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Diana A.

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Reportagem

OUT.FEST: exploração além barreiras no Barreiro

15 Outubro, 2018 - 13:09

Entre 5 e 6 de outubro, o Barreiro ganhou nova vida. Não foi novidade – o evento vai na 15ª edição – mas foi OUT.FEST, o Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro.

Então, em que consiste o OUT.FEST? Neste evento de dois dias é possível assistir a concertos de músicos de todo o mundo, e com todo o tipo de sonoridades possíveis e imagináveis. E não só. Para não se tornar aborrecido, estes concertos vão acontecendo em sete espaços diferentes. Um festival que celebra a diversidade e onde se cruzam passado, presente e futuro.

25. Era este o número total de atuações a acontecer, muitas em simultâneo, sendo que uma delas acabou por ser cancelada. No entanto, a sua substituição foi bem conseguida. Mas vamos por partes.

O festival começou no dia 5 pela tarde, e o primeiro espaço escolhido foi o antigo gabinete de projetos da CUF. Um edifício cheio de história localizado na zona da baía do Tejo. Uma zona com fábricas antigas, mas com uma marginal totalmente recuperada, com Lisboa como pano de fundo. A performance que deu início ao festival foi do artista finlandês Anton Nikkilä: uma obra audiovisual “montada num sistema quadrafónico ‘vertical’ e ‘anti-imersivo’” citando a descrição apresentada pela própria organização, o que, por si só, evidencia o afastamento do festival ao lado mais mainstream da coisa – afinal, o conceito de imersivo está cada vez mais presente à nossa volta. De seguida Vladimir Tarasov, percussionista de jazz, fez uma atuação que foi considerada por muitos como uma das melhores.

Sendo um dia mais calmo de que o seguinte, as próximas atuações aconteceram já depois da noite cair no espaço ADAO (Associação para o Desenvolvimento de Artes e Ofícios). Nele atuou o artista João Pais Filipe. Natural do Porto e também percussionista, utilizou apenas instrumentos de percussão modificados ou construídos à mão. Para completar: as portuguesas Toda Matéria, com as suas sonoridades que misturam acústica e eletrónica; o duo Telectu, oferecendo uma viagem à música eletrónica dos anos 80, que já estava bem à frente do seu tempo quando se deu a conhecer; as japonesas Group A, com uma performance rica a nível visual e musical; e por fim Nídia. Oriunda da margem sul, a artista da Príncipe Discos pôs toda a gente a mexer. Foi literalmente impossível ficar parado.

Para o segundo e último dia estavam programadas 18 atuações. O início fez-se na Escola de Jazz do Barreiro, com Clothilde. A artista lisboeta e o seu companheiro Zé, tcp HOBO, trouxeram um lado altamente laboratorial – e de não tirar os olhos e ouvidos. Nesse mesmo espaço seguiam-se as atuações de Kaja Draksler e Lea Bertucci. Em simultâneo na Biblioteca Municipal atuavam Ricardo Rocha, Cândido Lima e um pioneiro da música exploratória em Portugal, Rafael Toral. Uma atuação que também marcou muitos, especialmente pelo uso de instrumentos fora do comum, como simples molas. Para além destes atos, no espaço Futebol Clube Barreirense havia Opus Pistorium, Império Pacífico, a futurista Odete e Kerox. Atuações que nos levaram numa viagem espacial, tanto quanto o festival em si. No Largo do Mercado 1º de Maio, Jimi Tenor e o seu arsenal de instrumentos, transportaram-nos ao passado. Um passado psicadélico. Seguiram-se HHY & The Macumbas, sendo um dos integrantes o percussionista João Pais Filipe. A sua performance foi animada e cheia e ritmo.

Quando caiu a noite na cidade, a festa moveu-se para a associação os Penicheiros. Tendo havido uma atuação cancelada, um dos músicos do duo que ia fazer as honras, tocou inicialmente a solo. O músico iraniano Mohammad Reza Mortazavi e o seu instrumento também iraniano Tombak tomaram conta do palco. Impressionante. De seguida juntou-se o músico Burnt Friedman: juntos compõem o duo YEK. Música eletrónica acompanhada pelo Tombak. O resultado foi muito interessante. Quando esta atuação terminou, quem tomou conta do palco foi o dj e produtor Lotic com a sua eletrónica experimental, e quem finalizou foi Linn da Quebrada. Original de São Paulo, é uma voz que vale a pena ouvir, mais ainda nos tempos que correm e dada a situação atual do Brasil. Foi sem dúvida a rainha da noite. Findas estas atuações, o final acontecia no edifício A4 Baía do Tejo, onde tudo começou. Quem fez as honras finais foi o místico John T Gast e, por fim, o DJ Lycox.

Foi o culminar ideal para um festival igualmente exemplar, onde se celebra liberdade, multiculturalidade e igualdade. E (muita) música do futuro.


Fotografia por Inês Delgado

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