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Lançamentos favoritos de março

8 Abril, 2024 - 17:30

Os discos de março que ainda andamos a rodar – e que não devem parar de tocar por cá tão cedo.

Ana Lua Caiano – Vou Ficar Neste Quadrado [Glitterbeat Records]

Há um novo leque de nomes que não tem medo de abraçar a tradição. E não falamos apenas de compositores. Se Ana Lua Caiano é um dos porta-estandartes que lança música, há outros casos que têm procurado dignificar e preservar a nossa cultura, como é caso das noites portuenses dedicadas à música pimba Bar Dançante.

No seu primeiro álbum, “Vou Ficar Neste Quadrado”, editado pela Glitterbeat, Ana Lua Caiano volta a mostrar como traz para a sua música a contemporaneidade, o toque próprio ou temas fraturantes do dia-a-dia e da seculariedade, como a habitação, tal como outros artistas têm cantado por cá (A garota não, ALMA ATA, EU.CLIDES, Herlander). Depois de EPs que foram considerados por nós como uns dos melhores em 2022 e 2023, o álbum não fica nada atrás. Um imperdível one woman show de tradição oral, letras peculiares, sintetizadores, percussão, loops, dança e tanto mais. DD

DJ Nigga Fox – Chá Preto [Príncipe]

O sempre inovador Rogério Brandão não fez por menos em “Chá Preto”. Menos direcionado para a pista quando comparado a outros momentos da discografia deste nome, este é um disco de música esquisita em todos os sentidos – por ser estranha, sim, mas também pela visão afrofuturista distinta, única e própria de Brandão. DD

Enkō – Lir [Sistolic Label]

Enkō já anda por aí há muito tempo – e que o digam os EPs lançados por selos como AWRY ou HAYES – mas não editava um curta-duração a solo desde 2021. Em “Lir”, trabalho com carimbo da maltesa Systolic, o regresso mais do que certeiro. Quatro originais dignos de qualquer pista que privilegie techno rápido, inspiração mais deep, groove e apontamentos dub. DD

Incendiário (ft Patrícia Ricardo) – Elementos [Conveyor Audio]

Membro fundador da Conveyor Audio, Gonçalo Incendiário explicou que gosta de explorar ambientes e atmosferas sonoras sem deixar de tocar com elementos musicais. Atendendo ao seu background, conseguimos constatar isso nas suas faixas. Mas em “Elementos”, o produtor aprofunda ainda mais esta abordagem, com quatro temas de base ambient, nos quais Patrícia Ricardo colabora dando voz a poemas de Eugénio de Andrade, Rui Caeiro, Filipa Leal, Albano Martins e Cláudia R. Sampaio. Uma fusão em que nenhum dos elementos se sobrepõe ao outro e em que o destaque é a emoção que esses transmitem. RC

Julius Gabriel – Tales from the Subterranean [Lovers & Lollypops/Ana Ott]

Bem conhecido por cá, o saxofonista alemão Julius Gabriel editou o quinto álbum a solo, naquela que é uma exploração de “novas direções sem medo”, segundo declarações do próprio. O sopro, aliás, só entra no segundo tema – antes e depois disso, loucuras rítmicas como Time Riding. Música para transcender, como é exemplo Transcending, “Tales from the Subterranean” nasceu também da vontade e gosto pelo drone, tanto que Gabriel construiu “um instrumento com uma boquilha dupla, para a prática de respiração circular, a que chamou ‘twin saxophone’”, pode ler-se nas referidas declarações. Palavras à parte, o melhor é mesmo apertar play e mergulhar neste mundo subterrâneo – mas certifica-te de que respiras fundo antes de o fazer. DD

Knok Knok – Camera [Base Recordings]

Ao terceiro álbum, o primeiro com a bateria de Rui Rodrigues. Comandada pelos sintetizadores modulares do importante nome da música nacional Armando Teixeira, a nave Knok Knok leva-nos novamente por uma viagem eletrónica e espacial marcada por diferentes paragens e paisagens – há jazz, há krautrock, há psicadelismo – que fica bem em qualquer casa e em quaisquer ouvidos. É aproveitar, que só há 60 cópias do disco em vinil. DD

Parris – Passionfruit EP [Can You Feel The Sun]

Sucessor do álbum de 2021 “Soaked In Indigo Moonlight”, “Passionfruit” é o novo trabalho de Parris pela Can You Feel The Sun, selo que partilha com Call Super. EP de quatro faixas que abre com a aditiva e mentalmente circundante why cant rabbits wear cowboy boots, o disco até pode surgir em prateleiras house ou techno, mas a receita inclui muito mais do que isso – polirritmia, por exemplo, ou diferentes coordenadas de clubbing britânico. Assinatura imperdível, esta. DD

Phoebe – Homo Hustle [Discos Extendes]

Já não há dúvidas de que a Discos Extendes, editora desprovida de rótulos, tem vindo a lançar consistentemente alguma da eletrónica mais interessante que se faz por cá. E este “Homo Hustle”, de Phoebe, não é exceção. Podíamos discorrer sobre o house (algum de influências clássicas de Detroit), electro, broken beat e afins que o compõe, mas mais do que falar, o que vale mesmo é escutar. Ide, ide. RC

Sully (ft. Salo) – Nights [Astrophonica]

Sempre que a Astrophonica decide editar algo, lá estamos nós para ouvir. Qualidade inerente, pois claro. Mas esta “Nights”, de Sully com a vocalista Salo, deixou-nos paralisados à primeira escuta, com um bufar e beicinho que todo e qualquer apreciador de bass music reconhece como sendo o símbolo mundial expressivo de gourmet auditivo. Uma base jungle de elementos crus, minimalista, e sem grandes truques que se alia na perfeição à melodia e musicalidade presente na voz. Em não complicar, por vezes, é que está o ganho. RC

Xuri – Serene Trails [Colectivo Casa Amarela]

Inspirada pelo canto do pássaro araponga, do qual partiu para compor este “Serene Trails”, a dinamarquesa Xuri trouxe em março o fruto da vontade de “fazer algo diferente” depois de “muita música rápida”, como explicou em entrevista à A Cabine. Sorte a nossa. Lançado pelo Colectivo Casa Amarela, este é um trabalho de ambient propulsivo repleto de sons da natureza, arpejos de synths que imprimem ritmo, cordas, a doce voz de Sofie Birch ou a percussão de John Cleworth. Tão convidativo quanto sereno. DD

Outros 10 a não perder:
Ben Frost – Scope Neglect [Mute]
Debba – Just Wanna [Kaizen]
Jlin – Akoma [Planet Mu]
Julia Holter – Something in the Room She Moves [Domino]
Moor Mother – The Great Bailout [ANTI-]
Obsidiana – Rotten Beauty [All Things Decay]
Pedro Sousa & Filipe Felizardo – Horizonte Entóptico [Marca Pistola]
Suchi – Ghungroo [!K7]
Temudo – 5 Assets [Sublunar]
Vários Artistas – MURK AT DAWN [Rapture]

Textos por Daniel Duque e Rui Castro, imagem por Catarina Ribeiro

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