Estivemos à conversa com a equipa da SUMMA para saber mais sobre o projeto e sobre o aniversário. As velas sopram-se este sábado em Lisboa.
Começou por se afirmar como uma alternativa para as noites de domingo. Passou pelo Arroz Estúdios ou pelo Núcleo A70. Dançou ao lado de nomes como Montero ou o festival Basilar. Este sábado, dia 8, a SUMMA celebra um ano de existência no Village Underground Lisboa, entre a meia-noite e as 6h.
Tudo surgiu “de uma conversa entre Marcos Ferreira (Enkō), Pedro Cravo (Cravo) e Nuno Costa (Vil)”, como nos explicam os dois primeiros nesta conversa via email. Habituado a estar atento ao que se passa em Portugal e lá fora, o trio notou que “faltava algo à cidade” e esses passos foram levando os lisboetas à criação da SUMMA.
Como podes perceber nesta entrevista, a equipa da SUMMA está longe de estar preocupada com pormenores senão os essenciais. O objetivo é que o projeto “se prolongue no tempo e se estabeleça como peça importante da noite lisboeta”, sim, mas em primeiro lugar está a música.
Um exemplo disso é o alinhamento para este primeiro aniversário. Para além dos residentes Enkō e Cravo, encarregues por encerrar a noite em b2b, vai haver Tendency e Palma. O primeiro, que toca entre as 2 e as 4h, é um nome bem conhecido da movida portuense – esteve envolvido na Terrain Ahead e é presença assídua no circuito da Invicta. O início da noite fica a cargo de Palma, jovem que tem chamado a atenção pelas produções techno que tem assinado.
Os bilhetes para este primeiro aniversário podem ser encontrados aqui. Abaixo, podes ficar a saber mais sobre o projeto nesta pequena conversa.
De onde surgiu a ideia de criar a SUMMA? Por que razão ou razões sentiram necessidade de avançar com o projeto?
Antes de continuarmos, queremos agradecer à A Cabine a oportunidade que nos dão de falar um pouco acerca deste projecto e de reconhecer a importante cobertura que tem dado à música electrónica de dança em Portugal nos últimos anos e que tanta falta nos fez e ainda faz.
A SUMMA surge de uma conversa entre Marcos Ferreira (Enkō), Pedro Cravo (Cravo) e Nuno Costa (Vil) numa altura em que decidimos fazer um balanço da nossa experiência enquanto DJs e colocar na equação o conhecimento que tínhamos adquirido tanto em Portugal como na Europa. Apercebemo-nos então de que faltava algo à cidade de onde somos e onde crescemos enquanto artistas. Comparando com outras cidades europeias concluímos que faltavam oportunidades e música. Lisboa tem, hoje em dia, um público ávido e conhecedor, além de ser destino preferencial de muitos visitantes estrangeiros, também eles conhecedores e com acesso contínuo a uma cultura e movimento em constante crescimento.
Durante anos a electrónica em Lisboa foi um sonho e uma luta de poucos mas tem hoje uma variedade de projectos e de artistas que podem e devem ser uma influência positiva nas gerações mais novas. Tendo isso em conta, quisemos tornar as nossas noites num hábito, numa residência com curadoria, em vez de num projecto ocasional do movimento de que fazemos parte e que pensamos ter condições para evoluir e se expandir.
E de onde surgiu este nome?
SUMMA tem origem no latim e significa uma variedade de coisas, todas elas com uma ideia em comum: a confluência. É a soma, a essência, um sumário extensivo ou um compêndio de informação sobre determinado tema.
Como é que vocês se conheceram? O que partilham, ao ponto de se juntarem numa ideia como esta?
Começámos a aperceber-nos da existência uns dos outros em vários eventos onde fomos actuando por volta de 2015 e 2016, quando o Europa Sunrise apresenta as noites Trans Europa Express e Orpheu. É também uma época em que o Festival Forte se apresenta e influencia uma nova geração de seguidores do género e numa altura em que Enkō começa um projecto de after hours chamado OBRA, na zona Este da cidade onde durante cerca de ano e meio convida uma série de nomes do techno Português, incluindo Cravo e Vil, a actuar. Mas é sobretudo através de um projecto em comum, a editora Hayes Collective, que passamos a estar juntos de forma regular e a conhecer-nos melhor. Daí à amizade foi um passo natural e bastante fácil, pois a forma de estar, a percepção musical e o intuito de construir e contribuir para o movimento da música electrónica de dança em Portugal era transversal a todos.
Como é que descrevem a SUMMA a alguém que não a conhece?
A SUMMA tem a vantagem de albergar uma série de clichés – libertação, imersividade, ambiente – mas tenta ir um pouco mais além em termos filosóficos, procurando ser um lugar onde se tenta trazer a Lisboa um tipo de techno que nos parece faltar-lhe: uma mistura ritmada entre os tempos áureos do groove dos anos 90 e início de 2000, uma linha claramente influenciada pelo house que hoje se complementa com abordagens contemporâneas e experimentalistas. Ritmos orgânicos, muito humanismo e uma ambiência infecciosa. Dentro desta linhagem musical, tentamos escolher artistas relativamente desconhecidos e outros já estabelecidos que tenham uma percepção rítmica e de ambiência que se enquadre no projecto, normalmente artistas nacionais, permitindo-lhes uma actuação para um público que, conhecendo o nosso trabalho enquanto DJs, também tem uma expectativa muito particular das nossas noites. Estas regras não são, obviamente, estáticas, e é importante que se evolua constantemente, seja em termos de line-up, seja na direcção artística.
Podem falar um bocadinho sobre os espaços das festas da SUMMA? Há razões por trás das escolhas?
Inicialmente a SUMMA pretendia ser uma alternativa de Domingo à noite e a verdade é que a ideia teve sucesso imediato, com casas bastante boas no 5A Club, no Príncipe Real. Infelizmente não conseguimos ter a assiduidade que pretendíamos devido à incerteza que a pandemia trouxe à noite Lisboeta – começámos em Outubro de 2021 e em Dezembro os clubes voltam a fechar. No início de 2022 passamos a concentrar-nos em espaços DIY como os nossos amigos do Arroz Estúdios e do Núcleo A70, espaços que têm ganhado relevo no panorama artístico da capital e a quem agradecemos as condições que nos deram para tornar as nossas ideias uma realidade.
A SUMMA não pretende, na verdade, saltitar constantemente de espaço e preferia ter um local definido que pudesse explorar. No entanto, dificuldades de licenciamento para os horários que pretendemos em espaços menos institucionais levam-nos a considerar hipóteses mais clássicas sem quaisquer problemas.
Podemos continuar a contar com a SUMMA nos próximos tempos? Há planos ou objetivos alinhados?
A ideia é que a SUMMA se prolongue no tempo e se estabeleça como peça importante da noite Lisboeta. Embora as circunstâncias não sejam fáceis devido ao tamanho médio do evento e a dificuldade de licenciamento adequado nalgumas casas e espaços ocasionais tornem a tarefa um pouco complexa, existem ideias para o futuro e vontade de o conseguir. Talvez tenhamos de abrir a SUMMA a mais pessoas, o que já aconteceu, de certa forma, com a entrada para a equipa de Fanny Riotte-Kempf, e o que podemos avançar é que temos uma série de ideias em relação à manipulação do espaço dos eventos por concretizar, com parcerias com performers, artistas visuais e cénicos que contamos desenvolver em próximas edições.
Para o aniversário, por um lado têm um nome bem importante na cena portuense e, por outro, um jovem que tem chamado muito a atenção de Lisboa e do país. O que vos levou a fazer este alinhamento?
A escolha tem tudo a ver com o talento e pouco com a popularidade. O Tiago (Tendency) é alguém que conhecemos bastante bem através do seu trabalho no Norte como Solution e com quem nos cruzámos este ano no belíssimo Vinculum Festival (organizado por Backbone e James Grouper). Gostámos imenso de o ouvir e ficámos atentos, tanto que voltámos a ver actuações no Gare e no Neopop e decidimos que faria sentido trazer alguém com a sua abrangência e percepção musical à SUMMA. O Palma é um jovem talento em quem confiamos e que nos foi fazendo chegar música original que fomos incluindo nos nossos sets e a quem antecipamos um futuro risonho no techno nacional. É alguém que cabe na nossa ideologia de dar chance aos mais novos de tocar com artistas portugueses já estabelecidos e com quem podem crescer e aprender ao mesmo tempo que surpreendem com a sua identidade e irreverência.
Fotografia de capa por Zé Maria
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