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Daniel Duque

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Entrevista

Semibreve “não é um mero festival de música”. 13ª edição está aí à porta

23 Outubro, 2023 - 14:36

De regresso a Braga, o Semibreve volta a trazer muitas atividades ao longo de quatro dias. E este ano há mais novidades.

De 26 a 29 de outubro, o festival dedicado à música eletrónica e arte digital volta a trazer concertos e DJ sets, workshops, instalações e conversas até à cidade de Braga. Em jeito de antevisão, Miguel Pedro e Rafael Vale falaram com A Cabine sobre a 13ª edição de Semibreve.

A cada ano, “o principal objetivo é construir um programa cuidado, capaz de gerar interesse no público e nos artistas, que também estão atentos a quem vai estar no cartaz”, conta-nos Rafael Vale. Em parte, “apesar do apoio do município” e de entidades como a EDIGMA, esse propósito deve-se às incertezas do “futuro financeiro”, que é sempre um “motivo de apreensão pois [a equipa] não sabe o que esperar no ano seguinte” e daí não poder “assumir compromissos a médio e longo prazo”.

Esse tato sente-se no cartaz de 2023, pois claro. Logo a abrir, por exemplo, Clarice Jensen toca na Basílica do Bom Jesus, na noite de quinta-feira. A compositora e violoncelista norte-americana é conhecida pelos seus trabalhos neoclássicos (e não só), sim, mas também por colaborar em discos de nomes como Björk e tantos outros feitos.

O concerto de abertura é uma boa amostra daquilo que o público pode esperar em termos de curadoria de atuações e até de espaços. Na verdade, diga-se, a procura por “mais-valias para a cidade e região” é também um dos principais focos do Semibreve, assim como “se o cartaz é interessante, se estimula o interesse por esta área artística, se se diferencia da programação que os espaços da cidade fazem, se consegue envolver estudantes da cidade e do país ou outros que participam nos nossos workshops.”

Se assim é, “então o festival tem razão de existir”, continua Rafael Vale, até porque, “quando for ‘mais um’, é melhor acabar.” Mas está claro que o Semibreve está longe de ser mais um.

A história desta celebração da eletrónica e da arte digital prova isso: “Foi um percurso interessante, inesperado, e que não sabemos para onde seguirá em ano de mudanças. Começou sem outra intenção senão a de acolher em Braga um festival com um cartaz que nos agradasse, fora do formato e tipo tradicional de festivais, capaz de associar Braga nas suas dimensões tecnológica (empresas e U. Minho) e patrimonial (edificado). Correu bem e nem a pandemia nos parou.”

Em 2023, por exemplo, uma das novidades é que o Auditório São Frutuoso se junta ao roteiro do Semibreve – “parece-nos mais interessante para o público”, diz Rafael. Agora, há também uma maior “relação do festival com a imagem, nomeadamente o cinema, coabitando com projetos que estão em linha com a abordagem feita nos anos anteriores.”

Perfeito exemplo disso é o concerto de Eiko Ishibashi e Ryūsuke Hamaguchi, marcado para sexta-feira, no Theatro Circo, às 22h50, e um dos destaques desta edição. Realizador do aclamado “Drive My Car” (2021), Hamaguchi junta-se à compositora da banda-sonora desse mesmo filme para apresentar “GIFT”.

Há mais novidades neste Semibreve. 2023 assinala o primeiro ano do festival como parte do Re-Imagine Europe. A participação neste programa trará “projetos em parceria que serão uma realidade pelo menos nos próximos 4 anos, fruto do trabalho em rede. Permitirá trazer a Braga projetos que isoladamente não conseguiríamos por vários motivos”, nota Vale.

Por entre espaços como o já referido Theatro Circo, gnration, Museu Nogueira da Silva ou Capela Imaculada do Seminário Menor, vai haver muito para ver e ouvir no festival, como podes ver na programação completa do Semibreve. Inês Malheiro, DJ Lynce, Nexcyia, Kali Malone, Maya Shenfeld ao lado de Pedro Maia, Beatrice Dillon, Mumdance, Emeralds, Nkisi ou Loraine James são só alguns dos vários exemplos.

“O Semibreve não é um mero festival de música”

“É bem mais do que isso”. São palavras de Miguel Pedro, outro dos nomes que compõem a organização do festival. Questionado sobre o que diria ao público que se estreia no evento, o bracarense acredita que “seria um erro dizer algo a alguém que visita o Semibreve pela primeira vez pois isso seria orientar o espetador para uma experiência estética que se deseja inovadora e multidimensional.”

“Além do aspeto exploratório do som, existe imagem, conhecimento, partilha de experiências”, continua. “O Semibreve é concebido como um espaço de possibilidades (estéticas) que se encontra em aberto, desde o início ao fim, pelo que, mais do que falar sobre o festival, há que o experienciar.”

É também daí que vem todo o trabalho que se desenvolve a cada ano. “Quando estamos a acabar um festival já se deu início ao do ano seguinte”, conta-nos Rafael Vale. “Há um grande trabalho de preparação, que envolve muitas áreas, entre as quais a programação, que para ser de qualidade implica antecipação. A construção do programa é mais do que selecionar os artistas.”

“É pensar nos espaços onde são apresentados, horários, ligação do festival com a cidade, parcerias, co-produções. A partir de 2023 o Festival está integrado em 2 importantes redes internacionais, que implica partilha de programação, por exemplo, tendo o desafio enorme de se fazer esse trabalho sem desvirtuar o festival. Logo em Novembro começamos a trabalhar no programa do próximo ano, que é fechado até Fevereiro, ficando o demais tempo para toda a preparação técnica e comunicação”, disse ainda.

Olhando para esta edição, Rafael Vale reitera que cada “edição é pensada como um todo”. Entre outros aspetos, destaca o facto de esta ser a última edição de Luís Fernandes na equipa, ele que assumiu recentemente a direção artística do Theatro Circo. Isso “implica uma mudança na equipa do festival que já trabalhava junta há 13 edições” e a entrada de “um novo nome que será anunciado oportunamente.”

“Outros destaques dependem muito da perspetiva com que se olha. Já falamos da ligação com o cinema, do pensamento cruzado com outros festivais da Re-Imagine Europe”, nota Vale. “A presença de uma artista de Braga – Inês Malheiro – é importante, tal como os workshops que decorrerão no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, abrindo novas áreas de aprendizagem aos alunos e a outros interessados.”

Um dos espaços que alunos e outras pessoas têm a cada ano é o EDIGMA SEMIBREVE SCHOLAR e o EDIGMA SEMIBREVE AWARD. A organização tem notado uma “qualidade crescente dos trabalhos que as instituições nacionais de ensino superior apresentam” e refere ainda as “candidaturas de todo o mundo” que recebeu para o grande prémio da iniciativa.

Em 2023, a dupla dmstfctn venceu o EDIGMA SEMIBERVE AWARD e irá ter “God Mode (ep.01)” em permanência no Theatro Circo. Já nomes como Adriana Matos, com “Untitled (Borders and Transmissions)”, ou Pedro Cunha, com “Deep Dive”, terão os trabalhos expostos no gnration.

“O festival vai-se ramificando de ano para ano, procurando fazer esse trabalho de modo consistente para não corresponder aos compromissos connosco, com quem nos apoia, com quem nos visita”, conclui Rafael Vale. “Ganha o festival e, pensamos, ganha a cidade que hoje está no mapa europeu da arte digital e música eletrónica exploratória.”

À data de publicação, não restam muitos bilhetes diários, mas ainda podes tentar a tua sorte no site oficial do Semibreve. Aproveita e recorda aqui a edição de 2022 do festival.

Fotografias por Adriano Ferreira Borges / Semibreve

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