AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Entrevista

Xuri: “Depois de muita música mais rápida, precisava de fazer algo diferente”

18 Março, 2024 - 12:41

Com novo álbum na bagagem, a dinamarquesa Xuri está prestes a estrear-se em Portugal, mas não sem antes nos contar mais sobre “Serene Trails”.

Talvez resultado de um mundo cada vez mais célere, são muitos os nomes que ouvimos transicionar de música rápida e dura para trabalhos mais calmos e introspetivos. Não que Xuri tenha largado esse lado de vez, pontualmente audível em “Bedlam Of Salt” (2021), mas é nas coordenadas mais “experimentais e ambiente” que se quer focar neste recente projeto a solo.

O novo álbum de Susanne Cleworth com esse pseudónimo mostra precisamente uma roupagem ambient mais suave, como até o próprio nome “Serene Trails” (caminhos serenos, em português) indica, e é “reflexo de onde [a dinamarquesa] está na vida”, conta nesta entrevista. Tudo começou com gravações de cantos de pássaros na Austrália e o resultado final será conhecido no próximo dia 22, pelo Colectivo Casa Amarela, ou nos concertos em Portugal, para quem estiver presente.

Olhar para a discografia da dinamarquesa é olhar para um vasto percurso que é maioritariamente lançado pelos selos Amniote Editions ou Janushoved. Por entre pseudónimos como Cabalist e Parietal Eye ou a dupla Atikka, há muito para ouvir na música de Susanne Cleworth – de experimental a techno.

Aqui, em “Serene Trails”, é entre ambient e natureza que nos encontramos. Antes dos concertos em Portugal – esta terça-feira 19 é na 26ª edição de JEJUM, na Rua das Gaivotas, e na sexta 22 é na Galeria Tratuário, no Funchal – Xuri fala sobre o novo disco, a ligação com o Colectivo Casa Amarela e dá até alguns conselhos para quem quiser visitar Copenhaga.

Obrigado por esta entrevista, Xuri, e parabéns por este novo e brilhante disco. De que forma vais do “Bedlam Of Salt”, mais intenso, para este “Serene Trails”, mais calmo?
Obrigada pelas palavras simpáticas e pelo interesse demonstrado. Agradeço imenso.

Antes de mais, a minha música é um reflexo de onde estou na vida. Depois de ter lançado muita música mais rápida, precisava de fazer algo diferente. Tive uma abordagem meditativa e calma para fazer este álbum. Estava a visitar a Austrália, o sol estava a brilhar, estava rodeada de música e, a certa altura, fui rodeada pelo belo e repetitivo canto dos pássaros. Gravei rapidamente o canto no meu iPhone e comecei a compor música nova.

Na faixa de abertura, podes ouvir um grande “bolo de layers”, onde lentamente construí camadas de sintetizadores repetitivos em harmonia. Na parte dois desta faixa, ela desdobra-se numa paisagem sonora ambiente mais serena. Depois de a compor, dei por mim a formar um dogma (o primeiro dogma que usei) – cada nova faixa é composta a partir da última, tudo num único projeto Ableton. Por outras palavras, compus a primeira faixa, depois a segunda, a terceira e por aí diante até ao fim.

Talvez seja também por isso que há semelhanças entre as faixas – estava sempre a trabalhar dentro da mesma paisagem sonora.

O disco é um reflexo da tua vontade de abordar a natureza? Sabemos que uma das inspirações vem das gravações que fizeste de pássaros araponga. Como é que descreves este “Serene Trails” ou até a relação entre esse lado da natureza e o resultado final?
É verdade, a inspiração veio do belo canto do pássaro araponga de Nova Gales do Sul na Austrália, e o canto faz lembrar um som mais industrial e repetitivo. Este som inspirou-me a fazer um álbum eletrónico que imitasse os sons da natureza. Senti que o meu dogma e a minha abordagem à composição do álbum refletem o fluxo orgânico e a imprevisibilidade da própria natureza.

Não estás sozinha e estendeste o convite à Sofie Birch e ao John Cleworth. Sei que não te são nomes estranhos, mas porque e como decidiste escolher estes nomes para este trabalho em particular?
Uma vez que se trata de um álbum maioritariamente eletrónico, quis incorporar alguns elementos acústicos, e que melhor maneira do que com a bela voz de Sofie Birch. Dei-lhe a liberdade de escolher a faixa sobre a qual cantar, da forma que lhe apetecesse.

O meu marido, John, e eu trabalhamos regularmente em conjunto, por isso foi natural convidá-lo a colaborar. Como o John também é percussionista, ele trouxe alguns dos elementos rítmicos para algumas das faixas. Ambos temos qualidades diferentes, por isso trabalhamos muito bem em conjunto. O John também teve o prazer de misturar e masterizar o álbum!

E a ligação ao Colectivo Casa Amarela, como se deu?
Vivi em Lisboa durante alguns meses há uns anos, altura em que tive o prazer de conhecer o CCA. Desde então temos mantido contacto e respeito muito o trabalho deles na cena underground da cidade. Achei que o meu álbum se podia adequar à direção deles e é importante para mim que o disco esteja nas mãos de pessoas gentis.

Os concertos em Portugal vão basear-se neste “Serene Trails” ou podemos esperar mais além disso?
Como se trata de um concerto de lançamento, basear-se-ão no espírito do “Serene Trails”. Mas quem sabe, tenho tendência a provar que estou errada.

Como é que desdobras em tantos projetos? Seja a dupla Atikka, por exemplo, ou os teus números pseudónimos, como Parietal Eye e tantos outros?
Desde que comecei a fazer música como Atikka com o John, a maior parte da música mais orientada para os clubes vai agora para esse projeto. A música mais experimental e ambiente fica no meu projeto a solo como Xuri.

Vais continuar a fazer música com esses outros projetos a solo ou o foco está agora em Xuri?
Estou a trabalhar de perto com John Cleworth em vários projetos. Já tocámos várias vezes como Xuri x John Cleworth e tivemos o prazer de estrear recentemente algumas músicas novas num evento da Raster em Dresden. Por isso, quem sabe, talvez essa colaboração precise de um novo nome?

Vens de uma cidade com uma cena eletrónica interessante e que, vendo daqui, dá muita vontade de visitar e conhecer. Para portugueses que gostem de eletrónica e variados, o que aconselhas a visitar, seja lojas de discos, clubes ou o que bem entenderes? E, já agora, o que aconselhas a ouvir?
Há tantas coisas interessantes a acontecer aqui em Copenhaga. Há sempre coisas novas a aparecer e novas equipas a fazer o seu próprio caminho. Posso recomendar com certeza a Proton Records! Têm a melhor seleção da cidade e podem sempre recomendar alguns espectáculos interessantes. Quanto aos locais, recomendo o ALICE CPH e, se tiveres tempo para explorar, podes apanhar o comboio para Malmö, na Suécia, e visitar o Inkonst. Tanto o Alice como o Inkonst têm uma óptima programação. Recentemente, ouvi Jan Jelinek no Alice. Se estiveres à procura de uma discoteca, então Den Anden Side é provavelmente o sítio a ir. Se estiveres por cá em julho, temos um enorme festival de jazz com alinhamentos internacionais, ao qual assisto desde criança. E se prolongares a tua estadia até agosto, pode assistir ao melhor festival de música eletrónica, Strøm.

Obrigada!

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