Entre lasers, luzes e sons eletroacústicos, A Cabine vislumbrou a viagem no tempo por entre mais de uma década de :PAPERCUTZ, que culminou (também) no Theatro Circo.
“Choral”, performance que uniu os instrumentais eletroacústicos e voz de Bruno Miguel ao coro de Catarina Valadas, Maria Gouveia e Sofia Sá, esperou há pouco menos de um mês a corajosa audiência que se aventurou portas adentro duma das mais emblemáticas salas de espetáculo do país.
Enquanto a Carina e eu nos posicionávamos na galeria lateral, para fotografar e escutar 15 músicas com luzes, lasers e expressividade musical à mistura, o quarteto que quis ser orquestra por um dia abria com Choral, uma espécie de encruzilhada onde ambient, pop e melodias vocais se juntam para apresentar o que vem a seguir. Pouco depois, Halfway There vem afirmar sons de terras longínquas e uma cadência luminosa cada vez mais forte. O sabor a pastilha elástica e o lado mais dançável ganham volume em Your Beliefs, mas nunca perdendo a assinatura vocal e de variedade musical característica do projeto.
A atmosfera etérea e a componente teátrico-paisagística mantiveram-se em Lowlands e Indifference, imediatamente seguidas por uma arriscada aposta nos corantes sónicos e numa musicalidade que, embora coerente, fiel a si mesma e lindamente executada, se torna por vezes muito repetitiva. Contudo, é também essa mesma repetição que ajuda a criar um muito necessário momentum para os picos de intensidade musico-estroboscópica que se revelam, por exemplo, nas vozes oníricas de Become Nothing, nos ritmos entre o gameboy e o tribal de Days of Rejoice, na orientalidade néon e progressão irregular de Year New, na nostalgia nórdica e mitológica de Where Beasts Die e no retorno minimalista às raízes de Do Outro Lado Do Espelho, tema reinterpretado pelo quarteto que remonta aos tempos de “Lylac”, álbum de :PAPERCUTZ lançado em 2008.
Bem executado (fora um “soluço” do sistema de som no início do espetáculo) e repleto de mergulhos, corridas a alta velocidade e vozes que agitam e acalmam ritmos eletrónicos e orgânicos em simbiose pura, “Choral” foi uma performance com pouco por onde correr mal, e que soube afirmar-se à plateia tal como é: sem medo de ser tantas coisas em simultâneo. Assim, a 11 de julho, enquanto pairava lá fora um arco-íris, o imponente candelabro do Theatro Circo brilhou, qual holograma, à luz dos holofotes e lasers que coreografaram esta narrativa. Fez-se luz. Fez-se som.
Fotografia de Carina Fernandes
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