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Os 20 EPs nacionais de que mais gostámos em 2020

11 Janeiro, 2021 - 15:50

Ainda a recordar 2020, chegou a vez de falarmos sobre os EPs nacionais que mais nos marcaram no ano passado.

Desde janeiro até dezembro de 2020, mais de 600 lançamentos passaram pelos ouvidos dos colaboradores da nossa redação e, por isso, é claro que esta é uma tarefa difícil. Em certa medida, é também uma tarefa ingrata dada a qualidade da produção nacional ao longo do ano passado, marcado por trabalhos excelentes de ambient, downtempo, electro, drum’n’bass, house, techno e muito mais.

Como explicámos na peça sobre os 20 lançamentos internacionais de que mais gostámos em 2020, o propósito destas seleções é “definir aqueles que mais apreciámos, aqueles que não conseguimos parar de ouvir” para “dar a conhecer (ou ajudar a recordar) trabalhos que achamos merecedores de lugares de destaque”, o que não significa que sejam os “melhores do ano”, mas antes os favoritos da nossa redação.

Encontra abaixo a nossa seleção de discos que desafiam cânones, de lançamentos compostos para serem ouvidos na pista e até de trabalhos para ouvir no conforto do lar:

Blacksea Não Maya – Máquina de Vénus [Príncipe]

“Máquina de Vénus” pode até manter as raízes de DJ Kolt, DJ Perigoso e DJ Noronha em “Calor No Frioo” (2015), mas este regresso à Príncipe faz-se de forma surpreendente. É que, à parte dessas raízes, há aqui um lado mais sombrio, bem viciante, que parece beber de géneros distintos, como techno ou bass music. É um disco com visão futurística para ouvir sempre que quisermos dançar com o corpo – e com a mente.

Bonfim – An extended​-​play record of assembled sounds for different kinds of moods

Da doçura de uma canção de embalar ao intrépido desfile de um Alfa Romeo pelo alcatrão, é ao som de house, soul ou hip-hop que os Bonfim nos deixam a maturar com este primeiro trabalho. Após 15 anos afastado da produção musical, Pedro Tenreiro aliou-se a Hugo Passos e, juntos, trazem-nos seis faixas para qualquer altura, desenhadas com a MPC de Passos através da coleção de discos de Tenreiro. Com colaborações a par de Kiko, Sérgio Alves e PZ, esta estreia de Bonfim é simplesmente brilhante.

CRAVO – EVO [HAYES]

Depois do intenso e exemplar “Proxy” em 2019, CRAVO voltou a estar em grande este ano, com trabalhos como o nota 10 “Sea of Green”, lançado de forma independente. Mas “EVO” foi, para nós, o mais marcante: ritmos rápidos e locomotivos marcam este EP com tendências bem rave, detalhadamente arquitetadas para servirem as delícias dos mais exigentes fãs de techno de todo o mundo.

Daino – Crescendo [Percebes]

Não queremos chamar mais nada senão obra-prima a este EP assinado por Daino, que, entre outros ofícios, sagra-se teclista profissional. Isto não será segredo nenhum para quem já ouviu Quiescence, o primeiro pêndulo emocional do disco, que nos leva da serenidade à inquietação, numa viagem guiada por um piano que levita até à euforia. Seguem-se dois originais e um remix de Andrew Emil, reunidos com mestria num EP abrangente que tem tanto de moderno como de clássico. Imperdível e imprescindível house nacional.

DJ Lycox – Kizas do Ly [Príncipe]

Ivan Martins, ou DJ Lycox, é mais do que uma certeza e “Kizas do Ly” é mais uma prova disso. Melancólico mas ainda assim festivo, este EP é um refúgio almofadado por melodias e batidas que tocam bem lá no fundo do nosso ser. Disponível também em vinil de 12’’, é o tipo de kizomba que o nosso coração pede e precisa – mesmo sem o saber.

EVAYA – Intenção

Mais do que um EP, “Intenção” consegue ser o espelho sónico de um exercício de introspecção e de intimidade. Fruto de vários e importantes marcos na carreira artística de EVAYA e dos seus recém-chegados colegas de palco, polivalente e Gadutra, com quem atuou recentemente na Zet Gallery através da Porta 253, é um EP onde os sons, altamente visuais, não só formam o habitat natural para a voz de EVAYA como possibilitam também que quem a escute tenha uma experiência transcendental.

João Vairinhos – Vénia [Regulator Records]

O ano passado foi caótico e a atmosfera de “Vénia” também o é. Este lançamento é composto por três temas industriais e ofegantes, nos quais predominam sintetizadores e baterias vindas de uma sociedade distópica para a qual parecemos caminhar. O porta-voz desse mundo é o baterista João Vairinhos e, insiramos “Vénia” nas prateleiras de dark ambient ou não, a certeza é que este disco tem uma singularidade que parece ter sido propositadamente composta para servir como banda-sonora do ano de 2020.

Luar Domatrix – Baía Stamina [Discos Extendes]

Num lançamento que em parte bebe das sonoridades que se escutam em Glasgow, onde Luar Domatrix viveu, há percussões cambaleadas, vocais de house music, influências vívidas da cultura rave. São cinco faixas para pista com um carácter bem atual, sendo que uma delas é um remix de General Ludd. E atenção que Rodolfo Brito não se ficou por aqui em 2020: pela Ramadam Business e pela Domestic Exile, respetivamente, lançou também dois imperdíveis álbuns, “Olho da Rua” e “Nova Vida Passada”.

Moreno Ácido – Noite e Dia [INFINITA]

Entre participações em compilações de editoras portuguesas ao longo do ano, Moreno Ácido captou-nos a atenção com este novo EP a solo. Lançado pela INFINITA, “Noite e Dia” é uma autêntica selva tropical onde sopram brisas do house lo-fi ou até de ritmos e linhas de baixo exóticas que se contrapõem a 2020. É um trabalho que não consegue passar despercebido, tanto que Louco Por Ti é, sem sombra de dúvidas, uma das nossas favoritas do ano passado.

Pedro – Pedro001 [Pedro’s House]

Já passou por labels como a Wolf Music, mas este disco assinala a estreia do novo selo de Pedro. Disponível também em vinil, o trabalho põe o músico portuense de olhos postos nos clubes ao longo de quatro faixas de house orgânico e festivo, no qual teclas sedutoras estão em harmonia com percussão incisiva, linhas de baixo vincadas, samples de voz em vai-e-vem, enfim, uma autêntica celebração que nos deixou completamente agarrados. Se não for pedir muito, que venha mais disto.

Satha Lovek – PT Malacca [Colectivo Farra]

Com mais ou menos atenção, ouvir “PT Malacca” é uma viagem pelos recantos do nosso cérebro. Marcado pelo “pós-colonialismo” descrito através de samples ou teclados dos experimentalistas Satha Lovek, o primeiro trabalho do duo de João Coutinho e Rúben Silva circunda assuntos do folclore, mas com uma intenção de regressar a uma “sinceridade multicultural por meio da sátira ao nacionalismo desmedido”. Coutinho e Silva fazem-no por meio de influências ambient, drone ou industrial, tudo isto envolvido num excitante e imperdível trabalho.

Silvestre – Supercool [Secretsundaze]

Imagina que estás num universo paralelo. Nesse universo passa Sem Crew, forte e feio, e só vês uma mescla de pessoas, numa pista suada e de luminosidade reduzida, a dançar efusivamente. Parece mentira, mas mal esperamos a hora em que esse paralelismo se anula para que o possamos experienciar. E se passarem todas as faixas deste EP, perfeito. Caro Silvestre, isto está do dito cujo.

Sheri Vari – Flagrante Delírio [Percebes]

O regresso de Sheri Vari à Percebes não se fez tímido. É neste “Flagrante Delírio” que a DJ e produtora conjuga um “funk introspetivo e arrojado” com as cores da “paleta da tradição clássica” para criar um belo disco. Com a voz de Javonntte e baixos sintetizados por Daino a ajudar em dois temas, uma aura analógica e intemporal pauta a raiz do EP. Nesta alucinação incandescente, Sheri Vari eleva-se para desafiar e transcender fronteiras da velha escola, dando-lhes uma roupagem própria, atual e apaixonante.

Stasya – Lamurya [HiedraH Club de Baile]

“Lamurya” é um EP de desconstrução lasciva, com samples de vozes espectrais e synths arrepiantes, com contrastes entre claridade e escuridão, com detalhes que se vão pulverizando para contar a história de alguém “com uma sede insaciável de se reinventar”. É um trabalho cinemático e emotivo que nos amarra a batidas de clube – do funk ao techno – e ao tão próprio mundo sónico de Stasya.

sussurro – dias normais, dia sufocante [1980LYFERS]

A estreia de sussurro faz-se com um daqueles trabalhos que até poderíamos descrever através de referências como broken techno, mas de que interessam as palavras quando temos um EP destes diante nós? O próprio diz que não há “uma posição” concreta neste trabalho. Mas há ambiências envolventes, ritmos frenéticos, quebrados e arrebatadores, uma peculiaridade que só alguém descontraído e sem rótulos pode apresentar. É, no fundo, uma excelente companhia que tanto serve para dias normais como para dias sufocantes.

Temudo – Unnecessary [Soma]

Campeão de vendas no Beatport e campeão de escuta na nossa redação, “Unnecessary” marcou o regresso de Temudo à Soma num lançamento que foi, mais uma vez, completamente dedicado às pistas. Dois temas afastam-se um pouco daquilo que é convencional no produtor torreense, mas layers atrás de layers continuam a marcar o techno característico de João Rodrigues – um techno que, além de irrepreensível, toma de assalto o nosso corpo e mente com as impressionantes e minuciosas texturas que o definem.

Tipo Stereo – Nzila [INFINITA]

O calor tropical dos ritmos e melodias de Tipo Stereo é uma das poucas constantes que se podem experienciar em “Nzila”, EP gravado em Luanda e lançado em agosto. O acompanhamento desta “moamba no espaço” é uma espécie de calulu musical impossível, que mistura afrobeat, jazz, funk, disco e eletrónica na perfeição. Vale a pena sublinhar que “Nzila” vem com selo da INFINITA, o que, nos últimos tempos, tem sido recorrente sinónimo de boas malhas.

UNITEDSTATESOF – refresh [surf]

Com uma aura de serenidade que transcende e se eleva diante do caos, “refresh” é um EP para meditar. Depois de lançar o igualmente importante álbum “Selections 1”, UNITEDSTATESOF regressou em novembro passado para pavimentar um caminho até ao íntimo, pelas calçadas do ambient, experimental ou drone. Do amor ao despertar, as quatro faixas deste EP vêm como uma lufada de ar fresco, depois de imergirmos num calabouço subatlântico dentro do eu.

VHS – Textura [HAYES]

O produtor e multi-instrumentista de Braga estreou-se na editora portuguesa HAYES com um lançamento que pelo título já diz tudo. “Textura” é resultado de caminhadas entre synths e experimentação no processamento de áudio que nos levam numa rota futurista a alta velocidade pelo cosmos da música techno. É um EP movido a groove, com um caos organizado e objetivo bastante próprio e requintado.

Vilamar – Vilamar 01 [Vilamar Records]

O coletivo e estúdio lisboeta abriu o seu catálogo com um lançamento que nos faz nadar por entre baixas frequências e inspirações que vão tanto ao dubstep e breakbeat como ao dub. Formado por Hiroma Keo e Lourenço Sampaio, este é um grupo que não teve medo de ultrapassar barreiras musicais para nos servir um dos mais revigorantes e fora da caixa EPs nacionais do ano.

Por Carina Fernandes, Daniel Duque, David Rodrigues, João Freitas e Rui Castro. Alguns dos textos aqui presentes são baseados ou replicados a partir dos nossos lançamentos mensais favoritos.

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