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Lançamentos favoritos de outubro

8 Novembro, 2023 - 19:04

Música de muitos feitios, incluindo produção nacional assinada por Alagoa, Conferência Inferno, Luís Contrário, Mazda Fields, Nídia, Tomé ou Xexa.

Alagoa – The Jar [turva]

Cineasta e artista multimédia português que se divide entre Lisboa e Luxemburgo, Alexandre Alagoa é um dos nomes por trás da turva e é por essa mesma editora que lança este álbum. “The Jar” não é a estreia de Alagoa enquanto produtor e mostra um lado algo diferente se comparado com discos como “To Be A Mountain”, editado pela Variz em 2018. Também inspirado em música acusmática e concreta, este “jornal sonoro” tem como base gravações de campo, síntese granular e muito sampling de vozes, sendo precisamente no trabalho de voz que está um dos lados mais ricos daquele que é, sem dúvida, um dos lançamentos mais especiais na música ambiente e experimental portuguesa em 2023. DD

Christian AB – Red Tears [La Nota Del Diabo]

O DJ e produtor britânico tem-se destacado no circuito underground de house nos últimos anos – e para nos, bem poderá ser um dos segredos mais bem guardados do estilo. Ora pelos trabalhos que, com a devida cadência, vai colocando cá fora, ora pela capacidade que lhe é reconhecida de selecionar discos inovadores, tornou-se uma espécie de nome de culto para a enorme minoria que o segue. Muitas vezes associado a Quest, par italiano que, entre outras notas, é o responsável pela El Nota Del Diablo, editora que recebe “Red Tears”.

Cada vez menos minoria, no entanto, porque é difícil manter-se à margem com discos como “Red Tears” e, por exemplo, aqueles que assinou pela Timeless recentemente. Mas não é impossível, tendo em conta que o som que prescreve – um house emotivo, cru, que cruza as fronteiras do género e faz as pazes com o techno mais moderado – continua a ser consumido apenas em doses comedidas em clubs e festivais de lotação mais reduzida. Vejam do que falamos e conheçam Christian AB e a sua música através deste trabalho (talvez faça mais sentido). NV

Conferência Inferno – Pós-Esmeralda [Lovers & Lollypops]

Alerta! Há novo álbum de Conferência Inferno. O trio de Francisco Lima, José Miguel Silva e Raul Mendiratta continua na senda do pós-punk, new wave e badwave, como lhe chamam, e não esconde que “Pós-Esmeralda” é fruto de um período mais atribulado para os três a nível pessoal. Isso não significa que o disco seja apenas soturno, atenção: há esse lado, claro, mas também há a vertente mais festiva e dançável, como havia em “Ata Saturna”. Agora com um baixo evidente na equação, a banda mantém os synths, as letras e a atitude que faz dela um caso tão sério. DD

Lê mais: Conferência Inferno: “Este disco é sobre saúde mental, pressão e ansiedade” (Miguel Rocha, Playback)

Deep Pearl – Red October [Sound Migration]

Reconhecemos que não andávamos em cima da editora Sound Metaphors – como provavelmente deveríamos – até tempos recentes. E de facto, a label berlinense tem feito um trabalho mais do que interessante a reeditar discos de outras décadas e a publicar novos. Além disso, parece ter um papel ativo na cena eletrónica da capital alemã, que, como todos sabemos, continua a ser muitas vezes precursora na música de dança.

Quanto a Deep Pearl, estes consistem no duo de Mark Lloyd e Mark Robertson, e, até à edição de “Red October”, ainda não tinham cozinhado em conjunto. Foi mesmo uma estreia, não obstante terem assinado vários trabalhos no passado individualmente – sobretudo Robertson. Trata-se de uma reedição dos anos 90 (ainda que o ano não seja claro), descrita pelos responsáveis como “um trabalho orientado para a pista de dança, que parece fazer a transição entre as primeiras sonoridades acid e um estilo mais progressivo e hipnótico”. Um tema e uma reconstrução altamente recomendados. NV

Luís Contrário – músicas de dança para pessoas tristes [Saliva Diva]

Baixo, pedal de loops, drum machine, sintetizador e o coração de Luís Contrário lá espelhado. “músicas de dança para pessoas tristes” é o primeiro registo deste nome e traz precisamente isso: ritmos para dançar envolvidos em tons mais melancólicos. Com muito destaque dado às cordas, mas sem deixar afogar elementos que põem o pé a bater, este é um disco refrescante que fica muito bem a correr no escritório, no carro ou simplesmente na sala de estar. DD

Mazda Fields – .IN [wav.in]

Belo álbum de estreia, este. Mazda Fields, como quem diz Rodrigo Campos, não produz há muito tempo, mas já captou a nossa atenção. Depois do EP de estreia em 2022, “absent”, o bracarense do coletivo wav.IN, pelo qual este disco é lançado, traz “.IN”, trabalho marcado por inclinações house que não deixam de parte influências indie ou pop. Muito melódico, é um disco alegre cheio de sintetizadores e vozes, tudo numa fórmula para todos e todas – e para beijar amores na pista ao som de temas como Float.IN, que conta com a participação de Mafalda BS. DD

Miro Benji & Tuster – Odysseia [Free Shelter]

Jovem, se procuras uma boa dose de breakbeat jungle desprovido de histerismos e produção exacerbada, vieste ao sítio certo. Em “Odysseia”, este duo finlandês resgata o feeling primordial destes géneros sem inventar muito. E por vezes é a descomplexar que está o ganho. Portanto, o resultado são quatro faixas super sólidas, das quais destacamos Kansas e Space Rock, que, por sinal, são também as que estão mais orientadas para a pista. RC

Nídia – 95 MINDJERES [Príncipe]

Depois de um 2020 altamente prolífico, que incluiu o lançamento do reconhecido “Não Fales Nela Que A Mentes”, Nídia regressou aos álbuns (e à Príncipe) com “95 MINDJERES”. Dedicado às mulheres que lutaram pela liberdade ao lado do PAIGC, como Teodora Gomes e Titina Silá, é um manifesto e disco indispensáveis. Nídia é “bem má e fudida”. Que o digam os ritmos e melodias desta visão tão especial. DD

Tomé – All I Am Is We [Angel]

O jovem talento Tomé assina o segundo lançamento da lisboeta Angel, editora-irmã da naive e da naivety, de Violet. A (des)construção rítmica de “All I Am Is We” cativou-nos por completo, não só pela notável fusão de géneros, como também pela progressão das faixas e mudanças bruscas dentro das mesmas – veja-se a brilhante Skull Emoji, por exemplo, que, aos 2:20min, sofre uma viragem mais pausada, nada expectável. E é isso que define “All I Am Is We”, um trabalho desprovido de barreiras e imprevisível, simplista nos ideais, mas complexo na conceção. Sobretudo, é diferente e ousado, e isso é louvável. A fasquia está alta para o futuro. RC

Vários Artistas – Tribute to Jabaru [Drumad]

“Tribute to Jabaru” é um álbum de 111 faixas dedicado à memória de Afonso Santos, DJ e produtor nacional de drum’n’bass, que infelizmente partiu em janeiro deste ano. Mas mais do que “apenas” um álbum dedicado a Afonso, este é um trabalho que visa alertar e fomentar a discussão sobre doenças mentais e o impacto que estas podem ter na sociedade. Aqui, foram muitos os produtores nacionais e internacionais – HLZ, Jam Thieves, Blast, Skalator – que doaram as suas faixas, cujo lucro das vendas reverterá para a instituição portuguesa “GIRA” – Grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa – que se dedica a apoiar de cidadãos com doenças mentais. Neste VA, há também temas do próprio Jabaru, de quem destacamos o techstep de Missed, uma colaboração com Myth. A editora aveirense Drumad foi a responsável pelo lançamento, ação que aplaudimos e apoiamos a 100%. RC

Xexa – Vibrações de Prata [Príncipe]

O brilhante e emotivo novo álbum de Xexa traz a visão afrofuturista desta música e mostra por que razão este é um dos nomes mais excitantes da eletrónica feita por cá. Com as origens de São Tomé e Príncipe ou a vida em Londres a terem papel naquilo que compõe, a segunda mulher a assinar a solo pela Príncipe traz um tom ambient à editora, que prova assim, mais uma vez, que nunca deixa de nos surpreender. Sintetizadores e voz, sopros, teclas e apontamentos rítmicos, detalhe e sentimento, conforto e coração. Difícil não ficar rendido. DD

Zeno Pisu – Gems From The Past [Nugs on Board]

Zeno Pisu é um artista italiano com apenas dois temas publicados, um em 1994 e outro em 1995. Nos não o conhecíamos, até a editora nacional Nugs On Board nos fazer o favor e publicar o, agora, terceiro trabalho do DJ e produtor, que dá uma nova vida ao próprio e resgata a sonoridade house associada aos anos 90 e ao efervescente movimento italiano dessa altura, do qual já só podemos ouvir falar.

Imaginamos também o esforço que não dará descobrir e materializar um disco com quatro temas produzidos há mais de duas décadas. Mas conseguimos perceber porquê e este disco fará certamente o seu trabalho numa pista de dança contemporânea. Tudo música estimulante para o corpo, como poderão comprovar desde logo com a faixa de abertura, Waiting for a Train (Crystal Edge). NV

Outros lançamentos a ter em conta:
Forest Swords – Bolted
Lee Gamble – Models
Lost Girls – Selvutsletter
Marina Herlop – Nekkuja
Pangaea – Changing Channels
Slauson Malone 1 – EXCELSIOR

Textos por Daniel Duque, Nuno Vieira e Rui Castro, imagem por Catarina Ribeiro

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