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Lançamentos favoritos de fevereiro

5 Março, 2021 - 13:57

Música para todos os gostos e feitios.

Boris Chimp 504 – Red Quasar

Completados os 10 anos, o duo decidiu pôr cá para fora o primeiro EP, intitulado de “Red Quasar”, um spin-off do espetáculo audiovisual “Vanishing Quasars”. Este primeiro registo apresenta quatro composições de som e imagem com “a visualização de caminhos orbitais e coordenadas polares” e, pelo caminho do sci-fi e do minimalismo, deparamo-nos com experimentações em compassos 5/2, 7/4, 11/8 e 13/16, todas resultado do convidativo espaço extraterrestre onde reside Boris Chimp 504.

Calibre – Feeling Normal [Signature Recordings]

Apesar do título e das inúmeras vias sónicas exploradas pelo mestre de Belfast, este não é um álbum típico de Calibre. Maioritariamente conhecido pela envolvência drum’n’bass, em “Feeling Normal” o produtor resgatou alguns temas nunca antes editados e compilou-os num “primeiro registo genuíno de 140bpms”. O ritmo abrandou, mas o mesmo não se pode dizer quanto aos padrões de qualidade altíssimos a que já nos habituou. A etérea Time To Breathe, com os vocais de Cimone, e Good Times são, para nós, duas das figuras de proa do álbum.

Cousin – MSH011 [Moonshoe Records]

Depois de dois EPs e um mini-álbum, o australiano Cousin traz-nos “MSH011”, o seu primeiro lançamento de 2021. Assente em padrões rítmicos que se dobram e desdobram, a base percussiva é constantemente salpicada de ecos, notas de sintetizador e outros sons intrusivos (no bom sentido). Este é um EP para os amantes de tropicalismo e das fusões entre várias vertentes da eletrónica, já que “MSH011” não é dub, nem house, nem techno, mas sim um pouco dos três. Uma coisa é certa – aquele baixo.

Dada Garbeck – The Ever Coming Part III – Cosmophonia [Discos de Platão]

“Cosmophonia” chega com uma componente de jazz mais acentuada, tanto que Rui Souza conta com a participação de nomes como João Mortágua, no saxofone, e Ricardo Formoso, no trompete. Mas é o belíssimo génio musical de Dada Garbeck que continua em destaque: sintetizadores do vimaranense aliam-se a bateria acústica, letras de Alexandra Saldanha a vozes eficientes, tudo isto e muito mais com instrumentos de sopro bem acentuados. Tão imperdível quanto as duas primeiras partes.

Datahunter – Drained Tones of Ecstasy [Collect]

Este EP nasceu de “um conjunto de experiências sonoras únicas” entre a margem sul de Lisboa e o norte da Europa. Foi entre muitos quilómetros que Datahunter encontrou a simplicidade para a aliar à funcionalidade musical. Inspirado em editoras como a Warp ou a Rephlex, o alias de Pedro Andrade flutua entre géneros como electro ou IDM. Combina bem com um final de tarde ou mesmo com qualquer hora do dia, especialmente se fecharmos os olhos.

Diogo – Ruff Trax [Extended Records]

Depois de se despedir de 2020 com “Matters Of Trust”, Diogo entrega-nos “música de dança-fusão com eficácia” para qualquer pista. A evocar o universo noturno e toda a saudade que lá habita, “Ruff Trax” trata-se de música para ouvir quer de pijama (a dançar!), quer num clube escuro e suado. Entre o “rugido explosivo da 808” e a “nostalgia por fragmentos passados e inatingíveis”, esta montanha-russa localizada no jungle e drum’n’bass do Reino Unido tem um pé noutras influências, como acid, e está a chamar por ti.

DJ Spielberg – Carregada/Calibrada [No, She Doesn’t]

Atenção: A escuta deste EP pode causar efeitos severos de nostalgia e/ou desejo de regresso ao suadouro de pista. Nunca a No She Doesn’t havia apostado numa sonoridade rave de forma tão declarada. “Carregada/Calibrada” é um EP fortíssimo, com entrada direta para a já vasta tombola de trabalhos nacionais dignos de lugar de destaque no pódio. São quatro armas robustas, apontadas diretamente à pista, prontas a ser usadas no pós-pandemia. Falta muito?

Kara Konchar – Goth Partisan [Rotten \ Fresh]

Mutações são bem-vindas em qualquer processo de evolução e Miguel Béco de Almeida tem feito isso com um trabalho acurado e rigoroso. Metamórfico desde que começou a vestir a pele de Kara Konchar, com “Dungeon Rave” (2019), em “Goth Partisan” o portuense volta a levar-nos pelas masmorras – desta feita, pintadas pelo movimento gótico, com tons industriais ou EBM, melodias e ritmos catárticos e sombrios, tudo envolvido numa estética de que somos reféns do início ao fim do disco. Se como Atila já era feroz, hoje, como Kara Konchar, também o é. Mas mais dançável do que nunca.

Nicole Marxen – Tether

O EP de estreia de Nicole Marxen – música, artista visual e um quarto da banda de glam rock Midnight Opera – é uma urna musical. “Tether” é, segundo a própria, “uma meditação sobre o processo de luto”, marcando o início do percurso a solo da artista com a criação de música através da dor que advém da morte da mãe. Produzido por Alex Bhore, ex-membro da célebre banda This Will Destroy You, e com letras e voz de Nicole Marxen, “Tether” é, no fundo, uma abordagem fúnebre e peculiar à musicoterapia.

Shcuro – Echoplexia [naive]

O primeiro lançamento do ano de João Ervedosa marca também a sua estreia a solo pela naive. A label lisboeta recebe “Echoplexia”, um EP com tendências de electro, breaks ou techno que é acompanhado por quatro faixas originais, uma delas em colaboração com Maria Amor, e dois remixes, assinados por Violet e Ilana Bryne. Shcuro não é uma cara estranha à editora – atua por lá como designer – e esta adição ao catálogo da naive é certeira, como podes evidenciar abaixo.

Sturqen – Pantera [Nervu]

Com mais de 10 anos e mais de 15 lançamentos nas costas, os portuenses César Rodrigues e David Arantes refletem essa experiência em “Pantera”, um álbum certeiro, coeso e coerente. Mas, apesar do trabalho desenvolvido ao longo dos anos, por aqui há uma abordagem “mais minimalista e circunscrita”, como afirmam os próprios. Aconselhável para fãs de nomes como Mika Vainio – e não só, claro – este disco de Sturqen bebe de música ambient, experimental ou techno para apresentar um registo notável e cuidadosamente trabalhado.

Temudo – Klockworks 31 [Klockworks]

Profundamente tecnológico e com uma cuidada atenção aos detalhes, João Rodrigues assinou o 31º lançamento da Klockworks, na qual se estreia com este EP – e de que maneira. O segundo português a assinar pela label de Ben Klock, Temudo mostra com precisão a sua tão particular abordagem no techno ao longo de quatro faixas. Ouve do início ao fim e diz-nos se te consegues manter estático física e mentalmente.

Tiago Sousa – Angst [Discrepant]

Do baú das composições de Tiago Sousa surge “Angst”, gravado antes mas editado depois de “Oh Sweet Solitude”, que lançou em nome próprio, e marcando assim o segundo lançamento do pianista e compositor autodidacta pela Discrepant. Ao pianista junta-se o clarinete de Ricardo Ribeiro e a percussão de Baltazar Molina, já presentes em “Walden Pond’s Monk”, e o vibrafone de Paulo Santo. Os oito ensaios sobre a efemeridade do ser, inspirados em vários trabalhos escritos tendencialmente existencialistas, marcam “Angst” como um dos lançamentos mais relevantes do catálogo da Discrepant e da obra de Tiago Sousa.

VHS – Utopia [Hayes]

Entre sincopagens rítmicas, texturas e composições desconstruídas, Vitor Hugo Silva apresenta o seu segundo lançamento com selo nacional da Hayes. VHS explorou as tendências mais jazz e abstratas sem pôr de lado o pezinho de dança bem demarcado, assinando cinco faixas que desafiam o universo do techno de forma exemplar e promissora.

Violet – Archives 2012-2020 [naivety]

Dizem que recordar é viver e Violet revisita oito anos da sua vida com um autêntico buffet sónico. E fá-lo com uma energia infinita: a nível de percussão, por exemplo, “Archives 2012-2020” é provavelmente o que acontece se se der demasiado café a uma drum machine. Há de tudo: seja house, shoegaze ou ambient, a passar por breaks e techno. Com selo da sua naivety, é com um ritmo lancinante que Violet palpita entre uma “máquina em decadência” e uma “antena de sonhos”.

Weith – Doomsday [Brainwaves]

Num zapping pelas profundezas do SoundCloud deparamo-nos com as previews deste EP. A escuta dá lugar a um movimento involuntário de cabeça, acompanhado pelo franzir do sobreolho que denota a presença de algo agradavelmente estranho. Ele é electro mirabolante, acid dopante, breaks desenfreados, e um sentimento global de euforia que salta fora da caixa. A proeza progressiva de Declin ganha o prémio de faixa do EP. Mas isto é a nossa opinião. Venham daí as vossas.

Textos por Carina Fernandes, Daniel Duque, David Rodrigues, João Freitas e Rui Castro

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