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Berghain reinventa-se e abre portas ao público pela primeira vez em quatro meses

28 Julho, 2020 - 14:20

A famosa discoteca abriu portas (desta vez sem Sven Marquardt a guardá-las) com a exibição sonora “Eleven songs – Hall at Berghain”, de Sam Auinger e Hannes Strobl, que habitará o Kessel Hall até 2 de agosto.

A cena de clubbing berlinense começa aos poucos a erguer-se das cinzas, desta vez com novas ideias. Esta e outras iniciativas desempenham um papel vital no reerguer da prolífica vida noturna berlinense, e em afirmar mais do que nunca o papel de discotecas como o Berghain como importantes motores culturais da capital.

Convidados pelo curador Markus Steffens, foi proposto a Auinger e Strobl que criassem uma experiência acústica “para e com o espaço” do Berghain, que foi outrora uma colossal central elétrica. O resultado, preparado no ano passado, foi uma paisagem sonora quase surreal, cheia de murmúrios, ruídos urbanos e até hélices de helicóptero onde, segundo o curador, “o espaço serve quase de instrumento para os dois artistas, que fazem o som interagir com a arquitetura para criar experiências auditivas singulares nas diferentes zonas do edifício”, como disse ao The Local aquando da reabertura do local. Foi imposta uma restrição máxima de 50 pessoas em simultâneo no espaço, bem como o uso obrigatório de máscara, regras que, em vez de limitarem a experiência, provaram ser um excelente incentivo para atrair visitantes e ajudaram a cultivar uma ideia de segurança no espaço.

Mas, por muito que a discoteca conhecida como a “capital do techno” seja de grande relevo para a cena berlinense, não é a única. Há ainda muitas lutas para travar no panorama da vida noturna, tanto em Berlim como no resto do mundo.

Com mais de 140 discotecas espalhadas por Berlim, a vida noturna tem um impacto considerável na cidade, tanto a nível recreativo e económico como cultural. Alguns espaços, como o About Blank, Panke e Holzmarkt (parte do Kater Holzig) começaram a abrir as suas áreas exteriores como esplanadas, apesar de ainda não se poder dançar nesses locais. Há ainda os que sobrevivem graças a iniciativas como a United We Stream, um esforço conjunto entre a ARTE concert, a Radioeins, ALEX TV e a FluxFM.

Para surpresa de alguns, até partidos conservadores como o Christlich Demokratische Union Deutschlands (CDU), geralmente pouco populares junto dos figurantes do clubbing, se mostraram prontos para ajudar a mitigar os efeitos da pandemia no setor. Uma proposta, elaborada em julho pelo partido de Merkel, deve ser discutida no parlamento alemão nas próximas semanas. Nela, o estado cobriria 50% da renda original das discotecas que aderissem ao apoio, desde que o proprietário concordasse em abdicar da outra metade da renda.

Houve alguma controvérsia à volta dos apoios do estado neste setor. Segundo fontes como o jornal The Local, as mesmas rondaram os 80.000€ por discoteca. Já a Clubcomission Berlin afirma não terem passado de 25.000€ para os grandes estabelecimentos e 15.000€ para os que empregam menos de dez pessoas. O porta-voz da comissão berlinense salientou ainda que “os atuais programas, estabelecidos desde o início da pandemia são uma grande ajuda para apoiar o clubbing e o seu ecossistema” e que a iniciativa foi “de escala inédita a nível global”. Ainda assim, muitos estabelecimentos e organizações mais pequenas não conseguiram aceder a estes apoios. Lutz Leichsenring, da referida comissão, salientou ainda a necessidade de “personalizar estes programas de acordo com as necessidades individuais” de cada estabelecimento e organização.

Embora já comecem a surgir festas com poucas a nenhumas restrições em países como Espanha ou França, o risco associado às mesmas aos olhos de organizações, como a OMS e muitos governos, europeus e não só, faz com que estas ainda não se realizem em muitos países. A identificação de alguns espaços noturnos berlinenses como focos de contágio no início da pandemia certamente não abonou a favor dos mesmos, mas houve, ainda assim, apoios dignos de nota por parte do estado e de entidades de promoção cultural.

Em Portugal, as discotecas foram encerradas no início de março, e ainda hoje permanecem identificadas como um dos “maiores fatores de risco” no que toca ao contágio. Recentemente, a AHRESP alertou para o facto de “as empresas de animação noturna se encontrarem ‘na iminência de insolvências em massa’”.

Photo by Simon Tartarotti on Unsplash

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