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Entrevista

IAN: o exercício de liberdade da violinista Ianina Khmelik

18 Dezembro, 2020 - 17:03

Ianina Khmelik é a mulher por detrás de IAN, projeto que une voz, synthpop, piano, violino e muito experimentalismo à mistura, que apresenta hoje às 17h15, em concerto na Altice Arena.

Ianina Khmelik nasceu num Moscovo em transição. Em criança, rodeada de familiares ligados ao governo soviético, acompanhou de perto o fenómeno da perestroika no seu epicentro, onde desde cedo marcou um trajeto de excelência na música clássica. Estudou violino no Colégio Musical Gnessin e integrou a Orquestra Sinfónica do colégio, o que permitiu que atuasse enquanto violinista em concertos pela Rússia e pelo mundo fora, como afirma em entrevista à Threshold Magazine.

IAN, o seu “exercício de liberdade”, transpõe as fronteiras da música clássica para o universo do synthpop experimentalista. Entrevistámos Ianina Khmelik no âmbito do seu concerto do SBSR.FM Em Sintonia, procurando entender a origem das sonoridades da violinista que será uma das autoras convidadas do próximo Festival da Canção.

IAN apresenta-se como uma fusão entre diferentes tipos de música. Conta-nos um pouco sobre o teu percurso de descoberta destes vários mundos, e como é que tal culminou no teu atual projeto e no álbum “RaiVera”.
O meu conhecimento com a música em geral começou desde muito nova. Com 4 anos de idade iniciei os meus estudos musicais. Desde pequena foi-me incutido um leque de obras de várias épocas. Desde barroco até ao século 20, tocava e estudava obras que me acompanham até aos dias de hoje. De Vivaldi ao Prokofiev, de cantos gregorianos à Árvo Pärt. Na adolescência comecei a descobrir a música pop/rock. Achei a descoberta incrível, gostava de estilos completamente diferentes. Adorava os Nirvana e todo o culto do grunge na altura, Sex Pistols e o seu punk-rock que me divertia imenso, mas também ouvia os Wu-Tang Clan e 2Pac, por exemplo. Acho que todos os estilos me preenchiam os dias. Quando me mudei para Portugal, abriu-se um leque ainda maior, comecei a conhecer e a partilhar palcos com bandas que não conhecia. Experiências únicas que vivi cá em Portugal e fora no mundo. Toda essa vivência foi o complemento para IAN e para o que trago dentro de mim, uma necessidade de expressão.

A música eletrónica e a clássica surgem frequentemente entrelaçadas, como acontece na versão da Clara Rockmore do “The Swan” de Saint-Saëns ou no Bach’s Air da Delia Derbyshire. Sentes a tua experiência na música clássica como muito diferente da que tens em IAN?
A música clássica / contemporânea está muito entrelaçada no projecto IAN sem dúvida, existem parecenças por exemplo na preparação e na interpretação. Ensaio para o concerto da IAN com a mesma seriedade que pratico na Casa da Música enquanto violinista da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, a diferença é que em IAN também componho e penso na parte cénica.

Enquanto artista, como é que viveste o último ano?
2020 está a ser um ano de contrastes, em agosto lancei o álbum “RaiVera”, tem sido emocionante desde então. Quanto a tudo o resto que tem acontecido, até agora tenho tentado sempre reagir com calma e otimismo. Voltei a ter o hábito de leitura, algo que outrora gostava muito, mas que por falta de tempo tinha deixado de fazer.

A tua música não só atravessa estilos diversos como também um variado leque de emoções. Como é o processo de transpor a componente emocional para a música?
Creio que não existe nenhuma transposição, acontece tudo de forma mais natural, apenas a necessidade de o fazer. Depois disso, tudo flui naturalmente.

Sabemos que contaste com a colaboração do Nuno Gonçalves na produção deste álbum. Como é que surgiu a decisão de colaborar e como é que correu a experiência?
Creio que foi em 2006 que tive o privilégio de partilhar pela primeira vez o palco com os The Gift, como membro de outra banda. Já na altura (do álbum “AM-FM“ dos The Gift) lembro-me de ficar maravilhada com as músicas e a qualidade da produção… fiquei muito feliz quando o Nuno aceitou embarcar nesta experiência comigo. Foi sem dúvida muito gratificante, o Nuno limou o “RaiVera” sem o desvirtuar.

Numa outra entrevista, para a Threshold Magazine, apresentaste-te como alguém que experienciou a perestroika em criança, e que viveu o fenómeno político e social russo de perto. Sentes que esse impacto das vivências se transmite, direta ou indiretamente, na tua música?
Sem dúvida… essas vivências foram uma montanha russa de emoções… “RaiVera“ é um neologismo entre RAI (paraíso) e VERA (fé). Ao dizer “RAIVERA”, eu associo com a palavra força, resistência. Tudo isto pode-se encontrar nas minhas canções. Solidão e lamento, a caminharem de mão dada com a felicidade e amor.

Qual é o futuro de IAN?
O futuro de IAN é interessante! Logo em fevereiro tenho o Festival de Canção para o qual fui selecionada como compositora. No dia 8 de março, o Teatro Maria Matos de Lisboa recebe o meu espetáculo de apresentação deste meu disco de estreia, e no dia 14 de março voltarei à “minha” Casa da Música, mas desta vez com a peruca posta!

Os bilhetes para o espetáculo na Casa da Música e no Teatro Maria Matos estarão à venda brevemente.

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