AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Podcast

N’A CABINE #043: CucaRafa

11 Março, 2024 - 14:20

Energia bem lá no alto com o set que CucaRafa assina para o nosso podcast.

Parece ser um dos nomes com mais vontade da cena mais jovem de techno português e tivemos de o comprovar com este convite. Fiel a ele próprio ao longo de pouco mais de uma hora neste 43º episódio de N’A CABINE, temos Rafael Lopes, aliás CucaRafa.

Tem tido uma agenda preenchida enquanto DJ – este mês, por exemplo, tem várias datas na Colômbia – mas a sua carreira não é feita apenas de DJing, tanto que conta com álbuns, EPs ou faixas editadas por selos como BCCO, Diffuse Reality, ELBEREC ou NECHTO.

Neste podcast, CucaRafa oferece muito groove, como lhe é habitual, mas não só. Aproveita e conhece mais sobre Rafael Lopes na entrevista abaixo.

Podes falar um bocadinho sobre o teu percurso? Quem é o CucaRafa e como é que ele decide ser DJ?
Para começar, deixa-me agradecer o convite! Há muito tempo que sigo o vosso trabalho, para mim sem dúvida uma plataforma que merece todo o apoio e respeito.

Depois, um pouco sobre mim. Desde que comecei a sair à noite, a ir a festas de música electrónica, para além de me divertir imenso e do gosto pelo techno crescer, sempre me questionei o que será que o DJ, a pessoa que esta do outro lado da mesa, sente ou pensa! E ficava horas a dançar e a ver com atenção tudo o que essa pessoa faz.

Dito isto, decido comprar uma mesa de mistura e fazer uns convívios com amigos, onde reparei que era mesmo aiíque queria estar: do outro lado da mesa! Sem dúvida que o apoio dos amigos foi o que me motivou e deu mais vontade de realmente investir nesta carreira! Desde já agradecer à R.O.T por todo o apoio desde que tocava para 10 pessoas.

De pequenas festas com amigos, comecei a mandar o meu trabalho para promotoras e foi onde toquei pela primeira vez numa discoteca! A partir daí meti mesmo na cabeça que queria fazer isto, para isso tinha de tocar no maior numero de sitio e espalhar o meu nome! Juntando a isso comecei a produzir e lancei a minha primeira faixa pela Nechto, label da dj Nastia, o que ajudou bastante a lançar-me neste mundo!

O nome CucaRafa vem dessa mesmo personagem que eu era, e não deixo de ser. Sempre dum lado para o outro, começaram me a chamar Barata, sim, como o animal ahah, de barata passou para cucaracha, e mais tarde o CucaRafa começou a soar-me bem, divertido mas sério. Lembro-me de rir e dizer aos meus amigos, que um dia ainda iam ver este nome em grandes cartazes! Na altura não achei que fossem levar o nome a sério, mas lutei por isso e trabalhei bastante para criar o artista e não só o nome.

Consegues recordar as tuas influências? Que música te marcou ao crescer? Que música te marca hoje em dia?
Felizmente tenho um pai que sempre me educou muito a nível musical, desde nos sentarmos a seguir ao jantar a ver o “Live Aid 85”, a passar horas com ele a ouvir musica e a adivinhar os artistas e as bandas. Como deves calcular dá-te muito conhecimento, não só a nível cultural mas também pessoal. Para mim foi muito importante porque, para além do que ouço de música actual, as minhas influências como DJ e produtor vão anos e anos atrás disso.

Ao crescer, o meu iPod tinha rap, blues, jazz, rock psicadélico e muita musica electrónica! Sempre ouvi muita musicas electrónica, não só em saídas à noite. Acordava e ouvia techno, no autocarro, na escola, etc. Não levava aquele estilo como exclusivo “da noite”, como ouvi muita gente a dizer, ahah: “ah, mas consegues ouvir isso? Não te fartas?” ou “Ah, eu ouço isso quando estou bêbado.”

E acho que foi o estilo que mais me marcou e despertou maior interesse. Artistas como DVS1, Paul Ritch, Marco Carola, Adam Beyer, são sem duvida alguns que me interessaram mais e, até certo ponto, me fizeram definir um pouco o artista que me desenvolvi a ser!

Hoje em dia, creio que comecei me a alimentar mais de outro tipo de musica sem ser só a electrónica! Continuo a ouvir bastante sim, mas como produtor comecei a desenvolver uma biblioteca mais vasta em termos de sons, instrumentos e vozes. Ouço bastante bossa nova, cumbia, gosto muito de todo o tipo de musica da América Latina, à base de percussão e ritmo, o que se pode reparar nas minhas produções também. Também desde há muitos anos, posso dizer que ouço Mac Demarco e Tame Impala, ahah. Creio que em toda a evolução musical que tive, sempre fizeram parte da playlist!

Como é que olhas para o papel de DJ? E como é que te descreves enquanto um?
Não é uma tarefa fácil, atenção! Ahah, não, mas acredita que não e só carregar no play e deixar as musicas tocar, a meu ver vai para além disso. O DJ deve saber ler a sala, interagir com o público, seja através da musica que toca ou da sua energia e mood. Nem todos os públicos são iguais, nem todas as salas são iguais. Nem sempre vais tocar o teu estilo, tanto vais abrir uma festa, como fechar. Tens de te saber adequar. No fundo o DJ transmite energia, vibrações, conhecimento. Como dizem, conta-te uma historia! E é verdade, posso dizer que sinto isso.

Enquanto DJ tento sempre ter a maior ligação com o público e com o espaço onde toco. Para mim uma boa festa é o DJ rodeado de pessoas, estilo Boiler Room, onde posso olhar para as pessoas e ver o que elas querem.

Como te estava a dizer, também transmito muito a minha energia! Seja ela boa ou menos boa. E isso influencia muito o que vou tocar. No entanto, acho que sou um DJ que não se esquece que também esteve e continua a estar do outro lado da mesa. Para mim, das melhores coisas que podes ter enquanto DJ é malta apaixonada pela tua musica a dançar. Essa tal de ligação que faço com as pessoas nas festas onde toco é o que me faz continuar 🙂

Foste de Lisboa para Amesterdão, onde moras agora, mas a tua carreira tem-te levado a outros sítios. Podes falar sobre as experiências que tens tido?
Claro! Olha, foi das melhores coisas que podia ter feito. Tanto a nível profissional como a nível pessoal. Para alem de ter crescido bastante, consegui realizar um sonho que era investir na música mesmo a 100%.

Em Portugal tinha muito apoio de DJs daqui, que tocavam bastantes faixas minhas, então a decisão de vir para aqui foi um pouco por causa disso também! E correu super bem, mal cheguei fiz um networking muito bom e sólido, o que me ajudou a mudar-me rapidamente e a sentir-me em casa! Felizmente consegui, pouco depois de chegar, fechar uma tour pela Argentina e essa sim foi a primeira experiência que tive enquanto DJ que me fez perceber que estava no caminho certo e que devia continuar!

Desde aí consegui tocar em sítios pelos quais tive muita curiosidade, em cidades incríveis, e tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas, partilhar o meu trabalho e aprender.

As amizades que se fazem nestas viagens fazem-me mesmo feliz porque volto com imensa motivação e muito grato por estar a ter esta experiência. É algo que não consigo mesmo explicar. Quando isto tudo começou nunca pensei que o meu trabalho fosse alcançar tantas pessoas e o ver na conversas que tenho, com pessoas que seguem o meu trabalho, o quanto eu as influencio, ou motivei a começar algo que eu comecei há muitos anos também, deixa-me sem palavras.

Das viagens todas que tenho feito, das pessoas todas que tenho conhecido, dos sítios onde toco, das paisagens que vejo, da comida que como, o que trago comigo é uma lição de vida. Seja ela uma nova visão da vida, seja uma realização. Não penses que vou tocar e volto e está tudo igual. Tudo te marca. Eu sinto muito as coisas sabes, então tudo me marca e tudo me chama a atenção. Posso dizer que todas estas experiência moldaram muito quem eu quero e ambiciono ser.

Mal posso esperar para partilhar mais! 2024 vai começar de uma maneira muito boa!

O que decidiste preparar para este podcast?
Bem, neste podcast fiz uma timeline de estilos. Comecei com um estilo mais ambient dub, acelerado, passei para um techno um pouco mais hipnótico e mental, mas com muito groove, no qual fiz a transição para um estilo mais groovy e sexy! Para o final toquei algumas faixas da minha produção, umas já lançadas, outras para breve!

Obrigado por este momento, Rafael. Algum conselho ou mensagem com que queiras rematar este podcast?
Queria apenas deixar um obrigado pelo convite mais uma vez, agradecer também a todas as pessoas que de certa forma tem apoiado o meu trabalho, da minha parte posso vos garantir que não tenciono parar e que muita coisa boa esta para vir.

Espero que com esta entrevista me conheçam um pouco melhor e espero conseguir motivar quem está agora a começar. Também já estive no vosso lugar. Também passei por muitas coisas menos boas, mas decidi que era isto que queria fazer e trabalhei por isso. Não desistam ou deixem que alguém vos diga que não são bons o suficiente. Não tenham medo de largar tudo para seguirem os vossos sonhos. Bora, ninguém vai fazer por vocês!

Mais uma vez, obrigado por tirarem 5 minutos para ler um pouco sobre mim!

Remember the name: CucaRafa

Fotografia por Diogo “Framekillah”

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