes disso – e de ficar responsável por “alguns inícios de noite” pontuais no extinto Voice Club, no Porto, entre 1999 e 2000 – o portuense vê a sua terra natal como peça fulcral para a sua história. Afinal, é com orgulho que fala sobre “ter feito parte da história de espaços que marcaram gerações na cidade do Porto”, o que o proporcionou a, “socialmente, ter contacto com vastos e diferentes públicos, assim como criar longas relações de amizade e confiança com muitos dos agora responsáveis por grandes eventos e espaços em Portugal”.

O dj e produtor começou a ter contacto “com a ‘noite’ bem cedo”, tendo “testemunhado o início da música eletrónica no Porto e em Portugal”. “Mas antes disso”, explica, “como muito outros dessa geração”, tudo começou “nas matinés da Amnésia (mais tarde KU), Spinus ou Cais 447, onde, no início dos anos 90, a pop e o rock dos anos 80 começavam a dar lugar aos Soul II Soul, Snap, Technotronic, Kraze, Inner City, Adventures Of Stevie V ou Nomad”. “Por volta de 93 e 94”, “o primeiro contacto com a verdadeira música eletrónica” fez-se com nomes como Carlos Manaça, XL Garcia, Márcio Roque, Tó Pereira ou Ruizinho, “com as primeiras raves em Coimbra e Vila da Feira, do Cais 447 ao Swing, do Rock’s aos afters do Radical Foz ou Invicta, do Kremlin ao Alcântara-Mar”.

Tiago Fragateiro acredita que as suas “influências musicais vêm um pouco de todo este histórico”, mas destaca, “ao fim de todos estes anos”, “as melodias mais nostálgicas, dramáticas e mentais” que ouviu por essa altura. Hoje, o portuense é um dj que seleciona maioritariamente techno e que já passou por diferentes clubes e festivais de todo o país. Ainda hoje “é rara a vez em que não se prepara” para uma atuação, e pesquisa sempre “sobre os restantes artistas com quem vai dividir a cabine, bem como o histórico do próprio clube ou evento, de forma a ficar a conhecer um pouco do público que vai encontrar”. Esse é um conselho que costuma dar aos mais novos, dizendo-lhes que um set “deve ser como uma montanha russa”. Para ele, uma atuação deve ter “uma lógica de início, meio e fim”, deve contar uma história, mexer com as emoções e supreender quem ouve.

Atualmente, Tiago Fragateiro integra a equipa da recém-criada Made of You – é nesse trabalho que se tem “focado mais ultimamente” – e continua ligado ao Gare e Neopop, uma ligação que “ultrapassa largamente a mera relação profissional”. Antes de integrar o novo projeto, Fragateiro criou a Composite Records com Alain Ho (tcp DJ Yellow) – editora que optou “por hibernar até que faça sentido voltar ao ativo” – label na qual assinou algumas produções. Nesse campo, o portuense está “neste momento a trabalhar numa remistura para um original do Fauvrelle” e tem ainda “alguns originais que estão por editar”, mas não está a “fazer música como gostaria” pois isso “exige não só muito do seu tempo, como também, nessa mesma disponibilidade, estar de cabeça ‘limpa’ para que o processo de criatividade surja naturalmente”.


Felizmente, Tiago Fragateiro continua a atuar como um dos djs mais interessantes do panorama nacional – e este episódio é prova disso mesmo.

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