AUTOR

Rui Castro

CATEGORIA
Entrevista, Lançamento

Mal Menor: “Ansiávamos por combinar poesia com paisagismo sonoro”

4 Janeiro, 2021 - 11:52

É “por melhor barulho” que nasce a Umbria, e o disco de estreia dos Mal Menor, “por não te ter dito I”, segue essa toada.

De uma assentada só, vemos florescer mais dois projetos no nosso mundo da eletrónica nacional. Desta feita o campo abrange-se, e não é só a eletrónica quem fica a ganhar. A poesia também. Mal Menor é um projeto que nasce no final de 2020, constituído por Afonso Patinhas, Diogo Neto, Leonardo Janeiro e Pedro Janes. Enquanto se juntavam para tocar, “Leonardo partilhava da vontade de expor a sua poesia entre serões”, e o projeto surge da fusão entre essa poesia, paisagem sonora e eletrónica, numa “materialização ansiada do cruzamento entre todos.”

Este é um álbum conceptual, pensado como um todo, com linhas orientadoras bem definidas. “A sequência de músicas foi escolhida de modo a montar uma narrativa. Posteriormente surgiram os separadores que propõem uma pausa para respirar, que finda o estado anterior e prepara para o próximo”, releva-nos Diogo Neto.

Ainda sobre o conceito de “por não te ter dito I”, Neto afirma a importância de a “poesia soar crua, exposta como surgiu na altura e não com a finalidade de ser cantada. A paisagem sonora confere-lhe uma outra dimensão, um outro suporte para o imaginário, onde o foco é também expressar algo espontâneo, e não a técnica dos instrumentos”. Afinal, segundo o próprio, “por vezes a leitura da poesia é despegada de uma proximidade com o som. Aqui queríamos estabelecer essa proximidade e investigar a relação entre ambos, onde um elemento dá força e movimento ao outro.”

Torel foi o single de revelação escolhido, “pela intensidade e peculiaridade da música, que fazem dela um convite à descoberta do projeto”. Este surgiu acompanhado por um vídeo de apresentação, da autoria do próprio Diogo, que viu na intensidade e ambiente introspectivo do tema “um clima adequado à utilização de espaços moldados pela luz e as suas variações que, ao se sincronizarem com o som, ganham outra dimensão. Tudo isto faz sentido, até porque “o próprio disco constitui uma tentativa de fazer a ponte entre o cinema e a música.”

Se ao escutarem o álbum sentirem dificuldades em classifica-lo sonicamente, eis uma explicação que talvez ajude: “Mário Viegas a aquecer para proclamar a cena do ódio.”

A Umbria, editora lisboeta fundada por alguns dos membros de Mal Menor, inaugura assim o seu espólio com um projeto interino, mas Diogo refere que “chegará o momento em que abrirá portas a outros artistas. Por agora estamos focados em montar a casa que os receberá.” À conversa com A Cabine, revela ainda que a sonoridade não é o foco primordial da Umbria: “a sonoridade, para nós, é menos importante que o processo. Ambicionamos sobretudo explorar intenções, texturas, acidentes.”

“por não te ter dito I” foi lançado no passado dia 27 de dezembro, e pode ser adquirido no Bandcamp da Umbria.

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