AUTOR

Daniel Duque

CATEGORIA
Entrevista

“Abraçar tudo de bom e mau” com Vile Karimi

23 Maio, 2024 - 14:31

Tem em “Safe From Harm” um dos registos introspetivos mais especiais deste ano. Agora, Vile Karimi fala sobre esse álbum e o caminho até ele.

I don’t wanna be me anymore“, cantavam os Type O Negative, influência direta de Vile Karimi em “Safe From Harm”. Uma letra que ecoou e ecoa em ouvidos por esse mundo fora, ou não fossem a música, a poesia e a arte alguns dos poucos meios que temos para encontrar um abrigo que ajude a compreender a individualidade, o coletivo, o mundo. Escape para quem consome, sim, mas também para quem compõe.

Mariana Vilhena cresceu na periferia do Porto e acredita que sempre teve interesse em compor música. Mas a verdade é que só se começou a dedicar em 2020 – apesar de ter tocado piano em criança, foi algo que “nunca chegou a desenvolver muito.” Durante o confinamento provocado pela covid-19, “ganhou coragem porque sentiu que não tinha nada a perder.”

“Comecei por fazer mixes de coisas que andava a ouvir na altura e depois, um bocado a por convite do Miguel [dpe0] para um remix da música July, fui juntando bits and bobs no Logic”, recorda Mariana Vilhena, que por essa altura ainda assinava com o nome lvcefecit.

“No início, achava muito difícil acabar uma música porque sentia que era uma experiência muito pesada para mim”, relembra. “Ainda é, mas de forma diferente, como se literalmente uma parte de mim tivesse saído. Era sempre uma experiência catártica.”

“Agora, quando encontro o som perfeito, tudo se resume em êxtase e numa sensação de accomplishment: está aqui aquilo que procuravas, descansa”, conta-nos Vile Karimi, notando que acredita que muitas pessoas “não compreendem que o trabalho criativo exige imenso e é extremamente drenante.”

Vile Karimi no terceiro evento Sintoniza, do Jornal S/ Título, na SMUP

E se Vile Karimi começou por se aventurar no Logic, o caminho ainda a levaria até o Korg MS-20, por exemplo, sintetizador no qual baseia grande parte de “Womb Trails”, de 2022, trabalho revelador da sonoridade deste nome e que sucedera “The Holy Spirit Movement”, lançado nesse mesmo ano.

No início de 2024, pôs cá fora “Safe From Harm”, outro álbum editado de forma independente e que consideramos um dos nossos lançamentos favoritos de janeiro. “Mais à base de plugins, desconstrução de samples e field recordings”, como nos explica, este é um registo emo, denso e algo assombroso, no bom sentido, marcado por ambiências etéreas e nostálgicas, cordas e teclas que nos circundam com todo o tempo e espaço, ou vozes pontuais mas acutilantes. Um refúgio ambient e drone imprescindível na nova música portuguesa.

Questionada sobre se “Safe From Harm” tem alguma influência da editora Posh Isolation ou de “coordenadas mais shoegaze e metal”, Vile Karimi mostra-se contente por “encontrarmos isso na sua música”, mas, “apesar de adorar” a label escandinava, não pode dizer que seja uma influência direta. “Acho que é difícil fugir dos artistas que admiramos, portanto diria Nine Inch Nails e Elliott Smith”, diz-nos antes de ir mais longe: “Type O Negative é uma influência gigante no ‘Safe From Harm’. Aliás, diria emo e nu metal no geral, honestamente.”

A música é um “veículo perfeito” para Vile Karimi se exprimir e o álbum “Safe From Harm” surgiu “um bocado do nada, mas é muito íntimo, tal como ‘Womb Trails’”, que, desabafa Mariana Vilhena, não surgiu “na melhor fase da sua vida.”

“O ‘Safe From Harm’ vem de uma estabilidade emocional que pensava nunca ser possível na altura do ‘Womb Trails’”, confessa: O novo disco “resume-se em aceitação e abraça tudo, o bom e o mau. Sinto que fui beber ainda mais à nostalgia e melancolia, mas com carinho desta vez.” Abracemos esses sentimentos também.

Algumas das próximas datas de Vile Karimi passam pela Socorro, no Porto, a 26 de maio, e pela Galeria Tratuário, no Funchal, a 14 de junho, no âmbito das MADEIRADiG CiTY SESSIONS.

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