AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Podcast

N’A CABINE #045: Chima Isaaro

19 Junho, 2024 - 14:12

Outrora conhecida como Chima Hiro, Chima Isaaro envolve-nos com todo o dote e engenho neste 45º episódio de N’A CABINE.

Não fosse já evidente, as muitas biografias que se encontram por aí são claras: “mesmo antes do DJing, Chima Isaaro sempre foi uma amante de música”. Hoje, mostra no podcast N’A CABINE um pouco do que se pode esperar dela.

Exposta a música desde cedo graças à influência dos pais, a DJ nascida na Bélgica é presença ativa nas cabines lisboetas e nacionais desde 2014, quando regressou à capital. Nome forte da cena, Chima Isaaro demorou algum tempo até “finalmente conseguir considerar-se DJ e decidir dedicar mais tempo”, explica-nos nesta entrevista, mas é certo que veio para ficar. Nos últimos tempos, tem “trabalhado de forma individual e discreta”, isto apesar de integrar a equipa das festas Club CCC e de já ter assinado residências na Rádio Quântica ou Musicbox.

Prova clara do espírito de Chima Isaaro, este episódio leva-nos “desde deep house até batidas e techno”, com músicas recentes ou por editar de nomes que vão de Lisboa a Detroit. Berllioz, KAKAF, K-LONE ou Kyle Hall são alguns exemplos que vão surgindo ao longo desta hora sedutora e certeira.

Cresceste na Bélgica e no Algarve antes de te mudares para Lisboa em 2014. Podes recordar um pouco desse percurso?
Nasci em Bruxelas, vim para Portugal quando era criança e vivi em Faro e em Lisboa antes de voltar para Bruxelas. Em 2014 decidi passar um ano em Lisboa e acabei por ficar…

Que influências vês como marcantes nesse caminho, musicais e não só? Sei que o teu pai é musicólogo, por exemplo.
A maior influência é a dos meus pais que me expuseram a música desde cedo. Embora ouvisse principalmente música clássica e jazz, crescer com música despertou em mim a curiosidade e a vontade de explorar outros estilos.

Relativamente ao meu caminho, creio que viver em Bruxelas na altura em que iniciava a vida adulta foi fundamental para o desenvolvimento da minha identidade musical. Bruxelas é uma cidade central na Europa por onde passam muitos artistas, de diferentes estilos musicais, e onde os concertos, etc., são bastante acessíveis. Além disso, possui uma cena rica, aberta e diversificada. Para uma pessoa curiosa como eu, que não me limitava a apenas um certo tipo de música, foi perfeito ter a oportunidade de estar num lugar onde houvesse tanta oferta.

Regressar a Lisboa em 2014 e ver a quantidade de projetos DIY existentes a nível local também foi de enorme importância para mim. Aliás, foi graças à existência de pequenos coletivos e de sítios fora do comum que me senti à vontade e apoiada para começar a tocar.

Como e quando decides ser DJ?
Devo dizer que houve um intervalo de anos entre o momento em que comecei a tocar música e o momento em que tomei a decisão ou melhor consegui assumir-me como DJ profissional. O meu primeiro DJ set aconteceu em meados de 2016, nas Damas, a convite de um amigo (Rodrigo VaiaPraia). Foi um convite que quase recusei, mas acabei por aceitar o desafio por ser uma festa num local que proporcionava liberdade para me expressar mesmo sem saber ao certo o que eu estava a fazer. Por coincidência, mais ou menos na mesma altura fui convidada a fazer uma mix para o programa de outro amigo (Varela) na Rádio Quântica, o que me levou a receber um convite para ter o meu próprio programa – Nyce & Slo que mantive até 2018. Para mim, a rádio era uma óptima forma de partilhar música sem a pressão de um DJ set para a pista de dança, mas rapidamente começaram a surgir oportunidades para tocar sets em bares e clubes, então decidi ganhar confiança e embarcar nessa jornada, aprendendo ao longo do caminho. Entre esse início e o momento em que finalmente consegui considerar-me DJ e decidir dedicar mais tempo a esse trabalho foi um longo percurso.

Nesse sentido, o que decidiste preparar para este podcast?
Quando faço mixes, tanto em clubes como para podcasts, gosto de não me impor limites e improvisar um pouco, a menos que tenha um tema muito específico em mente. Este podcast foi gravado com esse mesmo espírito. Decidi estruturá-lo de forma muito livre e flexível, integrando artistas de Lisboa, mas também de Bruxelas, Detroit e Londres, abrangendo desde deep house até batidas e techno. Misturei músicas recentes com outras ainda não editadas, juntamente com temas mais antigos, permitindo que a energia fluísse naturalmente.

Tens um papel ativo na cena lisboeta. Podes falar sobre a tua visão sobre a cidade? O que mais te cativa por aí?
O que considero mais interessante em Lisboa é que, apesar de ser uma cidade pequena com recursos limitados, existe uma grande quantidade de artistas, coletivos, editoras e promotoras de diversos estilos. A cena local é extremamente rica, o que acho inspirador. Tendo em conta o pouco valor que é dado à cultura neste país, acho admirável a resiliência e a capacidade de fazer tanto com tão pouco.

Dito isto, acredito que Lisboa e Portugal ainda têm muito que evoluir. Em primeiro lugar, deveria ser dada mais importância à cultura para criar melhores condições e permitir o desenvolvimento de uma cena saudável, onde não fosse necessário lutar constantemente para sobreviver. Além disso, em termos de diversidade de género, classe e raça nas pistas de dança, Lisboa (para não mencionar o resto de Portugal, onde essa diversidade é praticamente inexistente) deixa muito a desejar. Embora nos últimos anos tenha havido uma grande evolução, especialmente devido à presença ativa de coletivos de imigrantes e queer na cena local, ainda estamos longe de ter uma cena diversa, inclusiva e segura. No entanto, há um enorme potencial que está a ser explorado, o que é empolgante, sinto-me feliz por fazer parte disso e quero contribuir ainda mais.

O que vês como essencial para que uma cena seja saudável?
Diversidade, comunidade, empatia, inclusividade, trabalho em rede, consciência sócio-política… Menos ego, menos grupinhos, mais união e mais partilha.

Em que projetos estás envolvida? Sei que já tiveste residências na Rádio Quântica e no Musicbox e que hoje partilhas as noites Club CCC com a DJ Caring e a CC:DISCO.
Estive envolvida na Rádio Quântica entre 2016 e 2018 com o meu programa Nyce and Slo e ainda mantenho uma forte ligação com as pessoas responsáveis pela rádio nos seus projetos atuais. Tive uma residência mensal no Musicbox em 2022 e 2023. Atualmente, não tenho residências fixas nem estou ligada a nenhum projeto específico, exceto a festa Club CCC. Trabalho de forma individual e discreta, e gosto muito disto assim.

Tracklist:
Leron Carson – Sof N Thik
Delroy Edwards + Benedek – What About House
Mano de Fuego – Fuerz ft. Manuel Paéz Armendáriz
K-LONE – Cinco
Berllioz – Kokoloko
Hugo LUX – Transcend
Bass Toas – All Over Again
Pau Roca – Darada (Crue remix)
Kyle Hall – EXP6 “Pitta”
Bakongo – Frozen Isle
Mr. Ho – Angel Number 909 (House Mix)
KAKAF – Faith
Shaun J. Wright – Submersion
Photonz – Focus
Dee Diggs – Go Deep (Stefan Ringer remix)

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