AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Entrevista, Lançamento

“Deusa Náusea” acompanha a “evolução e existência” de Inês Malheiro

17 Outubro, 2022 - 18:38

“Deusa Náusea” é o novo álbum de Inês Malheiro e foi o pretexto ideal para uma conversa com esta importante voz bracarense.

É uma das vozes mais interessantes da atualidade na música eletrónica em Portugal. E neste caso não falamos de voz apenas no sentido figurado: essa é mesmo a principal fonte da música de Inês Malheiro, jovem que fez chegar “Deusa Náusea” neste mês de outubro.

Claro que Inês Malheiro não se limita a usar a voz, embora esse seja um dos pontos mais chamativos do seu trabalho. Editado pela Lovers & Lollypops, o novo álbum mostra essa particularidade com clareza, numa procura em que o processo parece ter tanto significado quanto o resultado.

“O álbum não foi todo feito na mesma altura, foi atravessando várias fases e diria que isso se reflete nas letras também. Acho que neste disco senti que as letras eram mais um material plástico para conduzir a voz do que uma fonte de significado objetiva”, conta-nos Inês numa conversa via email.

“Sinto que é fácil ter primeiras ideias, mais difícil é desenvolvê-las e acabá-las”, admite. E se as letras surgem de “notas aleatórias no caderno ou de improvisações parvas na rua”, a música é reflexo da “evolução e existência durante dois anos.”

Afinal, este disco é fruto do trabalho desenvolvido durante esse período: “tem músicas feitas na primeira quarentena, em que estava a tentar fazer músicas de início ao fim”, e “tem músicas mais recentes em que [Inês Malheiro] tinha uma ideia mais concreta sobre o que queria (fosse o mood ou a técnica de processamento) antes de pegar no som.”

O álbum “acompanha as abordagens e vontades” que “foram mudando” e, para Inês, mostra também uma energia que “balança entre beleza e imperfeição.” Podemos encontrar aí uma relação com o título, “Deusa Náusea”, mas tudo não passa de “uma brincadeira de fonética e de grafia” – “estava a explorar combinações de palavras e adorei o som desta combinação”, recorda a música bracarense.

Sem dores de crescimento, Inês Malheiro tem vindo a mostrar o encanto da sua música há algum tempo, seja através das composições lançadas no SoundCloud, da série de eventos RASGO ou da dupla Fura Olhos, que partilha com Miguel Pedro, dos Mão Morta. Todas “essas aventuras são coisas que quer e gosta de fazer”.

“Eu gosto imenso de fazer coisas diferentes e sinto que a minha perspectiva fica mais ampla com cada experiência”, nota a jovem. “Até o que corre mal ou o que acabo por não gostar é útil por me fazer perceber que se calhar não é por ali que tenho de ir.”

Apesar de tudo, Inês Malheiro não se consegue “ver a ter só um foco.” A bracarense “gostava de investigar coisas diferentes” e de “colaborar com outras áreas e formatos”, sim, mas admite também que “gostava de melhorar as suas ferramentas de produção.”

Há ainda a certeza clara de que Inês “adora usar a sua voz” para compor. Tudo foi suscitado em 2017, no festival Semibreve, quando viu e ouviu Beatriz Ferreyra a apresentar Echos, “uma peça incrível a partir de gravações de uma tia dela a cantar.” “Umas semanas depois”, recorda, “tinha de fazer um trabalho de faculdade baseado no trabalho de alguém e fiz uma música baseada nesta peça. Foi a primeira vez que cortei e colei a minha voz e gostei bastante.” Sorte a nossa.

A evolução de todos estes anos e vivências, bem como este novo disco, pode ser experienciada nos concertos de apresentação agendados para breve. Estes acontecem nos dias 20 (sede Lovers & Lollypops, no Porto), 21 (Casa da Cultura, em Setúbal) e 22 (ZDB, em Lisboa).

“Estou agora a montar o concerto e acho que se vão ouvir linhas principais do disco entre improvisações e texturas”, reflete Inês Malheiro sobre essas datas. “Vai ser uma deusa náusea diluída.”

Fotografias por Beatriz Blasi

relacionados

Deixa um comentário







t

o

p