Temudo, co-fundador da Hayes Collective, é o convidado d’A Cabine para a transição de 2018 para 2019.
Temudo é João Rodrigues, natural de Torres Vedras. Desde cedo, João cria uma forte ligação com a música e matricula-se na escola de Jazz de Torres Vedras, onde estuda, durante dois anos, teoria musical e aprende a tocar guitarra e outros instrumentos. Inscreve-se, em 2006, no curso de Som e Imagem na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha, e é aí que começa a aventura na descoberta de música electrónica.
Em 2009, após terminar a licenciatura, João forma o seu projecto de drum’n’bass, Médio, onde dá os primeiros passos na produção musical. Edita na Razat Laboratory, fundada por Baltazar Gallego (mais conhecido por Razat), o seu primeiro lançamento. Influenciado por Baltazar, que foi uma pessoa muito importante no seu percurso, toca em vários espaços pelo país fora, continua a editar as suas primeiras faixas e realiza as primeiras edições do Darkarnival, festa que junta drum’n’bass, trance e techno, e da qual faz parte da organização das sete edições já feitas na sua terra natal.
Com o passar dos anos, as sonoridades sombrias e escuras do techno começam a ser o foco principal do torrense. Aphex Twin, Amon Tobin, Boards of Canada, Noisia e Extrawelt são algumas das suas primeiras influências. Após ter ingressado no Mestrado em Artes Musicais na NOVA, em Lisboa, por volta de 2014, partilha algumas sessões de estúdio com os -2 e conhece VIL: “eu comecei a ouvir techno com eles e isto é um pouco o fundamento da Hayes Collective; nós começamos a aprender muito uns com os outros.”.
A partilha de conhecimentos entre Temudo, VIL e -2 deu origem a uma convergência de estética que influencia Rodrigues a lançar o EP CPMP em 2016, pela Dead Motion Records, editora do qual é sócio ao lado de Low Is e UFO19. A validação deste trabalho manifesta-se quando a faixa Longe foi tocada no Deep Space Helsinki, conhecido programa de rádio do finlandês Juho Kusti. Seguem-se excelentes releases no mesmo ano, como 9.5, EP editado pela famosa Planet Rhythm, e Cava, EP digital lançado pela MODULHERTZ do português Chich.
Segue-se 2017, ano em que lança 4 EPs. O primeiro intitula-se The Traveler, carimbado novamente pela Modulhertz em vinil, que incluiu um remix do incontornável The Advent. O segundo EP, Nihil, mais uma vez com o selo da Planet Rhythm, chega ao Top 100 Techno Releases do Beatport. O terceiro, Focal, em colaboração com VIL, foi lançado pela editora de Damon Wild, Synewave. Já o último EP desse ano, The Mist Advances, lançado na editora italiana Affekt Recordings, pode ser considerado um dos mais importantes de 2017, tendo sido aclamado por Cleric, Rødhåd, The Advent ou, entre outros, Setaoc Mass.
A Hayes surge no final desse ano, ganhando forma pelas mãos de Temudo, VIL, -2 e Osse, influenciados pela amizade que têm e pelo sentido estético comum a todos, como refere João: “há sobretudo a estética, e dentro dela definimos barreiras. Há um sentimento de que sabemos muito bem o que queremos. Claro que há alguma discórdia em certas coisas mas a identidade está mesmo bem criada, e é isso que prevalece.”. O coletivo está focado em mostrar as produções distintas dos seus artistas através de vinil e lançamentos digitais. HYS001, HYS002, HYS.K001 e HYS003 são os VAs que foram editados em 2018, onde Temudo assinou faixas como A1, A2, The Lofts Curse e You have Beautiful Highs.
Temudo, agora com 30 anos, define-se cada vez como um peso pesado no panorama da música techno em Portugal, e tem mostrado o seu valor como produtor e dj em 2018, tendo provado isso em algumas festas d’A Alice e da Vértice, ao lado de nomes como Ben Sims e Reeko, entre tantos outros eventos. Em dezembro, destacou-se com a faixa Alegadamente foi Ácido, em conjunto com a dupla -2, editada pela célebre Mord de Bas Mooy, a Mord, que se encontra numa compilação da série Herdersmat.
Recentemente deu vida à Tema Mastering, projeto no qual trabalha a masterização de faixas, EPs, VAs e álbuns, como tem feito em grande parte dos seus lançamentos, tanto na Hayes como a solo. O mais recente trabalho da editora AWRY do italiano Wrong Assessment, AWRY005, que conta com 16 músicas produzidas por Setaoc Mass, Zadig, Refracted, Kwartz, Ruhig, entre outros, foi masterizado por Temudo. O lançamento digital do álbum está definido para 5 de Janeiro e inclui a sua primeira faixa do ano de 2019, O Parvalhão.
João adianta que, em 2019, irá editar um EP a solo para a AWRY, e um release na Invite’s Choice e na Planet Rhythm. Até lá, fiquem com as sonoridades que o dj curou neste episódio, sondando e explorando timbres e frequências que caracterizam o som escuro, sónico e hipnótico de Temudo, nome que merece ser seguido com muita atenção no futuro.
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