AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Podcast

N’A CABINE #041: DJ Otsoa

19 Julho, 2023 - 12:40

DJ Otsoa é o 41º convidado do podcast N’A CABINE, onde mostra parte dos discos portugueses que tem colecionado.

DJ Otsoa é um dos nomes que tem chamado mais a atenção no movimento portuense. Isso deve-se à sua energia e vontade de fazer acontecer, sim, mas também ao trabalho que desenvolve em projetos como a Mera.

Ainda assim, João Soares não toca há muito tempo. Como podes ler nesta entrevista, Otsoa aponta os anos de 2016 e 2018 como fulcrais para o seu desenvolvimento artístico, em parte graças ao coletivo Ócio e à partilha que pôde viver por lá.

Desde então, já trabalhou como produtor no Passos Manuel e, mais recentemente, tem apostado em festas ao ar livre e durante o dia com a sua Mera. Pelo caminho, nunca deixou de dar de si à música portuguesa, até mesmo pela compra de discos – “este set vai-nos levar por esta pequena coleção que fui criando e por alguns artistas portugueses que acho pertinente conhecer. Entre a dança, o experimental e a contemplação”, conta-nos.

Em jeito de mixtape, este 41º episódio de N’A CABINE leva-nos por muita música do Porto, mas não só. A viagem vai desde Batsaykhan a Conferência Inferno, a passar por nomes como A Thousand Details, Minus & MRDolly, IVVVO, João Pais Filipe, Lake Haze ou Ghuna X. A tracklist está disponível depois da entrevista.

Para começar, a pergunta da praxe: Quem é o João Soares?
Nascido e sediado no Porto, com licenciatura em Design, co-fundador da Mera Label e do Coletivo Ócio, dois projectos presentes no panorama nacional da música e da arte contemporânea. Até há pouco tempo como Produtor Executivo no Passos Manuel, mas sempre com um pé nestes projectos paralelos que me definem e que me levam a querer puxar mais pela cultura da cidade e arredores. Sempre fui muito indeciso, desde miúdo, percorrendo vários cursos até chegar ao Design Gráfico. Esta indecisão, ainda hoje, me faz procurar sempre algo novo em que possa trabalhar e aprender. Daí ter surgido há uns anos este gosto pela mistura e pelo DJing, que me abriu muitas portas e me fez conhecer pessoas maravilhosas que estão dentro do circuito principal da música e que hoje posso chamar de amigos.

Com este gosto de ser DJ, também veio o gosto pela produção e pela vontade constante de querer fazer acontecer e de mexer pelo público. E quando digo público, digo também todo o leque de artistas existentes neste momento que, a cada dia, surgem cada vez mais a produzirem e a criarem coisas incríveis. É isto que me move também, puxar por estas pessoas que nem sempre conseguem ter essa capacidade de conseguir ter um palco ou um espaço de partilha, mas a verdade é que a nossa geração adora fazer mil coisas ao mesmo tempo e acabas por não ter tempo para pensares em como hás-de mostrar o teu trabalho. Isto é uma das coisas que me define sem dúvida e me leva a continuar a procurar fazer estes contactos que levas para a vida e com os quais aprendemos sempre um pouco mais.

Como é que o João chega a Otsoa? Lembras-te de como tudo começou e do processo até hoje?
Otsoa surgiu desta procura insana para poderes ocupar o teu tempo. O Ócio sempre foi uma inspiração enorme nesta procura e as pessoas que me acompanharam desde início mostraram-me esta capacidade de estar constantemente curioso e com vontade de aprender. Em 2016, na Rua de São Vitor, nos nossos 14m2, o Nelson Duarte um dia decidiu comprar o Volca Sample e a partir daí começamos todos a juntar gear e viajávamos horas sem fim no estúdio até às tantas de manhã. Depois de meses sem fim a jammar, compramos uns CDJ-400 e começamos a ter a primeira experiência com a mistura.

Em 2018, já no estúdio na Rua Passos Manuel, um espaço enorme por cima da loja de música da Sá da Bandeira onde juntamos o Ócio todo e convidados amigos, o David Ferreira trouxe uns pratos e foi aí que comecei a explorar seriamente a música. Fui comprando uns discos e, quando podia, estava sempre lá a experimentar, a riscar discos e a aprender a misturar. A dada altura, decidi começar a convidar amigos e pessoas que não conhecia assim tão bem, a gravar sets e criar uma série de sessões onde pudéssemos partilhar música e apresentar isso a posteriori. Surgiu essa necessidade de criar um nome e poder dar os primeiros passos a partilhar os teus primeiros sets e a encontrares o teu lugar com o que te identificas mais. Esta série de encontros fez com que me aproximasse mais do panorama e de conhecer as pessoas que estavam por detrás da programação mensal do Porto. Tive a sorte de ser tão bem recebido nesta comunidade e poder começar a tocar nos sítios que frequentava que me levaram ao que sou hoje.

És um dos nomes por trás da editora portuense Mera, mas também foste produtor no Passos Manuel e estás envolvido em projetos como ÓCIO. Consegues falar acerca da importância destes no teu desenvolvimento pessoal e artístico?
O Ócio sempre me inspirou nesta questão de criares o teu próprio espaço na cidade e situa-lo no circuito artístico presente. Somos muito diferentes dentro do coletivo, havendo esta inspiração mútua e isso faz com que consigamos desenvolver um pouco de tudo no nosso espaço. A Mera, como parte inerente do coletivo, permitiu-nos explorar a música e a forma como a podíamos partilhar. Como DJ, poder ter a capacidade de organizar eventos com a Mera e poder estar presente a tocar, puxou por mim como artista e fez-me querer aperfeiçoar a técnica e explorar novos caminhos na música. À medida que o tempo passava, os contactos cresciam e a cumplicidade com os espaços aumentava. Criando essa confiança, dão-te esse espaço para poderes estar presente e poderes fazer o que gostas.

O Passos Manuel foi um desses e, depois de colaborar com eles em vários projectos, como o Mera Transmission, a Patches e a apresentação do Abrupt pelos berru e Dust Devices, comecei a trabalhar com eles a sério como Produtor. Pude aperfeiçoar este lado de fazer acontecer, de receber artistas, gerir um espaço que está presente ativamente no circuito e de poder tocar mais no que é agora, a minha cave favorita. O Passos abriu-me muitas portas e sinto que cresci muito como pessoa e artista. O Porto, como cidade e panorama artístico, teve e tem um impacto gigante no meu percurso e estou muito grato a todos que acreditaram. Mais recentemente a vontade de criar eventos diurnos emergiu e agora tenho-me focado mais em fazer acontecer fora do circuito nocturno e oferecer um outro ambiente ao público e aos artistas, como desafio e como forma de explorar o dancefloor de outra forma.

Obrigado, João. Para terminar, diz-nos: o que decidiste fazer para este podcast?
Ao longo destes anos, fui colecionando algumas gemas portuguesas em vinil, de todos os géneros, que me influenciaram este tempo todo e que me levaram também a ver a música de outra forma. É importante receber estes estímulos de artistas diferentes e de géneros musicais diferentes. Portanto, este set vai-nos levar por esta pequena coleção que fui criando e por alguns artistas portugueses que acho pertinente conhecer. Entre a dança, o experimental e a contemplação, levo-vos numa viagem que espero que vos preencha um pouco o vosso dia.

N’A CABINE #041: DJ Otsoa
Batsaykhan – Meteorologia [Favela Discos]
Coletivo Vandalismo & Querido Líder – XII [Favela Discos]
IVVVO – World [AD 93]
Minus & Mr. Dolly – The Break [Jazzego]
João Pais Filipe – Rendição [Flee]
A Thousand Details – Cleric Terror Corps [Reaktivate]
Luar Domatrix – Heaven [Discos Extendes]
Vilamar – Vilamar 04 [Vilamar Records]
Dust Devices – Around That Place [Zodiak Commune Records]
Shcuro – Unbearable Heaviness [Klakson]
VSO – Complacency [Zodiak Commune Records]
Çuta Kebab & Party – Xuta Bomba [Faca Monstro & Chili Com Carne]
Lake Haze – radius_X34 [E-Beamz]
Ghuna X – Tonkee [Marvellous Tone]
Conferência Inferno – Radiação [Lovers & Lollypops]

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