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Lançamentos favoritos de novembro

12 Dezembro, 2023 - 14:50

Ainda antes de olharmos para aquilo de que mais gostámos em 2023, os nossos favoritos de novembro.

Actress – LXXXVIII [Ninja Tune]

Nono álbum de Actress e mais uma prova da excelência de Darren Cunningham. Inspirado por xadrez (leia-se os nomes das faixas), esta é uma amostra clara da abrangência do londrino, que ainda assim nunca deixa de lado a coesão. Temas mais ou menos dançáveis, mais ou menos densos, vozes, piano, basslines, synths, bleeps, bloops ou tantos outros detalhes, todos com a assinatura reconhecível de Actress.

André 3000 – New Blue Sun [Epic Records]

Calma. Ninguém está a dizer que este é o álbum do ano ou da década. Primeiro, sei que não tenho autoridade para isso; depois, percebo que possa haver muito hype à volta de “New Blue Sun” – um pouco à imagem de “Promises”, de Floating Points e Pharoah Sanders com a Orquestra Sinfónica de Londres, que também dividiu muitas opiniões em 2021. A questão é que, especialmente nos dias que correm, é um refúgio bem-vindo. Ambient espiritual, new age e jazzístico de um nome que nunca pensámos ver nestas frentes nem tampouco à volta de flautas, ou não fosse este o álbum de estreia a solo de um nome que é maioritariamente associado aos Outkast. André 3000 não está sozinho nos créditos – Carlos Niño é o principal colaborador e há até o português Bráulio Amado a assinar a capa do vinil – mas o disco não deixa de saber a uma viagem pessoal. Tanto quanto aquela que nós próprios podemos fazer ao escutá-lo. DD

Bell Curve – Deep End [Dome of Doom Records]

“Deep End” pode não ser para as massas, mas basta conhecer o trabalho de Bell Curve – em nome próprio ou através da sua editora avant-garde Worst Behaviour Recs – para ter a curiosidade de o espreitar. Foi o que fizemos, e a riqueza sónica que lá encontramos justificou em pleno a sua presença nesta lista. A norte-americana apresenta o álbum como sendo uma viagem por vertentes futuristas do bass experimental e “aquatic minimal bass”, com influências tão díspares quanto o Chicago footwork, experimental dancehall, UK/Jamaican sound system culture, halftime e drum’n’bass. Quicksand, La Croix e sobretudo a viciante Type, com a vocalista Chiara Noriko, são as nossas escolhas como faixas de escuta obrigatória. RC

Bored Lord – Name It [T4T LUV NRG]

Qualquer lançamento da editora de Eris Drew e Octo Octa já é escolha certeira, portanto imagine-se a bomba que é Bored Lord a assinar um álbum pela T4T LUV NRG. Música de pista bem-disposta e cheia de vocais que presta homenagem à cultura breakbeat de que esta cada vez mais sonante DJ e produtora é tão fã. DD

John Parm – Hurry

Jovem, estás a ter um mau dia e precisas de uma daquelas faixas uplifting e good vibe para te animar? Não procures mais! Hurry é aquele electro-funk sensual que nos aumenta os níveis de serotonina em forma de pele de galinha. Cortesia do “belgian future funk sensation” John Parm, que faz uso da sua Just Begun Records para debitar esta pérola. Agora vá, mais audição e menos leitura. RC

Moritz von Oswald – Silencio [Tresor]

Silêncio. Fechemos os olhos. O pioneiro do dub techno Moritz von Oswald está prestes a tocar. Silencio, Luminoso, Infinito. Tudo títulos dos temas. Um coro de 16 vozes a trabalhar com o maestro. Sintetizadores como EMS VCS 3, Prophet V, ou Oberheim 4-Voice. Tempo. Espaço. Minúcia. Magia. DD

Okee – Soul Temptation [Codename: RCRDS]

Este é daqueles lançamentos que nos deixa logo em estado de alerta mal o escutamos. “Ui, que é isto? Cheira a algo do final dos anos 90… devem ser temas unreleased ou algo do género” Nop, são fresquíssimos, meus caros! Okee edita assim dois clássicos instantâneos, de tonalidades jazz, vocais vintage, breaks gostosos e basslines que minha nossa! Clássicos estes que contaram ainda com remixes tão bons quanto os de Missen e Moaks. Não sabemos se isto vai passar fora do radar de muitos DJs, até porque Okee não é ainda um nome sonante na cena drum’n’bass, mas cá para nós estão aqui quatro belas armas para arremessar à pista sempre que o momento o proporcionar. RC

Rainy Miller, Space Afrika – A Grisaille Wedding [Fixed Abode]

Talvez não fosse preciso dizer mais do que isto: “A Grisaille Wedding” é o álbum que junta Rainy Miller a Space Afrika. Mas vamos tentar: de um lado, um artista multidisciplinar de Preston; do outro, o esquisito (no melhor dos sentidos) duo de Manchester. Esta colaboração traz aquilo que mais poderíamos esperar desta união: emoção e sinceridade bem imprimidas num disco contemplativo que pode ser corriqueiramente descrito como ambient, mas que é muito mais do que isso. Com a companhia de nomes tão ricos quanto Coby Sey, Mica Levi e Voice Actor, este casamento do trio inglês é match made in heaven e é mais um daqueles trabalhos que sabe particularmente bem na secularidade que vivemos. DD

Shcuro – It Lasts Forever [Paraíso]

O lisboeta Shcuro estreia-se a solo na sua Paraíso e não podíamos deixar de assinalar este marco. Ou melhor, até podíamos, caso não achássemos que o lançamento fosse meritório de constar nesta lista. Mas “It Lasts Forever” é um dos melhores lançamentos nacionais do ano, com techno primordial como base da sua construção e o amor que João Ervedosa tem pelas sonoridades mais cruas de outrora. Um EP sem papas na língua e direto ao assunto, como se quer. U.N.I e a versão original de Together (as nossas prediletas) transpiram rave e mal podemos esperar por suar ao som delas. RC

Vários Artistas – ANLTCL 01 [Analytical Convenience]

Qualquer projeto que se dedique a eletrónica em Portugal merece a nossa atenção. Neste caso, a Analytical Convenience, que até então só conhecíamos pelo podcast e por ter organizado algumas festas no Porto. Agora, a estreia do braço editorial chega em formato de compilação e apresenta parte da equipa, esta marcada acima de tudo por novos produtores para manter debaixo de olho – embora nomes como BRNCHES, M3STR ou RÖM tenham outros trabalhos cá fora. Melhor ainda, há aqui diferentes abordagens à música techno: se tudo começa com o lado downtempo de Äag, o remate é feito com o groove saudosista de zxzx. Para ouvir e, se possível, apoiar. DD

VHS – Sonic Studies [HAYES]

Dúvidas houvesse de que VHS é um dos produtores mais especiais da nossa cena techno, o próprio explica nas conclusões dos quatro estudos que publicou pela HAYES em novembro. O trabalho empírico está evidente em “Sonic Studies”, mas o investigador bracarense nunca deixa de lado tudo que já leu nesta academia. Talvez mais denso do que outros lançamentos, o novo EP dá-nos de tudo um pouco – ora há um lado mais duro ou mais mental, ora há groove, toques dub ou reminiscências de breaks. Imperdível, claro. Ouvindo só uma, aquela a que a portuguesa Isa Leen dá voz, Sonic Study 2. DD

Textos por Daniel Duque e Rui Castro, imagem por Catarina Ribeiro

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