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Daniel Duque

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Entrevista

Semibreve volta a tomar conta de Braga e com “novas propostas capazes de surpreender”

27 Outubro, 2022 - 14:35

É uma das paragens obrigatórias no circuito de festivais dedicados à música eletrónica em Portugal. A 12ª edição de Semibreve começa esta quinta-feira.

Braga tem ainda mais encanto durante os dias de Semibreve. Pelo menos para nós, claro, que vibramos com eventos que vivem do amor à música eletrónica e à arte digital. O arranque do festival está marcado para esta quinta-feira 27, mas, antes disso, Luís Fernandes e Rafael Vale falaram com A Cabine em jeito de antevisão desta edição.

Apesar de ser importante para a cidade e para o país desde a sua génese, o Semibreve não teve sempre esta dimensão. Rafael Vale, um dos diretores, explica como “as diferenças são enormes”: hoje estamos diante um festival “com muito mais programação, mais parcerias, com 35% de público estrangeiro, que integra redes europeias, que está a trabalhar em parceria com diversas instituições locais, nacionais e internacionais e que é um dos pontos chave no desenvolvimento artístico de Braga.”

A organização sente que o festival está no ponto certo. “[O Semibreve] não vai crescer muito mais ou mesmo nada. A aposta está focada em desenvolver”, conta Rafael Vale, acrescentando que esse desenvolvimento passa por “uma curadoria de artistas mais cuidada de ano para ano”, relações mais fortes com instituições de ensino ou “novas propostas” que sejam “capazes de surpreender” o público.

É claro que tudo isto implica muito trabalho e esforço. “Cada edição é um desafio porque as variáveis são imensas”, nota Vale, enquanto o diretor artístico Luís Fernandes relembra o “sacrifício pessoal” de cada membro da equipa.

“Ninguém da equipa é profissional do festival e todos participamos numa lógica pós-laboral, roubando tempo à nossa vida pessoal. Pressupõe uma motivação grande e um gosto pelo que fazemos. É, verdadeiramente, um festival que assenta numa lógica de militância e prazer. Caso contrário, deixaria de acontecer”, explica Fernandes.

É o amor e a vontade que mantêm a equipa firme neste desafio com “imensas variáveis”. Em 2023, avança Vale, o Semibreve vai integrar a rede de festivais RE-IMAGINE EUROPE e está até a preparar a entrada “numa segunda rede em construção”.

“Sendo [o Semibreve] um festival tão pequeno, que todos os anos tem que saber se vai continuar a ter financiamento para se realizar, o que dificulta muito o assumir de compromissos de médio prazo, este posicionamento [nas referidas redes] é um grande risco e desafio e uma enorme honra pelo reconhecimento internacional”, acredita o diretor Rafael Vale.

E ainda bem que o festival se mantém de pé. Sem ele, a oferta desta eletrónica exploratória seria ainda mais débil a norte do país. E no caso do Semibreve, essa oferta passa também pelas iniciativas Edigma Semibreve Award e Scholar, outros fatores que levam Rafael Vale a notar a importância que este evento tem para a cidade.

“Tudo [isto] é importante porque Braga precisa de ser nas artes tão inovadora quanto é, de há muitos anos a esta parte, noutras matérias, nomeadamente na área de empresas como a EDIGMA. São a prova da capacidade de fazer bem e de ter uma oferta que concorre com as melhores práticas internacionais. Se o Semibreve concorrer para esse nivelar por cima, ficamos contentes”, rematou Vale.

Uma programação imperdível

Novamente no deslumbroso Santuário do Bom Jesus do Monte, o concerto de abertura será assinado pela francesa Félicia Atkinson e pela lisboeta Violeta Azevedo. Até domingo, em espaços como Theatro Circo ou gnration, passam pelo Semibreve, entre outros, Alva Noto, Caterina Barbieri, François J. Bonnet & Stephen O’Malley, Jan Jelinek, Jana Rush, KMRU ou Xexa e outros membros da Príncipe a celebrarem 10 anos da editora lisboeta.

Para além do regresso do clubbing, a carta do festival vai continuar a oferecer as delícias do costume. Vai haver conversas, instalações, um workshop e, desta feita, até um lounge da Patch Point onde os visitantes se podem aventurar em diversos sintetizadores.

Em exposição no Theatro Circo vai estar “Coordinatedº”, de Angelina Kozhevnikova (Animaspace) e Arina Kapitanova, artistas russas que venceram o prémio Edigma Semibreve deste ano. No gnration, Gonçalo Cunha, Lea Teragona, Luís Luzia e Joana Araújo e Rute Costa apresentam as instalações criadas para o Edigma Semibreve Scholar.

Sobre a programação, Luís Fernandes afirma que a equipa se sente “muito feliz” por “conseguir apresentar programas interessantes e partilhá-los com um, cada vez maior, conjunto de público que, acreditam, partilha esse entusiasmo.” E não é para menos: o Semibreve apresenta a cada ano um dos cartazes mais únicos no país.

“O processo de construção do programa é longo e resulta de uma reflexão conjunta, no qual se tenta pensar em diferentes pontos de equilíbrio”, elucida-nos Fernandes. Por entre preocupações como balancear “abordagens e estilos”, espaços ou “novidades e nomes mais consagrados”, há também o lado de ter em conta “questões de representatividade” e até a “importância de apresentar obras em estreia.”

Luís Fernandes acredita que isso se nota neste cartaz de 2023 e, em boa verdade, não há como o negar. Se por um lado temos Burnt Friedman ao lado de Drumming GP numa das encomendas únicas do festival ou até atos como Alva Noto, Jana Rush e Jan Jelinek, por outro temos apostas em nomes como KMRU, BLEID e Xexa.

Cada vez mais notório no circuito europeu e até mundial, tanto que foi uma das escolhas da publicação Resident Advisor para festivais em outubro, o Semibreve não foge da responsabilidade de convidar nomes nacionais para o programa. “Apesar de o público ter expectativa de ver nomes internacionais que, por norma, têm menos probabilidade de ver por cá”, há “sempre a preocupação de apresentar músicos portugueses.”

Referindo os esforços desenvolvidos por festivais como o vizinho Mucho Flow, o lamecense ZigurFest ou o barreirense OUT.FEST, entre outros, Luís Fernandes diz que essa presença nacional tem aumentado, também resultado do crescimento do festival, e que é importante ter esta “humilde contribuição para a exposição do trabalho dos nossos artistas a público e imprensa internacional.”

O Semibreve corre por gosto e nós não nos cansamos de passar por lá. Com uma descoberta nova para conhecer em cada esquina de Braga, o festival já está esgotado e promete voltar a ser um momento de “partilha e irreverência” para todos os presentes.

Fotografias por Adriano Ferreira Borges / Semibreve

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