Jomi revisita a edição deste ano de OUT.FEST, um dos festivais de música exploratória mais especiais em Portugal. As fotografias são de Vera Marmelo.
Para um festival que começou sem olhar muito para o futuro, imaginar um roteiro sem ele seria imaginar um cenário distópico de que não queremos fazer parte. A celebrar o 20º aniversário, esta edição de OUT.FEST voltou a cumprir com as expectativas e reforçou o quão fundamental é para a música alternativa no país.
São cerca das 21h20 de quinta-feira, segundo dia de festival, quando chegamos finalmente ao Barreiro, e o primeiro concerto que vamos ver é logo um dos que esperamos com mais entusiasmo. Antes, há tempo para um café e para apreciar o ambiente animado e boa disposição que já se fazem sentir à porta da SIRB Penicheiros. As caras e as conversas não enganam: estamos definitivamente no OUT.FEST.
Já dentro da venue que se ia enchendo a olhos vistos, Dreamcrusher entra em cena preparade para levar a energia da sala à mais alta das voltagens. Após um período inicial em que se confessou “very nervous”, e artista pediu ao público para não temerem, chegarem mais perto e fazerem parte do caos sónico que estava prestes a abater-se sobre o salão dos Penicheiros.
Concerto que começou mais frenético do que esperávamos, com drums incessantes a emergirem por cima do noise abrasivo, bem característico da música de Dreamcrusher e que foi acompanhado por um espectáculo de luzes não menos catártico. “I’d like the lightining to be more chaotic”, e assim foi. Pelo meio houve direito a moche, inclusive com a presença do artista no meio do público que, depois de um momento mais introspectivo em que o metal tomou conta do espectáculo, nos surpreendeu com um final reservado a algumas malhas de jersey club que puseram o já muito público a dançar.
Ao longo de 45 minutos, Dreamcrusher lançou o seu caos sónico e sensorial sobre a plateia ao mesmo tempo que procurou a comunhão com todes es que se deslocaram para a sua performance. O título “Noise And Experimental Music Is For Everyone”, do documentário sobre o qual foi alvo, cai que nem uma luva no incrível espectáculo que nos proporcionou.
Não é por acaso que Billie Woods e Elucid, aqui presentes como Armand Hammer, se tornaram bastiões da cena de rap alternativo americana ao longo da última década. No entanto, seria pedir demais a esta dupla que conseguisse dar continuidade à alta tensão vivida na sala durante o concerto de Dreamcrusher.
A verdade é que o ambiente está mais frio, como de resto é característica da música e letra incisiva, séria e que se apresenta como uma forma distinta de lutar contra o mesmo status-quo contra o qual Dreamcrusher se revolta. Abordagens diferentes e que, nesta noite, surtiram efeitos diferentes, com o público agora em menor número, apesar de não faltarem mãos no ar e até muitos fãs acérrimos a cantar com os rappers.
O dia de sexta-feira começa de forma diferente. Às 17h, sentamo-nos numa sala da Escola de Jazz do Barreiro para ouvir DeForrest Brown Jr. apresentar “Assembling a Black Counter Culture”, o seu livro de 2022.
Ao longo de mais de uma hora, o escritor e artista que actuaria no dia seguinte como Speaker Music falou-nos da história do techno, dos elementos que considera fundamentais à sua formação e da “afro-revolução” que artistas como Juan Atkins puseram em curso no final dos anos 80. Conversa densa, mas entusiasmante, com vários momentos musicais em que podemos revisitar grandes clássicos da música techno, como Enter, de Cybotron. O livro já está na nossa wishlist.
De volta à música, conseguimos finalmente entrar numa já lotada Igreja de Santa Cruz para ouvir os últimos momentos de LEIDA, coro comandado por Mariana Dionísio e do qual lamentamos não ter tido oportunidade de ouvir mais tempo. É que já há fila à porta e são muitos os que esperam ainda conseguir chegar a tempo de FUJI|||||||||||TA, um dos nomes mais aguardados do dia.
Numa performance onde o processo de criação acaba por se sobressair mais do que a própria sonoridade, o japonês encarou completamente a ideia de “música exploratória” que caracteriza o festival, indo desde momentos mais experimentais e frenéticos a outros mais minuciosos, densos e a apelar à introspecção.
Não podemos dizer que não achamos impressionante ver Fujita a controlar o seu órgão de tubos como uma espécie de maestro de uma orquestra que só o próprio conhece e domina, mas, só no final, quando a voz do próprio entra em cena, é que sentimos que este processo se materializa em algo de valor maior.
Talvez o problema seja nosso: a fome já aperta e queríamos mesmo era estar na internet a ler sobre o beef entre Juan Atkins e Frankie Knuckles que DeForrest Brown mencionou.
Já jantados e prontos para uma noite que se avizinhava longa, chegamos à ADAO às 21h30 para ver Inês (Malheiro) + Arianna (Casellas) + Violeta (Azevedo). Trio formado após um convite endereçado pelo gnration a Inês Malheiro, as artistas levaram-nos numa incrível viagem entre os sons do violoncelo de Ariana e a flauta de Violeta, guiada pela voz de Inês e com os efeitos sonoros da electrónica a atribuírem um fundamental cunho identitário numa simbiose sonora que nos soou a pura poesia.
O disco, gravado na semana seguinte ao festival, passa imediatamente a ser um dos que mais aguardamos no futuro próximo. Para já, ficam as memórias de um concerto belíssimo, entre três artistas com um virtuosismo que já tínhamos como dado adquirido, mas com uma sinergia normalmente reservada a bandas que já têm longo historial em palco.
Sem qualquer tempo para respirarmos, Mariam Rezaei já está a colocar os gira-discos a fazer coisas que não sabíamos ser possíveis. Um pouco à semelhança de Fujita, o processo acaba por ser peça fulcral da performance da artista. Ao longo de 45 minutos de improviso, entre sonoridades que foram do ambient, ao noise e nunca esquecendo o drone, Mariam Rezaei impressionou o público na Sala das Colunas.
E por falar em noise, Donna Candy era a banda que se seguia. Trio de Marselha assente no baixo, voz e bateria, veio provar que o todo vale, ou soa, a muito mais que a soma das partes. Com o sludge e o metal como palavras de ordem, não houve alma e corpo que não se rendesse ao headbanging durante um espectáculo incisivo de riffs, gritos e efeitos sonoros que se conjugam para oferecer uma sonoridade própria, mas que encontra claramente influências e semelhanças noutros grupos associados à cena queer-noise.
Casa cheia, muito calor e um concerto triunfante que arrancou aplausos muito merecidos da plateia.
Mais uma vez sem qualquer tempo para respirar, Nazar já está a puxar a Sala das Colunas ao limite. Não foi preciso muito para o músico angolano e o seu “rough kuduro” colocarem toda a gente dançar.
Num live que contou com reinterpretações de temas do álbum “Guerrilla” ou até do EP “Pausado”, ambos de 2020, Nazar assumiu o microfone com uma energia que ainda não lhe conhecíamos neste formato. Não é à toa que o próprio associou o termo “rough” à sua música. Infelizmente, a acústica do espaço não foi capaz de aguentar da melhor forma com a avalanche sonora de efeitos abrasivos e kicks avassaladores que caracterizam as suas produções.
Depois dos momentos catárticos vividos em Nazar e Donna Candy, não estávamos, infelizmente, na onda certa para apreciar o som dos France, o qual trocámos pelas não menos importantes conversas e reflexões sobre o que se vai vendo e ouvindo pelo OUT.FEST. Não há dúvidas de que Dreamcrusher parece ser o momento que mais consenso reúne até ao momento, mas ficamos muito felizes ao perceber que Inês + Ariana + Violeta ganharam tantos fãs.
De volta à pista, Zancudo Berraco estava prestes a dar-nos uma das mais alucinantes performances que vimos em muito tempo. Nome importante da cena de club e electrónica underground no nosso país, não foi por falta de vontade que ainda não nos tínhamos cruzado com os lives de Henrique Apolinário, mas depois desta nunca mais o queremos perder de vista.
Foi uma aula de experimentalismo clubbing, entre breaks, kicks e bleeps, com ritmos ácidos, frenéticos e alguma distorção à mistura, uma combustão que incendiou por completo a Sala das Colunas e não terá deixado ninguém indiferente. Música de dança livre, espontânea e sem restrições, num daqueles lives em que não só não paramos de dançar, como não parámos de sorrir, embevecidos com todas as viragens que Zancudo Berraco fazia.
A terminar a noite, Nkisi apresentou-se com uma performance em formato híbrido, composto apenas por produções da própria. Num set que começou mais progressivo e denso do que gostaríamos após o live anterior, não conseguimos infelizmente entrar no mood e acabamos por decidir terminar a noite mais cedo. Ainda há muito festival no fim de semana e os ouvidos querem-se frescos para o que aí vem.
Decisão definitivamente acertada a da noite anterior, confirmada pelo incrível concerto de Tomé Silva, às 17h, na Biblioteca Municipal. Apenas com um piano à sua frente, o jovem almadense tocou por cima dos samples que o próprio controlava, numa performance com a dose certa (muita) de música ambient para aquela hora. Os elogios a Tomé começam a tornar-se repetitivos, um problema que esperamos continuar a ter durante muitos anos.
Continuamos pela biblioteca para ouvir Jules Reidy, mas o cariz denso e até algo drástico da sua música acaba por contrastar demasiado com a serenidade e beleza atmosférica da performance de Tomé. Seguimos então até aos Penicheiros, onde encontramos uma sala já quase cheia, com muito do público deitado enquanto escuta a música serena, mas profunda, de Perila.
Kakuhan, o duo japonês composto pelo violoncelista Yuki Nakagawa e Koshiro Hino, membro dos goat (JP), foi talvez a grande surpresa para nós do festival. Combate de sons entre as percussões electrónicas nas máquinas de Hino e a acústica do violoncelo de Nakagawa, a resultar numa viagem entre o industrial, o pós-punk e até o noise, avalanche sonora que obrigou até os corpos deitados no recinto a começar a mexer. Óptimo concerto para abrir o apetite.
Infelizmente, como é apanágio por aqui, o jantar atrasou-se. É que entretanto já há horas e horas de concertos sobre os quais discutir, dialogar e às vezes até reimaginar. Sem que falte discussão sobre os momentos mais esperados da noite, onde Nidia + Valentina ganham sem qualquer surpresa. Perdemo-nos no raciocínio, desculpem, mas o que queríamos dizer é que não chegámos a tempo de Nu No.
Começamos assim a noite na ADAO com o concerto de CAVEIRA. Iguais a si mesmos, o projecto fundado por Pedro Gomes e que conta agora também com Miguel Abras, Gabriel Ferrandini e Pedro Alves Sousa não sabe tocar mal e voltou a não desiludir, num espectáculo de rock com experimentações entre o noise e o jazz que foram receita perfeita abrir a noite.
Já falamos aqui de DeForrest Brown Jr. e da talk que deu no dia anterior e, no início do seu live como Speaker Music, há logo uma curiosidade que nos salta à vista: o seu setup, composto por um laptop e um iPad, é exactamente o mesmo que usou na apresentação do livro.
Aqui, no entanto, a complexidade da história escrita e visual é trocada pelas matérias de improviso sónico sempre com o techno como pano de fundo. Uma performance que inicialmente se focou mais no experimentalismo e improviso com poliritmos de recorte futurista, com claras influências jazz que são uma constante na música de Speaker Music. Conclusão letal num momento de club mais puro e que lhe valeu merecidíssima ovação no final do set.
Novamente sem tempo para descanso, as H31R fazem-se rapidamente ouvir na outra sala. O outro duo de hip-hop presente no OUT.FEST traz ao Barreiro a sua mescla de sub-géneros e influências que deixaram bem patentes num dos concertos mais cativantes do evento.
Rapidamente o público se rendeu a um espectáculo onde tudo funcionou, com o alinhamento a começar pelas tracks de produção mais clássica, interpretação própria de ambas do boom bap, até às faixas mais viradas para a electrónica e que, como é invariável no OUT.FEST, fizeram aumentar a temperatura da sala. O minuto e meio frenético de Glitch in Time marcou a viragem, mas foi Backwards a arrancar o maior e muito sentido aplauso do concerto.
Desta vez, foi a performance de Lenhart Tapes com Tijana Stankovic a ser sacrificada para um merecido descanso e momento de tertúlia. Isso e oportunidade para experimentar algumas das iguarias na banca de comida montada no espaço exterior do festival e que foi importante no recarregar de baterias dos festivaleiros ao longo das duas noites na ADAO.
Chegamos então ao quase unânime momento mais aguardado do festival. Nidia e Valentina estão aqui a apresentar “Estradas”, disco acabado de lançar e que mereceu louvor da crítica por esse mundo fora. Sentia-se uma certa tensão na sala, fruto da elevada expectativa e entusiasmo com o concerto que estávamos prestes a assistir, mas não havia razões para nervosismo.
Ao vivo, “Estradas” ganha uma nova dimensão e faz ainda mais sentido. A bateria de Magaletti e os beats de Nidia estão em perfeita sintonia e é quase imperceptível distinguir entre o que é planeado ou improvisado no momento. A percussão é palavra de ordem, mas há aqui muito ritmo próprio da batida e da identidade sonora da produtora afiliada à Príncipe Discos que, quando a baterista faz as suas necessárias pausas, ganha total destaque e não deixa o público descansar por um segundo.
Apoteótica e eufórica, a performance sobe de nível com a absolutamente espectacular e esticada versão ao vivo de Mata. Ouvem-se quase 10 minutos da faixa que contém a singular lírica “quem me mata”, carregada de cariz irónico num momento em que a música de Nídia e Valentina está a dar vida aos já muito cansados corpos que estão do outro lado do palco. O concerto acaba com o aplauso da noite e, talvez, o maior do festival.
Cumprir com as expectativas teria sido um triunfo, superá-las é um feito incrível, mas, afinal de contas, estamos perante duas das artistas mais importantes da última década nos seus meios e se calhar não devíamos estar tão surpreendidos.
OKO DJ fechou a noite com um set que foi dos mais surpreendentes do festival. Do EBM aos Radiohead, a aleatoriedade da seleção da DJ francesa não deixou ninguém indiferente desde o primeiro momento, mas foi quando passou para o metal que provou algo inegável: veio com o trabalho de casa feito.
Uma passagem pelo brostep foi, felizmente, de curta duração e, antes do regresso ao metal, há ainda espaço para algum hardcore, com uma canção de Knocked Loose a atrair ainda mais público. Bom ou mau? Cada um que julgue por si, mas não se pode retirar a OKO o mérito de ter conquistado uma considerável fatia de público até às horas mais tardias da madrugada.
A SCR Paivense foi o local escolhido para o último dia de festividades. Estreia no festival, notamos de imediato que a turma habitual de associados do espaço já convive em plena cavaqueira com boa parte do festival, numa área exterior onde a grelha já bomba. Há seitanas de um lado, e todo o tipo de carnes do outro. A festa está para durar e, ao fim de cinco dias, é preciso um reforço generoso para se aguentar até ao fim.
Já no salão da Paivense, Carolf vai debitando a receita ideal para curar ressacas com ondas sónicas ideais para acalmar os corpos ainda em exaltação depois da última noite.
Depois de aparições no Ano Q e Ufonic, esta é a 3ª semana consecutiva em que nos cruzamos com a co-fundadora do coletivo Living Room, e é fácil de perceber porque merece a confiança de tanta gente. Escolhas minuciosas, do ambient ao dub, sempre apropriadas à hora e contexto em que se enquadram os seus sets. Não podíamos pedir música melhor para entrarmos no mood de mais um dia de festival.
Seguimos sem grandes demoras para o primeiro concerto do dia. Ghosted, mais um projecto de Oren Ambarchi, têm uma formação clássica de guitarra, baixo e bateria, mas não há nada de tradicional na sua música. A sala vai enchendo e nem o calor elevado que se faz sentir demove um público hipnotizado pelos ritmos repetitivos e atmosfera de alta densidade sonora. A eletrónica é peça-chave disto tudo, dando um sonoridade muito específica aos instrumentos do trio e que conquistou definitivamente novos fãs neste OUT.FEST.
Pausa agora na música para a celebração dos 20 anos de festival, com direito a parabéns e distribuição das famosas Bolas de Manteiga do Barreiro. Oportunidade para lamentarmos a chuva que estragou os planos de ter os concertos a acontecer não só no Salão interior, como no polidesportivo no exterior da Sociedade e que faz com que, entre concertos, a Paivense pareça demasiado pequena para tanta gente.
Parabéns cantados e barriga aconchegada, seguimos para o set de Ojoo. A DJ marroquina, baseada em Bruxelas, começa a sua actuação vítima de alguns problemas técnicos e, talvez também por isso, vai deixando melodias de fundo e sonoridade da dub mais lenta e contemplativa tomar conta dos primeiros 15 minutos. Assim que ouvimos o primeiro kick pujante, os bpms começam a subir, o público vai entrando na sala e de repente está tudo a dançar.
Numa viagem que teve a sua conclusão em ritmos de reggaeton e cumbia, Ojoo comprovou a mestria que lhe é reconhecida na cabine, embora talvez gostássemos de ter sentido uma ambição maior nas suas escolhas. Problema pessoal, provavelmente, pois os aplausos parecem sinalizar um apreço muito grande do público pela DJ.
E por falar em falta de ambição, essa é talvez a característica para nós mais marcante do set de Anderson do Paraíso, um dos que mais aguardávamos. De microfone na mão, o brasileiro, uma das figuras máximas e mais inovadoras do movimento baile funk que se expande para lá dos bailes e das características mais tradicionais associadas ao género, limitou-se durante grande parte da sua actuação a tocar e cantar as suas próprias músicas.
Se calhar esta é a receita certa para o sucesso, mas quando estamos tão habituados a ver DJs que se enquadram no mesmo contexto musical do funk e especificamente do proibidão a fazer autêntica magia com os CDJs, esperávamos mais do brasileiro. Confessamos, no entanto, que não parámos de dançar. Afinal de contas, Anderson do Paraíso é um produtor extraordinário e “Queridão”, lançado no início do ano pela Nyege Nyege, é um dos nossos discos do ano.
Até ao dia anterior, nunca tínhamos ouvido falar em sòn du maquís. Até que surgiu um daqueles fenómenos muito próprios do OUT.FEST, em que as três ou quatro essoas que pareciam conhecer o projecto do francês Stefan Dubs nos alertavam para o que seria uma performance imperdível. E assim foi.
Ao longo de 50 minutos de avalanche sónica sempre centrada no Dub e seus derivados, sòn du maquís tocou no meio de um público que levou à loucura e à apoteose. A cada incursão pelos breaks, acid e até algum techno, o nosso corpo respondia de forma afirmativa com forças que já não sabíamos ter e apenas possíveis de extrair pela energia incessante que emanava do setup do francês. Uma verdadeira homenagem ao espírito e cultura sound system, levada aqui a cabo por um só pessoa, claramente capaz de se agigantar ao momento, esta foi para nós a melhor performance do festival e um dos melhores lives assentes na música dub que temos memória.
Antes de chegarmos ao fim, nota para a animação e até guião da festa levada a cabo por Van Ayres, artista sediado no Barreiro e parte da organização do festival, que de megafone na mão foi contribuindo para o momento de festa que se viveu no Paivense e que culminou na introdução de Chuquimamani Condori.
Num setup idêntico ao que apresentou no B.leza, o concerto começa de imediato inúmeras camadas e texturas sonoras características da música de Chuquimamani e que, infelizmente, se tornam rapidamente ensurdecedoras e desconcertantes. Talvez seja o cansaço acumulado, mas não conseguimos mesmo criar ligação à música quando a atmosfera sonora e acústica da sala parecem estar numa luta de que ninguém sai vencedor.
Como queremos manter na memória o brilhante concerto de Chuquimamani Condori no passado junho em Lisboa, e porque o festival já nos proporcionou inúmeros grandes momentos, escolhemos abandonar mais cedo e rumar a casa com a performance de sòn du maquís como encerramento a chave de ouro de mais uma edição do OUT.FEST.
A fasquia estava elevadíssima depois da irrepreensível edição do último ano e, com o contexto adicional do 20º aniversário e dia extra de programação, não saímos desiludidos. No que a organização talvez pudesse controlar, lamentamos apenas a forma como os concertos se desenrolam em catadupa na ADAO, não dando por vezes o descanso necessário aos corpos e ouvidos para se preparem para a actuação seguinte.
Chegamos a casa, mais uma vez, de coração cheio, entusiasmados para explorar nos próximos dias a música de artistas que acabámos de descobrir e nos conquistaram de imediato, e por termos finalmente a oportunidade de ver nomes como Dreamcrusher ou H31R a comprovarem o seu enorme talento. E claro, com a certeza de que estaremos cá para o ano.
Fotografias por Vera Marmelo
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