AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Crónica

Não te queremos perder, Forte

25 Setembro, 2019 - 11:10

Ficar sem Festival Forte é ficar sem aquele que é um dos mais importantes eventos a surgir nesta década em Portugal.

Sem merdas: o objetivo deste texto era responder às várias críticas de que fomos alvo na ressaca do Forte. Nas redes sociais, alguns leitores mostraram-se descontentes com as peças por nós publicadas, como se fosse objetivo de A Cabine denegrir a imagem do evento.

Como se estivéssemos a fazer algo para além da nossa obrigação enquanto publicação periódica, “um órgão independente” que “recusa que poderes externos influenciem” aquilo que devemos escrever para manter os portugueses informados.

Como se se tratasse de um tema exclusivo de A Cabine e ignorado pelos restantes media nacionais.

Como se, aliás, os membros fundadores de A Cabine não fossem fãs incondicionais do Forte. Somos, mas temos de ser imparciais.

No entanto, numa crónica podemos esquecer a imparcialidade. Aqui não há pudor – foi por isso que disse “merdas” no início. É completamente livre. Tão livre quanto a vida no Forte, um festival que merece inúmeros elogios da nossa parte – neste caso, através de um texto.

Infelizmente não consegui estar presente nesta sexta edição, mas quem sobe a vila para pisar o solo do Castelo de Montemor-o-Velho desde 2014 sabe o quão irreverente é o Forte. Sempre se afirmou como uma espécie de panaceia em jeito de despedida do verão. Sem pensar muito, isto deve-se, à partida, a três fatores: espaço, curadoria e àquela palavra que tanto se utiliza em contexto de festivais, ambiente.

É provável que o bom ambiente ande de mãos dadas com o espaço. Mas mais do que uma localização e experiência idílica, a festa em Montemor-o-Velho conta sempre com atos de absoluto destaque dentro do mundo techno. Mesmo com nomes como Ben Klock, Gaiser, Gui Boratto, Paul Kalkbrenner ou Sven Väth nos cartazes das duas primeiras edições, a organização rapidamente definiu o seu tipo de programação, que viria a ser mais um ponto forte do festival.

Uma programação mais underground, chamemos-lhe assim. Desde 2014, o festival trouxe atos que dificilmente poderíamos apanhar pelo país – por exemplo, Alva Noto, Cabaret Voltaire, Daniel Miller, Drew McDowall (com Florence To) e Front 242. É um festival que trouxe desde techno britânico como Blawan, Surgeon, Planetary Assault Systems ou Regis – os dois primeiros atuaram ainda como Trade em 2016; a EBM como Blush Response ou Adam X, que também atuou como Traversable Wormhole no Forte; a passar por atos mais consolidados, como Donato Dozzy, DVS1, Helena Hauff, Jeff Mills, Paula Temple e Shifted; entre muitas outras apostas excelentes, como Ancient Methods, Clark, Forest Drive West, I Hate Models, Lotus Eater (Lucy & Rrose), Mumdance, Phase Fatale, Stanislav Tolkachev e The Empire Line.

Na edição de 2016, o Forte passa a contar com um dia de encerramento de 24 horas, algo único e praticamente impossível de se encontrar no panorama techno em Portugal – como o Camping Is Love, outro pormenor a destacar do festival. Mas o Forte, todo ele é assim, peculiar e único. Por isso é que não o podemos mesmo perder.

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