AUTOR

Daniel Duque

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Entrevista

Agressive Girls: “Estamos a passar por lutas parecidas e a expressá-las através do mesmo meio”

19 Janeiro, 2024 - 17:09

A luta de Dakoi. e Diana XL expressa naquele que é o primeiro registo da dupla Agressive Girls.

Fosse a vida fácil e justa, talvez não precisássemos de arte ou meios de expressão para encontrar força para compreender e ultrapassar batalhas e obstáculos diários. Esta sexta-feira, foi lançado o EP de estreia de Agressive Girls, um trabalho que nos dá alento, sim, mas que é também ele um refúgio para quem o compôs.

Agressive Girls é a nova dupla de Dakoi. e Diana XL. A primeira conhecemos pelo EP “MASTIGA”, por exemplo, ou por ser cabecilha das festas LIBIDA. A segunda, por trabalhos como “XL”, “BASS QUEEN” ou o mais recente “Mar Morto”.

Juntas, fazem deste um grito de revolta punk, uma “raiva queer lésbica” que tanto nos leva ao metal como a pitadas de música desconstruída de clube, trap ou até ambient no último tema. Mas uma das características mais importantes passa pelas vozes e letras que ajudam a exteriorizar e superar a luta diária destes nomes – “A minha vingança é ser feliz” ou “Não sou carne para canhão, sou a minha própria salvação” são algumas das palavras que se escutam.

Com apoio da Cosmic Burger na edição, “Agressive Girls” é agora explicado pelas próprias nesta entrevista – do início da amizade e do projeto aos concertos de apresentação, a passar pela importância desta dupla para as vidas de Tanya e Diana.

Obrigado por este momento! Antes de mais, tenho curiosidade em saber como é que vocês se conheceram e se começaram a dar uma com a outra.
Tanya: Nós conhecemo-nos em 2018, se não me engano, no ID No Limits ou na mina. Acho que a Diana me viu em eventos e seguiu-me online. Nessa altura, eu já trabalhava com eventos e DJing, percebi que ela estava a começar no DJing e a lançar músicas e tivemos interesse em fazer um b2b. Fomos a um Caldas Late Night fazer um na ESAD e foi assim que começou kinda.

Diana: Depois vimo-nos aqui e ali em eventos em Lisboa e seguimos o trabalho uma da outra até que a Tanya me convidou para mixar e masterizar o EP “Mastiga”. Depois, experimentámos produzir algo em conjunto e o resto é história… (risos).

E a ideia para este projeto, como e porque surgiu?
Sempre tivemos interesse em trabalhar juntas, não porque somos iguais, mas porque houve qualquer coisa que fez sentido para nós. A gente completa-se em muitas coisas e kinda nos fundimos bem a construir uma visão na música juntas. Acho que isto tem que ver com personalidade e vivências. Estamos as duas a passar por struggles parecidos e a expressá-los através do mesmo meio.

Achamos que não é preciso trabalhar com alguém igual a ti e com as mesmas referências, mas sim alguém que te multiplique, que expanda a tua visão e nós sentimos que juntas construímos esta visão de AG, por sermos diferentes e por termos referências muito diferentes.

Porquê Agressive Girls? Este nome descreve apenas a dupla ou também alguma parte da vossa vida e atitude?
Nós não sabíamos desde o início se íamos dar um nome a esta colaboração ou não, mas com o tempo a passar e a trabalhar juntas fez-nos sentido dar um nome. Este nome surgiu espontaneamente ao falarmos sobre isso e fez logo sentido porque descreveu o que estávamos aqui a fazer e quem somos.

Como é que foi todo o processo de composição e colaboração? Que instrumentos e/ou maquinaria são trabalhos neste EP, por exemplo?
Tanya: A primeira música foi uma experiência, nenhuma de nós sabia que era para continuar. Estávamos juntas e eu disse à Diana que me apetecia fazer música e que gostava de colaborar com ela, mas que eu estava a focar mais em usar a voz e a letra, bem como noutras colaborações com amigues que andava a fazer.

Estávamos em minha casa e a Diana fez um beat rápido que resultou na música Não levo a mal. Eu já tinha apontamentos de rascunhos que andava a escrever para música, gravei voz em formato improvisado, assim meio jam no quarto porque eu trabalhava sem estrutura, eram só sentimentos à flor da pele (risos).

Agora é um bocado diferente porque com o tempo e com o processo de trabalhar nas músicas aprendi a dar mais atenção à estrutura e à métrica. O resultado disso rachou-nos a cabeça a meio, foi como se tudo nos fizesse sentido naquele momento, percebemos o que estávamos aqui a fazer, a nossa vida toda fez sentido, tive uma sensação de preenchimento e alívio, abri o terceiro olho (risos).

Diana: Usámos só o PC para fazer tudo, foi tudo muito DIY, estava numa fase simplista onde estava usar o mínimo de plugins possíveis, o “Operator” do Ableton e os efeitos nativos para fazer a maioria das coisas de modo a tentar limitar-me e explorar dentro dum workflow (quase) sem limites. Quero bué arranjar uma maquineta para sound design no próximo projeto, quero explorar as atonalidades e imperfeições que são mais facilmente fazíveis em hardware do que em software – e é muito mais divertido.

O lado punk eletrónico é evidente, mas fala-se também sobre inspirações como metal, dubstep ou trap no comunicado. Como é que vocês próprias descrevem este EP de estreia em termos de sonoridade?
Tanya: Eu acho que tem influências disso tudo, mas não acho que alguma abafe as outras, ou seja, eu acho que é bastante smooth na verdade. Mas eu consigo ouvir alguns momentos influentes em trap, como os “ya ya” e alguns adlibs maneira métrica de encaixar a voz, dubstep em algumas partes do beat, tipo snare e bass na Ricochete, e em metalcore, com os slow breakdowns, tipo na Paga o que Deves. Eu tenho um passado com influências vindas de subgéneros do metal e a Diana de dubstep e eletrónica.

Diana: Este EP, em termos instrumentais, é uma amálgama de técnicas de produção que fui aprendendo ao longo dos anos, direcionada para a vibe específica que resultou. Desde que comecei a fazer música que faço dubstep e trap, depois fui alargando skills de outros subgéneros de eletrónica para conseguir fazer algo com a minha personalidade e taste.

A Tanya mostrou-me metalcore e ficou surpreendida por eu não conhecer porque o meu “Bass Queen” parece muito influenciado por isso. Para mim faz bué sentido, gostava de ter conhecido antes. Acho que as origens das minhas referências são parecidas às dos metalcoreiros. É um feeling parecido.

A isso juntam-se também as letras e as vozes. Quem é que as escreveu e em que é que basearam todo esse trabalho?
Nós kinda decidimos isto antes de começar o projeto. A Tanya estava com mais vontade de trabalhar como vocalista e letrista e para a Diana fez-lhe sentido começar nos beats. Fizemos a primeira música com isto em mente, dar mais importância às nossas vontades de como queríamos criar no momento e completamo-nos de certa forma.

Nós as duas fazemos tudo: produzimos, usamos a voz e escrevemos, mas fez-nos sentido começar a trabalhar desta forma porque era onde individualmente nos queríamos focar. Isto mais quando começámos, se calhar para a próxima vai ser diferente, quem sabe. Ou seja, a Diana começava a produzir e a Tanya começava a escrever para esse beat e começava a definir o tema das letras, depois gravava e a Diana seguia com os seus versos para acrescentar.

Estávamos juntas sempre e seguíamo-nos a fazer tudo, tanto nos beats como nas letras. Apesar de algumas letras serem algo pessoal que aconteceu à Tanya, é muito sobre um tema geral que bate às duas, faz sentido para duas e estamos no mesmo barco sobre o que falamos nas letras.

Qual a importância das letras enquanto meio de expressão para o vosso projeto e para vocês próprias enquanto pessoas individuais?
Tanya: As letras são super importantes, este projeto começou porque eu tinha coisas a dizer e me relembrar. Eu no início do ano passado estava a tentar fazer bué projetos de banda, a usar a voz, tocar com amigues, tentar gravar mas a ser super flopado, e uma jornada gigante de juntar pessoas, instrumentistas, alguém para seguir com um projeto em frente e tocar porque isso é sempre bué dificil (risos).

Havia coisas que eu queria dizer a mim própria e aos outros, tinha vontade de me expressar musicalmente e não estava a conseguir imortalizar num projeto sólido. Com a Diana encontrei essa paz de imortalizar alguns sentimentos, petrificá-los numa canção e isso não ficar lost num projeto rascunho do Ableton no PC, ou na garagem de um amigue ou whatever. É de facto conseguir expressar-me e fazer história.

Para mim é uma realização pessoal muito grande, ainda para mais de uma maneira que te deixa proud do resultado. Estou muito proud de como ficou o resultado do nosso projeto, faz-me todo sentido artisticamente. Há muito tempo que procurava sentir-me tão identificada com o que faço musicalmente e a Diana ajudou-me a encontrar e a concretizar essa expressão na música.

Diana: Para mim foi importante ter a ajuda da Tanya a fazer música e a escrever letras porque estava num processo de redescoberta artística. Não sabia bem por que caminho ir na música e fez imenso sentido abordar os temas que ela estava a abordar, fez-me ver direções em que quero caminhar.

Têm concertos de apresentação alinhados para os próximos tempos. O que podemos esperar desses? Como é que as Agressive Girls se apresentam em palco?
Ya, temos o concerto de apresentação já este dia 20, no Arroz Estúdios, e para a semana no Porto, dia 27 de janeiro, no Maus Hábitos. Somos as duas em palco e prometemos barulho e caos. Queremos que as pessoas se passem nos nossos gigs.

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