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N’A CABINE #023: Odete

13 Fevereiro, 2020 - 12:44

Odete assina um abrangente mix no 23º episódio do podcast N’A CABINE.

Por entre trabalhos como “Matrafona”, editado pela naivety no final de 2018, ou “Amarração”, lançado pela Rotten \ Fresh no ano passado, Odete tem chamado a atenção da cena pela irreverência e exploração sonora com que vai para além dos habituais padrões. E este episódio não é excepção.

Para saber mais um pouco acerca de ti, como explicarias quem é a Odete? Como foi o teu percurso até à data?
O meu percurso começou nas artes performativas, depois de ter feito um curso de teatro. Comecei a romper os laços com a escola e a desenvolver os meus próprios trabalhos e linguagem, para começar a perceber melhor como existir para além da grelha que a escolha me impunha. Acabei por desenvolver performances nos três anos a seguir a ter saído e mudei-me para Lisboa, onde acabei por conhecer os meus amigos. O contacto com a cidade puxou por mim, que vinha do Porto, de uma maneira bem frutífera – acabando por conhecer mais pessoas ligadas à música por exemplo, e a perceber que as possibilidades eram ainda maiores.

Consegues precisar o teu primeiro contacto com a música eletrónica? E como começou a aventura no djing?
Djing começou com mixing de músicas no quarto, depois ter começado a minha transição hormonal. Criar mixes, misturar géneros, sons e discursos era a coisa mais próxima e imediata para expressar aquilo que se estava a passar comigo. A maior parte das referências trans que procurava estavam ligadas à música e isso impulsionou-me a tentar também – poderia ser que houvesse alguma coisa neste medium que fizesse mais sentido para mim naquele momento, pois a minha vontade de explorar as artes performativas estava a ruir. Não só pelo facto de que o meu corpo teria que aparecer e tornar-se afirmativo, mas também pelo fetiche visual que sentia ao aparecer – as pessoas consumiam a minha diferença de maneira quase grotesca.

Quais as influências que vês como marcantes para ti?
As minhas influências são variadas, desde Quay Dash, Juliana Huxtable, Serena Jara ou Arca (em termos musicais). Claro que o espectro referencial se estende a outras áreas, passando pela Ursula Leguin, a Donna Haraway, Herculine Barbin, Simone de Beauvoir, tantas sei lá! Acho que mais marcantes são os meus amigos, que constantemente colaboram comigo e me inspiram, como Stasya, Drvgzila, Ness, Herlander ou Saint Caboclo.

Enquanto DJ, o que procuras fazer em cada atuação? Como é que preparas um set ou como encaras uma audiência, por exemplo?
É sempre diferente, especialmente se for só mais um gig em que o contexto e o público me são desconhecidos. Aquilo que preparo é segredo 😛 o meu processo criativo em termos de mixing é cheio de mistérios e vou deixá-lo assim. Não procuro nada enquanto DJ senão conseguir captar a imediatez dos sentimentos e dos pensamentos que passam por mim a tocar – como é um medium do momento, efémero, só estando atenta ao momento é que posso guiar-me e conseguir que o set tenha um objeto extra-pessoal. Encarar uma audiência é a parte mais difícil – há quem diga que o DJ serve o público e que o seu trabalho é ler ou interpretar a dita “audiência” mas para mim é conseguir momentos de vulnerabilidade coletiva que a mim me interessa – conseguir que a efemeridade do momento seja impotente, seja frágil, caia – mas de forma coletiva e não individual. Conseguir através de um set que os corpos se diluam, se percam, que as narrativas se confundam e que as fronteiras se expandam. Uma vulnerabilidade de limites.

Tens ligações à Circa A.D. ou até à suspension. O que tens a dizer sobre o teu papel nesses projetos e na cena portuguesa?
Eu faço parte da Circa A.D e da Troublemaker Records – elxs são a minha família. O meu papel na suspension é mais aleatório e provisório, pois só ajudo no que o Marum precisar. Foi escolha minha não participar ativamente, até porque não consigo dedicar-me a tantas coisas. O meu papel na Circa é igual ao da Stasya, Saint Caboclo ou Fylha – discutir, propor e juntar esforços para conseguir criar algo diferente do resto da cena portuguesa, principalmente no que toca a políticas identitárias a imiscuir-se no território da club music.

E a nível individual, em que te andas a focar nos últimos tempos? E o que podemos esperar de ti no futuro?
Neste momento estou a preparar uma exposição e mais alguns projetos visuais. O meu EP sai dia 27 de março, com release party na ZDB. Estou também a desenvolver um projeto com o Drvgzila entre o anime e a banda sonora – queremos tentar lançar no final do ano, mas logo se vê porque ainda é um projeto ambicioso. O resto é ainda mantido em segredo porque não sei se posso revelar! Não sei o que podem esperar de mim no futuro porque é sempre tudo incerto, mas fiquemos juntos e próximos e logo se vê!

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