AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Entrevista

Lewis Fautzi: “Não há terapia melhor do que a música”

22 Setembro, 2023 - 12:34

Depois de um acidente de mota, Lewis Fautzi encontrou refúgio na produção do novo álbum “Manner of Death” numa cama de hospital. Agora, em entrevista, fala sobre a importância desse disco e da música na sua vida.

Corria o verão de 2013 quando Ben Klock e Marcel Dettmann, em b2b, tocaram Out Of Me em pleno Meco, no festival Super Bock Super Bock. Delírio total na pista e eu, mais novo, sem saber de quem era aquela faixa. Descobriria mais tarde que era de Lewis Fautzi, que assinava também como Nuklear Default nessa altura. Cerca de 10 anos após esse momento e o seu longa-duração de estreia, “The Gare Album”, o DJ e produtor de Barcelos lança “Manner of Death”, possivelmente o trabalho mais pessoal e sincero até à data.

Luís Gonçalves é mais conhecido pelo techno duro, enérgico e mental que leva a editoras como PoleGroup ou Soma, bem como pelos sets provocadores que já assinou um pouco por todo país e até além-fronteiras. Mas também é responsável por discos mais densos e introspetivos – agora com este novo, por exemplo, ou com o álbum de 2019 “Insanity Department”.

Na verdade, conta à A Cabine em entrevista, este é o “tipo de música que realmente lhe dá mais prazer de produzir.” Lançado pela sua própria Faut Section, “Manner of Death” foi composto numa cama de hospital, de fones nos ouvidos e portátil nas pernas. Foi a forma de Fautzi “conseguir sorrir todos os dias” depois de um acidente de mota que o afastou dos palcos. É que, no fim de contas, “não há terapia melhor do que a música.”

Disponível em vinil, além da versão digital, o novo disco é “basicamente um paralelismo entre o que sentia na vida real e o que pretendia para o álbum”: “Tentar sair um pouco daquele sítio e extravasar fronteiras. Transcender-me e, por momentos, ter a mente bem distante do momento pelo qual passava”, reflete via email.

Agora recuperado, Lewis Fautzi sabe que “a sua vida tem sido incrível” e que “não se pode queixar”. Diz que “está muito feliz com o momento que está a passar” e recorda com carinho a “evolução enorme” que percorreu: “Hoje olho para trás e na altura pensava que sabia tudo e basicamente não sabia nada. Todos os dias estou a aprender e é impossível sabermos tudo. Então, estou sempre em constante evolução, ainda não sei tudo e irei morrer sem saber.”

Ciente de que “tem uma carreira super estável” e de que é “bem respeitado” no circuito mundial, Luís Gonçalves sabe que só tem a agradecer por aquilo que viveu e vive. Esse respeito sente-se em eventos como o festival Neopop, por exemplo, onde é normal se encontrarem camisolas (até do Óquei de Barcelos) com “Lewis Fautzi” inscrito nas costas.

“Eu vejo isso como uma prenda ao meu trabalho”, conta-nos: “Esforcei-me e continuo a esforçar-me como no primeiro dia e gosto do reconhecimento que o meu público me dá. É um gesto bonito a meu ver e que me deixa muito orgulhoso do meu percurso.”

Lewis Fautzi é de uma cidade com talento para dar e vender. Em anos recentes, Barcelos tem trazido muita música boa, como é caso de Cálculo nos campos do hip-hop ou dos Glockenwise a lançarem discos tão aclamados quanto “Gótico Português”. Mas Luís não esconde que certas “mentalidades sejam um pouco retrógadas”: “Quando alguém tenta fazer algo pela cultura musical, o apoio é pouco ou nenhum. As vozes críticas são muitas e são daqueles que nunca fizeram nada em condições pela música de dança, mas não passam disso, críticos sem assunto.”

Mas nada tira a força a Luís Gonçalves. “Manner of Death” é prova disso. E dele, como sempre, “pode-se esperar muita coisa”. Há projetos novos a caminho, sejam a solo ou lançamentos da sua Faut Section, e, claro, há sempre a certeza de que Lewis Fautzi é um dos maiores porta-estandartes do techno feito em Portugal.


“Manner of Death” está também disponível nas plataformas de streaming e em vinil

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