A edição de 2024 de Semibreve está aí à porta e não faltam motivos para ir até Braga.
Tudo é para ouvir com atenção no Semibreve, na verdade. De quinta-feira a domingo, o festival está de regresso a vários espaços bracarenses, como é caso dos habituais Theatro Circo e gnration.
As sugestões aqui presentes são apenas alguns dos muito destaques que podem ser dados. Repare-se que a programação vai além dos concertos e DJ sets: há conversas, workshops, instalações do prémio EDIGMA e até peças sonoras de Jim O’Rourke e Keith Fullerton Whitman para ver e ouvir.
Mais do que os atos referidos neste artigo, podes contar com momentos tão especiais quanto Kalia Vandever, a abrir o festival na Basílica do Bom Jesus (na fotografia), Christina Vantzou e PYUR, na sexta-feira, Giovanni Di Domenico, Shida Shahabi ou Iceboy Violet & Nueen, no sábado, e Carmen Villain, no domingo.
Podes recordar os horários para o Semibreve 2024 aqui. À hora de publicação, não há passes gerais e não restam muitos bilhetes diários – se tiveres interesse, apressa-te.
Chris Watson & Izabela Dłużyk (Sexta-feira, 21h30, Theatro Circo)
“Białowieża” integra a primeira criação artística do movimento TIMES, “The Crossing”, e tem tudo para nos enriquecer. O primeiro momento do Semibreve 2024 no Theatro Circo acontece em Białowieża, uma floresta entre Polónia e Bielorrússia “cuja natureza selvagem voltou a colocá-la no centro da tragédia humanitária que se desenrola na região fronteiriça, principalmente devido à passagem de refugiados do Médio Oriente e de África.” E como assim acontece na floresta, perguntam? Chris Watson e Izabela Dłużyk são “dois mestres na arte de gravar e reinterpretar a natureza”, nas palavras da organização, e estiveram por lá para nos trazer um daqueles atos que nos há de encher as medidas até mais não.
Nídia (Sexta-feira, 00h30, multiusos do gnration)
“Nídia É Má, Nídia É Fudida”. Título do disco de 2017 e expressão comum entre fãs. Um dos grandes nomes da nossa cena de dança. Nídia tem uma discografia aclamada por cá e além-fronteiras – ouça-se “95 MINDJERES”, um dos nossos favoritos do ano passado, ou o recente “Estradas”, feito ao lado da percussionista italiana Valentina Magaletti – mas o talento também está no DJing. Uma das melhores que ouvimos este ano no Waking Life ou até nos Jardins do Palácio de Cristal. Sets que nos levam até matéria da Príncipe, a nomes como Helviofox ou a jogos com Hip Hop (Don’t Stop), de Boss AC, como ouvimos nos dois momentos referidos. Festa garantida.
Rrose (Sexta-feira, 01h15, blackbox do gnration)
Difícil escondermos que somos fãs de Rrose. Já passou por aqui em várias seleções mensais e anuais, como com “Please Touch” (2023) ou a recente colaboração com Polygonia, “Dermatology”, ambos editados pela sua Eaux. Apesar de a discografia mostrar muito mais – como os trabalhos com o pseudónimo Sutekh ou a dupla Lotus Eater, ao lado de Lucy – Rrose é sinónimo de techno texturado, profundo, repleto de detalhe e sound design para ouvir de olhos fechados e deixar o corpo fluir. Em Braga, numa das raras aparições no país, vai estar em formato DJ, do qual se pode esperar techno igualmente desafiante – a julgar pelo podcast deste ano para a Reclaim Your City, tanto pode ir a Chicago (Dj Deeon) como a Birmingham (Regis) ou Tóquio (Wata Igarashi).
Kevin Richard Martin (Sábado, 23h00, Theatro Circo)
A estreia ao vivo e mundial de “Black”, tributo de Kevin Richard Martin a Amy Winehouse e ao seu “Back to Black” (2006). Não é preciso dizer muito mais. Mas vamos lá. Primeiro, estamos a falar da referência da eletrónica britânica mais conhecida por The Bug – e por tantos outros projetos, na verdade – que em nome próprio tem explorado esta música mais introspetiva e densa que caminha por trilhos drone e ambient, como ouvimos este ano na colaboração com KMRU, “Disconnect”. Depois, trata-se de um “cocktail misterioso de jazz espectral, shoegaze drone e música ambiente e dub”, nas palavras do próprio, tudo isto enquanto o disco “original permanece apenas em espírito”. Ansiosos.
Van Der (Sábado, 00h30, multiusos do gnration)
Corria o ano de 2018 quando participou no nosso podcast. Vertente techno ainda hoje presente que lhe tem valido presenças em espaços como Lux Frágil ou até na rádio NTS, nesta última a convite de Nkisi. Um filho de São Tomé e Príncipe, figura-chave da nova cena lisboeta, cuja paixão pelo DJing foi despertada pelo primo DJ Marfox. Por entre aventuras como a Sub Series, traz ao Semibreve as novas explorações que tem feito com sintetizadores modulares, que serviram de mote para a residência no Semibreve e que ouvimos há uns tempos no Passos Manuel. Imperdível, pois claro.
Saya (Sábado, 01h30, multiusos do gnration)
Saya é caso sério. Basta ouvi-la para sabê-lo. Não está cá há muito tempo, mas tem-se afirmado pelas pistas do Porto e do país. Filha de pais palestinianos vinda desde Santiago de Compostela, quer “mostrar todas as expressões culturais que há na Palestina”, como referiu ao Público em março passado, na altura a caminho do festival Tremor, nos Açores. Os sets podem andar por sonoridades árabes ou coordenadas do Brasil. Já a ouvimos a passar malhas de Toumba em Serralves, por exemplo, e a recente passagem pela Keep Hush dá para ter uma ideia do que esperar. Dança certa.
Saint Abdullah, Eomac & Rebecca Salvadori (Domingo, 16h30, Theatro Circo)
Também este parte do referido movimento TIMES e da criação “The Crossing”, “A Forbidden Distance” volta a abordar o “conceito de fronteira” e “em particular os seus aspectos políticos, enquanto divisão arbitrária de um território que cria uma linha de demarcação impenetrável”, refere a organização. Este projeto audiovisual junta pela primeira vez um grupo formado pelos irmãos iraniano-canadienses Saint Abdullah, o irlandês Eomac e a italo-australiana Rebecca Salvadori – os dois primeiros casos conhecidos pelos trabalhos musicais, incluindo uma colaboração pela Planet Mu em 2023, “Chasing Stateless”; a segunda pelo trabalho na videoarte e nos documentários. Música e festivais podem e devem ser políticos. Este será um desses momentos.
Moritz von Oswald (Domingo, 18h00, Basílica dos Congregados)
Ter Moritz von Oswald já é especial, mas tê-lo a encerrar o festival numa basílica é unico. Alemão incontornável do techno, nomeadamente pelo papel pioneiro na vertente dub do género, metade dos Basic Channel, multi-instrumentista, engenheiro de som, responsável por discos e projetos queridos por todos. Em Braga, a comunhão entre a arquitetura da basílica e o último e emocionante “Silencio” promete ser inesquecível. Inspirado por nomes como Edgard Varèse, György Ligeti e Iannis Xenakis, o álbum conta com gravações do coro Vocalconsort Berlin e foi composto com sintetizadores clássicos, como EMS VCS3 & AKS, Prophet V e Oberheim 4-Voice. Tempo, espaço, repetição. Vida.
Fotografia por Adriano Ferreira Borges / SEMIBREVE
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