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Lançamentos favoritos de junho

5 Julho, 2020 - 14:46

De ambient a techno, 14 lançamentos marcaram o nosso mês de junho.

Diana Oliveira – Goal [Discotexas, 4 de junho]
Formou-se em comunicação social e chegou a trabalhar na área, mas foi na música que encontrou a verdadeira paixão. Depois de vários anos a atuar como DJ, Diana Oliveira estreou-se em junho nas produções, concretamente com um EP lançado pela Discotexas. “Goal” conta com três faixas originais nas quais Diana utiliza a própria voz como um dos recursos para captar e agarrar o ouvinte. No tema de abertura, esta peça integrante da RDZ explora o mundo dos breaks, sucedendo isso com momentos mais techno, provando pelo caminho a versatilidade que sempre lhe foi característica na cabine.



Nídia – S/T [Príncipe, 5 de junho]
Ainda no mês passado surgiu nesta lista, e agora volta a perfilar nos nossos lançamentos favoritos. Novamente pela Príncipe, “S/T” termina o tríptico que começou com o álbum “Não Fales Nela Que A Mentes” e o 7’’ “Badjuda Sukulbembe”. Aqui, cada faixa foi executada na perfeição, com todo e qualquer elemento a fundir-se com as profundezas da nossa imaginação, levando-nos até aqueles momentos de dança que Nídia levou a clubes como Pérola Negra ou Musicbox antes da pandemia. E quem nos dera estar num desses espaços a ouvir a percussão de faixas como Nunun.



Império Pacífico – Exílio [Variz, 12 de junho]
Com direito a edição em vinil, este é o primeiro LP dos Império Pacífico. A dupla formada por Luan Bellussi (trash CAN) e Pedro Tavares (funcionário) já havia mostrado anteriormente aquilo que faz – tanto em estúdio, com EPs lançados entre 2016 e 2018, como em palco – mas este trabalho parece ser a maior prova da abordagem irreverente (e aliciante) do duo. “Exílio” abre com ritmos e paisagens tropicais que marcam o caminho de uma aventura envolvente, marcada por diferentes sonoridades, de pop a dança leftfield, e desencadeada por elementos como melodias vindas de sintetizadores, samples ou a voz de Maria Reis em dois dos temas. A não perder.



Valentina Magaletti, Marlene Ribeiro – Due Matte [Commando Vanessa, 11 de junho]
Musique concrète e experimental ao mais alto nível. Assim podemos descrever este “Due Matte”, um álbum que resultou da residência artística “Hysteria”, que aconteceu em maio de ano passado na Sonoscopia, no Porto. O trabalho junta Valentina Magaletti (Tomaga, Vanishing Twins) a Marlene Ribeiro (Gnod, Negrabranca), nomes que, segundo a label, são dois dos mais importantes artistas do underground britânico. Os recursos sonoros são quase incontáveis, mas por entre percussão fantasmagórica e muito mais, é difícil não ficar agarrado ao universo para onde “Due Matte” nos leva.



Clarity – Clarity EP [UVB-76, 12 de junho]
Bons olhos o vejam, caro Clarity. Era apenas um miúdo de 16 anos quando tomou o drum’n’bass de assalto e se colocou no topo da cadeia no que ao deep/halftime diz respeito. O rumor que voltaria com um trabalho de sua autoria já circulava, e o hype nos fãs destes subgéneros era enorme. E, embora sem a irreverência disruptiva dos seus inícios onde virou cabeças a uma sonoridade até então pouco explorada, este novo trabalho segue a receita que nunca falha. Se a especialidade exímia de um restaurante é o bacalhau com natas, porquê alterar o prato?



Sally C – Big Saldo’s Chunker EP 001 [Big Saldo’s, 12 de junho]
Que Sally C é uma selector com provas dadas já sabíamos – DJ sets para o Boiler Room, Crack Magazine, I-D ou Hyponik contribuíram para que se estabelecesse como uma DJ revelação nos últimos tempos. O que desconhecíamos era a sua vertente de produção (pudera, este é o seu EP de estreia). Em “Big Saldo’s Chunker EP 001” é bem evidente a sua paixão pela era dourada do hip house e as sonoridades entre 88 e 98. Quem vos avisa, vosso amigo é: mantenham esta jovem irlandesa dentro do radar.



Vários Artistas – Tasty Treats 4 The Kids Vol 2 [Childsplay, 13 de junho]
Não se deixem enganar pelo artwork à la Now 3000. Esta compilação de vários artistas está repleta de gourmet auditivo, camuflado pelo informalismo que a londrina childsplay tão bem explora (espreitem o restante espólio – bem gostoso). A editora, que é (ou era, na era pré-covid) também responsável por algumas das raves ilegais mais famosas da capital britânica, classifica este lançamento como “90s rave para a idade da internet”. A julgar pelos breaks, jungle desenfreado, techno e todos os elementos presentes nas faixas, diríamos que a designação foi na mouche.



Kids on Acid – Sonoplasta [Extended Records, 17 de junho]
“Rave, peso sem arrogância, pura libertação corporal”. Assim é descrito “Sonoplasta” pela lisboeta Extended Records e não temos como o negar. Depois de uma série de lançamentos independentes e de participar em compilações da Hayes e da Warok, José Infante comprova por que razão a sua música merece fazer parte do catálogo de labels nacionais ou internacionais. Assumido fã do lado mais analógico, Kids on Acid pegou nas máquinas e compôs três faixas para este EP, levando-nos por estradas techno com diferentes nuances. “Sonoplasta” é hipnótico, mental, arrebatador. Só falta mesmo uma pista para o ouvir.



Swan Palace – No Miracles [Rotten \ Fresh, 17 de junho]
Pedro Menezes, ou Swan Palace, tem-se revelado como um dos tesouros escondidos que mais merece ser iluminado por holofotes. Durante os últimos tempos, mostrou produções através de compilações ou dos trabalhos com o duo 7777 の天使, que partilha com DRVGジラ, mas neste álbum de estreia evidencia em pleno a tão bela abordagem da sua música, com sonoridades ásperas envolvidas em ambiências convidativas e muito mais. Longa-duração catalogado como “power ambient” no Bandcamp, deste lado preferimos não ir tão longe: “No Miracles” é amor. Muito amor.



Molero – Ficciones Del Trópico [Holuzam, 19 de junho]
Muitas vezes utilizam-se palavras como “viagem” para descrever música, mas fica a impressão de que isso nem sempre é verdade, especialmente quando nos chega aos ouvidos algo como “Ficciones Del Trópico”. Por incrível que pareça, é o primeiro disco de Alexander Molero, venezuelano que se inspirou nas visões que escritores do ocidente têm sobre a Amazónia para compor este trabalho desde Barcelona, onde vive há vários anos. Com um sintetizador Yamaha CS-60 como base, Molero, bebendo de géneros como new age, criou autênticas paisagens sonoras que fazem mesmo visualizar um mundo distante. Distante, mas do qual fazemos parte ao ouvir estes 45 minutos que passam a voar.



Naarky (micrometerman mono) – stop the world and delay it while it catches back up [Arctic Dub, 20 de junho]
Em poucas palavras, este lançamento é delicioso. Desde o primeiro momento, “stop the world and delay it while it catches back up” aliena-nos deste mundo, transportando-nos para outro onde somos envolvidos por paisagens ambient, dub, techno. Por aqui há elementos como kicks subaquáticos e vozes alucinantes – tudo no ponto e numa receita irresistível. No final de contas, o britânico vive à volta da música – além de assinar produções como Naarky (micrometerman mono), é engenheiro de som na Superordinate Dub Waves – e talvez seja essa mesma experiência que o fez trabalhar neste EP com tanta mestria.



Terra Chã – Edhel [Release/Sustain, 25 de junho]
Há dois anos lançaram o EP de estreia “Dupla Insularidade” pela ZABRA, em junho o novo “Edhel”. Influências como dub ou downtempo já eram audíveis no primeiro trabalho da dupla de Fabrizio Reinolds e Ricardo Fialho (Inversus), algo que se mantém neste mais recente EP – ainda que a abordagem seja ligeiramente diferente, com pormenores algo house e techno nas duas faixas originais deste “Edhel”. Como se não bastasse, os patrões da Release/Sustain, os portugueses Moody Waters e Himan, aproveitaram para rematar o lançamento com dois bonitos remixes.



Arca – KiCk I [XL Recordings, 26 de junho]
Alejandra Ghersi é possivelmente uma das artistas que mais e melhor transpõe uma vasta panóplia de influências para a sua música. É um daqueles nomes que quer e procura fazer isso e, no fundo, é uma referência de uma onda de produção que parte, muitas vezes, da desconstrução. “KiCk I” é bem mais mexido – e menos melancólico – do que o álbum anterior, de 2017, e tem sonoridades que passam por detalhes que podem parecer estranhos aos ouvidos da comunidade eletrónica, como é caso de reggaeton. Mas Arca experimenta como ninguém e compôs um álbum para ouvir vezes sem conta, com nomes como Björk a atuar apenas como cerejas – afinal, todas as camadas do bolo já são incrivelmente apetecíveis.



VOLSK – Scorpio Rising [Capital Decay, 29 de junho]
Francisco Antão chega imponente no seu novo trabalho. “Scorpio Rising” foi editado pela lisboeta Capital Decay e é um álbum onde o portuense acaba por revelar o seu alcance e o da produção nacional, neste caso longe dos habituais e usuais padrões house e techno que tanto se escutam. É claro que VOLSK deve ter as suas influências techno, mas neste disco caminha também por campos de electro, industrial e EBM. “Scorpio Rising” é um álbum ríspido e duro, mas igualmente polido e refrescante.

Textos por Daniel Duque e Rui Castro

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