AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Artigo, Entrevista

Vale Perdido: a vontade de partilhar, a programação e os horários

14 Novembro, 2023 - 15:27

Está aí à porta a primeira edição de Vale Perdido, evento itinerante de cinco dias que conta com nomes como FUJI||||||||||TA, Nihiloxica, Kléo, Luke Vibert e Gabriel Ferrandini & Xavier Paes.

ATUALIZAÇÂO: Joanna Sternberg teve de cancelar a sua estreia em Portugal por motivos de saúde. Os horários foram atualizados.

O Vale Perdido apresenta-se como “uma materialização de um desejo de partilha de música livre de constrangimentos formais, assumidamente eclética e aventureira”, bem como “um evento pensado” para um roteiro em Lisboa. A premissa é evidente naquilo que a organização propõe e está tudo marcado para esta semana, entre os dias 15 e 19, na Igreja St. George, B.Leza, 8 Marvila e LISA.

“A nossa ideia sempre foi afastarmo-nos do chavão de festival”, conta-nos via email a equipa formada por Gustavo Blanco, Joaquim Quadros e Sérgio Hydalgo. “Independentemente de sabermos que se enquadra, claro, na mesma tipologia de evento, quisemos desvirtuá-lo de alguma maneira.”

“Não há concertos sobrepostos, um palco único por dia, os bilhetes são de acesso diário e a preço acessível. Seria derrotista pensarmos que já tudo foi feito em programação, formatos e várias outras nuances. Motivou-nos termos muitas ideias e uma fantasia de criarmos uma identidade de raiz, sem importar marcas, que amplifique música nacional e internacional de mãos dadas, livre de catalogações e que provoque uma experiência”, contam ainda.

Questionado sobre o eventual papel educativo, o Vale Perdido quis ir mais longe, dado que “há dezenas de promotores a fazer um trabalho sublime de programação com esta ideia de trazer música inusitada e livre de forma”. É o caso de Lux Frágil, OUT.FEST, Mucho Flow, Tremor ou Semibreve, nas palavras dos próprios.

A par de nomes como Luke Vibert, Nihiloxica é um dos grandes destaques (Fotografia: Marco Meazza)

“Todas estas energias influenciam uma nova visão e pessoas”, explicam. “Educação é sempre um termo mais delicado, no entanto, sim, acreditamos que seguimos um caminho importante. De tudo o que acreditamos que podemos trazer de interessante, conseguimos frisar que é ser em Lisboa a sua característica mais especial. Há vários eventos pontuais em Lisboa, várias salas, no entanto, neste formato e com o tipo de música e experiência que estamos a propôr, acontecem menos.”

Com uma “estrutura inicial muito reduzida”, a equipa é “todo-o-terreno” e vai-se “equilibrando em centenas de coisas que é preciso resolver.” Afinal, estamos a falar de um evento que é criado de raiz e que traz “desafios grandes”.

“Enquanto evento independente, sem edições prévias, atravessamos todo o trabalho de construir um corpo e de chegar ao máximo de pessoas possíveis”, escrevem-nos. “Há ferramentas, claro, mas são sempre momentos de paciência e de muito trabalho DIY. Acima de tudo, ainda que sendo obstáculos, é das coisas que dá mais pica. A fundação de um evento tem o seu lado agridoce. É ingrato, por um lado, há muito trabalho que não é visto. Por outro, estás a dar à luz um projecto que vai sempre acabar por mexer com pessoas.”

O objetivo, mais uma vez, é evidente: partilhar música “eclética e aventureira” e “enfatizar Lisboa enquanto cidade criativa e ativa na cultura.” Que o diga o cartaz alinhado para esta primeira edição de Vale Perdido.

A programação

A equipa é clara quando diz que “criar uma narrativa da primeira à última noite foi uma das melhores partes” desta primeira edição. “A curadoria teve como critério maior a qualidade artística e uma paixão grande do nosso lado por misturar artistas e linguagens distintas”, conta-nos.

O itinerário de quatro dias arranca na Igreja St. George. Polido é o primeiro nome a subir ao palco deste vale, ele que é um explorador sonoro que tem chamado a atenção pelo trabalho que desenvolve, seja por discos em selos como Holuzam ou por “dissecar a tradição musical portuguesa”. A ele sucede-se FUJI||||||||||TA, um dos grandes destaques do evento, japonês que levará o órgão de tubos construído por si e a sua “expressão primitiva e universal” até esta igreja.

Se na quarta-feira 15 o som tomará conta de todo e qualquer recanto dos nossos cérebros e seres, quinta-feira 16 é noite de canções. Primeiro, a inevitável Maria Reis, que recentemente lançou uma nova canção das Pega Monstro. Depois, a estreia em Portugal de Joanna Sternberg, artista mais conhecide pelos aclamados discos “Then I Try Some More” (2019) e “I’ve Got Me” (2023).

Patrícia Brito é uma das DJs alinhadas para o Vale Perdido

Esses dois dias mostram bem o tato da curadoria do Vale Perdido. E o mesmo se pode dizer sobre sexta-feira 17, a primeira de duas noites no 8 Marvila. Neste caso, tudo começa com a portuense Patrícia Brito, conhecida pelos sets mais experimentais e certeiros, antes de os Nihiloxica mostrarem por que razão são um dos nomes mais esperados. O mais recente disco “Source of Denial” é prova e manifesto vivo do incrível mundo dos ugandenses que, além da tradição africana, tanto nos podem remeter para metal como para techno.

Nessa noite, não menos excitantes, há ainda atuação das Batucadeiras das Olaias (na fotografia de capa), que “fazem do ritmo e da tradição oral um acto de afirmação”, nas palavras da organização, e DJ set de Kléo, francesa baseada nos Países Baixos que garantirá um momento variado, festivo e preciso, fruto de todos os seus anos de labuta.

No sábado, também no 8 Marvila, o grande destaque vai para Luke Vibert (1h), embora Ricardo Grüssl & Tadas Quazar (16h), DJ Caring (22h) e Violet (3h) mereçam toda a nossa atenção. A questão é que o britânico cumpre regresso ao país mais de 15 anos após a última passagem pela capital e não poderíamos estar mais excitados. Vibert é um daqueles nomes incontornáveis do Reino Unido, tanto que esteve muitas vezes ao lado de Aphex Twin, foi pioneiro do que se chamaria drill’n’bass, lançou por selos como Rephlex ou Planet Mu ou com outros pseudónimos, explorou acid, breaks e tudo mais… Uma verdadeira força da natureza a não perder neste primeiro Vale Perdido.

Outro caso de muito interesse é o que abre a LISA no domingo, às 21h: a estreia inédita de Gabriel Ferrandini ao lado de Xavier Paes. Se o primeiro “tem explorado os limites da percussão e as barreiras do jazz”, o segundo também não tem medo de ultrapassar fronteiras, como se pode ver e ouvir em trabalhos a solo ou da dupla Dies Lexic, que partilha com Inês Tartaruga Água. Para rematar tudo, DJ set de A:DI, às 22h, que promete “música distante de regras e demarcada pela disrupção”, refere a organização.

Horários Vale Perdido

Quarta-feira, 15 de novembro (Igreja St. George)
21h00 Polido
22h00 FUJI||||||||||TA

Sexta-feira, 17 de novembro (8 Marvila)
20h00 Patrícia Brito
22h30 Nihiloxica
23h30 Batucadeiras das Olaias
00h00 Kléo

Sábado, 18 de novembro (8 Marvila)
16h00 Ricardo Grüssl & Tadas Quazar
22h00 DJ Caring
01h00 Luke Vibert
03h00 Violet

Domingo, 19 de novembro (LISA)
20h00 Maria Reis
21h00 Gabriel Ferrandini & Xavier Paes
22h00 A:DI

Bilhetes e outras informações podem ser encontrados no site do Vale Perdido

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