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20 EPs nacionais de que gostámos em 2023

11 Janeiro, 2024 - 12:01

Rodaram muitos EPs nacionais por aqui, mas estes foram particularmente especiais.

Prestes a chegar ao fim do nosso apanhado, trazemos os nossos EPs nacionais favoritos de 2023. Mais uma vez, também esta seleção abrange várias coordenadas de música eletrónica.

Trabalhos de curta-duração nem sempre são contemplados pelas publicações nacionais e internacionais. No entanto, sendo a música de dança uma das nossas grandes atenções, faz todo sentido para nós. Afinal, muita da produção que se faz por cá chega nesse formato, pelo que acaba por ser obrigatório para destacar vertentes como house, techno ou breaks.

Enquanto não chegam os nossos álbuns nacionais favoritos, conhece os nossos destaques de EPs e recorda os outros dois artigos referentes ao ano passado.

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Ana Lua Caiano – Se Dançar É Só Depois

Ana Lua Caiano continua na senda de valorização da tradição, mas com o toque próprio e eletrónico que merece e deve ser ouvido por todas e todos. Ora se ouvem sintetizadores, ora adufes, ora palmas, sempre com a magia concisa que se ouvia no EP de estreia e que há de trazer o seu primeiro álbum nos próximos tempos. A melhor parte é que tudo isto é embelezado por letras atuais e inspiradoras. Viva a música portuguesa e viva Ana Lua Caiano. DD

André Miranda – Opaque [All Things Decay]

Já o ouvimos em lançamentos da dupla Blanc Motif e até a assinar como MRND. Desde “Not Many Left” (2022), no entanto, temo-lo ouvido em nome próprio quando se tratam de lançamentos a solo. Neste caso, o português baseado nos Países Baixos traz “Opaque”, um EP de quatro faixas que nos leva para espaços densos de techno ou noise, isto tudo sem deixar de nos ir dando espaço para respirar com alguns contrastes subtis que vai aplicando. Belo explorador eletrónico, este. DD

Ângelo Selvagem – Parab​é​ns Sara! [Extended Records]

Este é daqueles lançamentos em que não parece haver meio termo. Ou se adora ou se detesta. Estranho? Sim. Bom? Muito! Desde o conceito do tema (uma prenda de aniversário em formato canção, no qual o gato de Sara a parabeniza e se declara a esta aquando da sua ida a Milão para ir ter como namorado), à performance vocal de Marta absolutamente dopante, e as “batidas quebradas e inspiração retro a lembrar várias referências pop dos anos 80”, tudo junto torna a sua audição obrigatória. Apesar da crença, que partilhamos com a Discos Extendes, de que a versão radio edit é altamente improvável de vir a passar na rádio, pode ser que daqui a uns tempos alguém a debite numa plataforma de alta visibilidade, como quando os Dekmantel Soundsystem passaram a Excesso, Aqui, dos Ban, num Boiler Room em Amesterdão. Isso sim seria épico e, acima de tudo, meritório. RC

Diogo – Quem é o Criminoso? [Extended Records]

Cara Extended Records e Discos Extendes, este ano está a ser upa-upa! Este é já o quarto lançamento de 2023 para a editora nacional, que conta com o regresso de Diogo, que assinou o trabalho mais prolífico desta, com “Finalmente!” em 2022. Agora, o DJ e produtor natural de Fafe exibe todo o seu esplendor breakbeat com quatro faixas dedicadas diretamente à pista, sendo que I Don’t Give A F*ck é claramente a que mais se destaca no EP, não só pelo nome sonante como fundamentalmente pela onda e progressão rítmica da mesma. Aproveitem e ponham os olhos (que é, como quem diz, oiçam) no “junglyze remix” de Tsuri a Move On. Esquizofrenia mais do que bem-vinda. RC

DJ Spielberg – Torque [No, She Doesn’t]

“Torque” marcou o regresso da No She Doesn’t aos lançamentos, mais de dois anos após o último “Carregada/Calibrada”, também de DJ Spielberg, que figurou na nossa lista dos 20 EPs nacionais de que gostámos em 2021. Este é um trabalho homogéneo e coeso, com as sonoridades dreamy do lo-fi e influências do UK a que DJ Spielberg já nos habituou. Assume-se ainda a inspiração em Four Tet e artistas como Burial, Overmono ou Koreless, que incutiram um toque extra de bass ao EP. Que regresso. RC

Fresko – Inner Funk [HAYES]

Não é novidade que Fresko é um daqueles nomes portugueses de techno para manter debaixo de olho. Sabemo-lo há muito tempo – pelo menos desde 2020, quando lançou o nosso então favorito “Is It”, também editado pela HAYES – e é cada vez mais certo que este nome é uma garantia no nosso cenário. “Inner Funk”, que assinala o primeiro vinil de Francisco Barahona, tem beats repletos de elementos ideais para qualquer fã do género, leads alucinantes, uso certeiro de vozes e até um tema final mais quebrado. Entretanto, o lisboeta já pôs outras armas de destruição maciça cá fora que também podiam ter aparecido aqui. DD

Jorge Caiado – Freak Not Freak EP [Carpet & Snares]

Jorge Caiado é um dos maiores embaixadores da música house em Portugal e “Freak Not Freak” é uma obra imperdível para quem se interessa pelo estilo como um todo. Para nós, este é um exclusivo em vinil que levanta o véu para o que se passa e ouve nos clubes onde o house continua a marcar passo e desbravar o caminho. NV

Klin Klop – Something New [Discotexas]

“Something New” de Klin Klop. Se em “Lua Nova” estava mais inclinada para o que normalmente se chama house e techno melódico, a violinista (e tanto mais) Inês Meira anda por novos caminhos no regresso aos EPs e à Discotexas. Aqui, até nem larga esse lado em B4 U, mas inclina-se para uma vertente mais minimal num caso e para outra mais acid na colaboração com Gazpa. Belo trabalho. DD

Lake Haze – Coordinates Of A Decaying World [Paraíso]

Lake Haze acerta na muche de olhos fechados. Desta vez, via Paraíso, com um 12’’ que, sem deixar de ser seu, tem novas pitadas para descobrir no electro sonhador e envolvente de Gonçalo Salgado. Traços siderais, góticos e italo antes do remate final em Acid Genesis, que atua como uma daquelas viagens pensativas de que tanto gostamos na música de Lake Haze – que, diga-se, lançou outros trabalhos de destaque este ano. DD

Luís Contrário – músicas de dança para pessoas tristes [Saliva Diva]

Baixo, pedal de loops, drum machine, sintetizador e o coração de Luís Contrário lá espelhado. “músicas de dança para pessoas tristes” é o primeiro registo deste nome e traz precisamente isso: ritmos para dançar envolvidos em tons mais melancólicos. Com muito destaque dado às cordas, mas sem deixar afogar elementos que põem o pé a bater, este é um disco refrescante que fica muito bem a correr no escritório, no carro ou simplesmente na sala de estar. DD

Moreno Ácido – Trash/Treasure [Call To Action]

A assinalar a estreia do seu próprio selo Call To Action, Moreno Ácido pôs cá fora o enérgico “Trash/Treasure”, um EP de quatro faixas que está também disponível em versão física (vinil 12’’). House do bom e do melhor que toca em influências como acid e breaks ou agarra em vozes e teclas certeiras para pôr tudo a dançar de sorriso na cara. DD

Ninguem – Passarinho [Percebes]

Já passou por editoras como a Open Bar Music, mas é na Percebes que Joaquim Gonçalves tem encontrado a principal casa para nos mostrar grande parte da sua música como Ninguem. Depois de participar nas compilações “Produto Interno Bruto”, inclusive com uma faixa ao lado de Bambino e DJ Kronic, Gonçalves assinou, em 2023, o primeiro EP a solo pela editora lisboeta. E que EP. Percussão especialmente chamativa por entre diferentes e convidativas abordagens, não tivesse ele um passado como baterista, sem esquecer piano, synths ou linhas de baixo ideais para este mundo que vai ao afro, ao house ou ao funk. Ouçamos Lusitana, por exemplo, e deixemo-nos levar pelo sintetizador e cordas que nos guiam e agarram dos primeiros aos últimos segundos. DD

Nørbak – Res Extensa [HAYES]

Impossível ficar indiferente à música do amarantino Nørbak. Neste caso, uma fileira de quatro bombas que abre com um exercício rítmico de TR-909 (Nove Zero Nove), que, só por si, já pede para adicionar este vinil à prateleira – com o bónus de ter uma das capas mais bonitas do catálogo da HAYES. Techno feito para pistas sem deixar de ter o lado mental e introspetivo. DD

Odete – Garganta [katharsis]

Fruto de gravações de performances ao vivo (incluindo uma versão de Cadela, do álbum “The Consequences of a Blood Language”), “Garganta” foi o único registo discográfico de Odete em 2023. Aqui, graves concentram-se num mundo que hipnotiza pela voz e que contrasta nas cordas de harpa que se vão ouvindo. Acolhe na fervura e densidade. Soturno mas de certa forma esperançoso. Mais um trabalho especial de uma verdadeira artista multidisciplinar que, note-se, lançou recentemente uma faixa gratuita dedicada à libertação da Palestina. DD

Petraculto – A Tale Of Fractured Time

Para fãs de Burial, Kessler, Koreless e outros produtores que seduzem por meio de breaks e vozes ternas ou viciantes, este é um EP de breaks minucioso e inteligente assinado por Petraculto, no techno conhecido como Cassulle. Nota ainda para outra faixa (e abordagem) deste pseudónimo lançada este ano, Mufete, na compilação “Further Futures – An Aid Compilation”. DD

Shcuro – It Lasts Forever [Paraíso]

O lisboeta Shcuro estreia-se a solo na sua Paraíso e não podíamos deixar de assinalar este marco. Ou melhor, até podíamos, caso não achássemos que o lançamento fosse meritório de constar nesta lista. Mas “It Lasts Forever” é um dos melhores lançamentos nacionais do ano, com techno primordial como base da sua construção e o amor que João Ervedosa tem pelas sonoridades mais cruas de outrora. Um EP sem papas na língua e direto ao assunto, como se quer. U.N.I e a versão original de Together (as nossas prediletas) transpiram rave e só podemos esperar por continuar a suar ao som delas. RC

Temudo – Esquece EP [CARPET/STEAM]

Já toda a gente conhece o nome e esperamos que toda a gente conheça este EP. Num ano em que lançou também um brilhante EP pela Blueprint, que poderia perfeitamente integrar esta lista, Temudo entrou a pés juntos com “Esquece”, trabalho exclusivo em vinil carregado com quatro temas recheados de soul e groove em tons torrados – e até com espaço para uma faixa que dá ideias de garage com graves mesmo fodidos. São malhas compostas entre 2016 e 2021 que mostram a abrangência de um dos grandes produtores de techno do país. JF

Tomé – All I Am Is We [Angel]

O jovem talento Tomé assinou o segundo lançamento da lisboeta Angel, editora-irmã da naive e da naivety, de Violet. A (des)construção rítmica de “All I Am Is We” cativou-nos por completo, não só pela notável fusão de géneros, como também pela progressão das faixas e mudanças bruscas dentro das mesmas – veja-se a brilhante Skull Emoji, por exemplo, que, aos 2:20min, sofre uma viragem mais pausada, nada expectável. E é isso que define “All I Am Is We”, um trabalho desprovido de barreiras e imprevisível, simplista nos ideais, mas complexo na conceção. Sobretudo, é diferente e ousado, e isso é louvável. A fasquia está alta. RC

VHS – Sonic Studies [HAYES]

Dúvidas houvesse de que VHS é um dos produtores mais especiais da nossa cena techno, o próprio explica nas conclusões dos quatro estudos que publicou pela HAYES em novembro. O trabalho empírico está evidente em “Sonic Studies”, mas o investigador bracarense nunca deixa de lado tudo que já leu nesta academia. Talvez mais denso do que outros lançamentos, o novo EP dá-nos de tudo um pouco – ora há um lado mais duro ou mais mental, ora há groove, toques dub ou reminiscências de breaks. Imperdível, claro. Ouvindo só uma, aquela a que a portuguesa Isa Leen dá voz, Sonic Study 2. DD

Violet – HEART/BREAK HARD/CORE [naive]

Este EP é esquisito. E esquisito enquanto adjetivo de conotação positiva, não fosse “HEART/BREAK HARD/CORE” um dos mais interessantes e intrigantes trabalhos a sair da fornada tuga. Esquisito, que chega a roçar o esquizofrénico por vezes, talvez fruto do psicodelismo, das variações rítmicas ou das transformações e deambulações alucinantes de géneros dentro das mesmas faixas – veja-se Core, por exemplo, onde na mesma faixa encontramos batida de funk, kuduro, pitadas de samba e techno; ou Hard, cuja intro, com uma espécie de militarystep de outrora, se funde com funky techno e jungle desenfreado. Vindo de Violet, esta criatividade não nos surpreende, mas ficamos sempre agradados com o arrojo. RC

Mais 10 EPs nacionais imperdíveis:
Crawler – Kaiju EP
Kara Konchar – Devourer
Nonsensical – Momentum
Phoebe – Sempre A Correr
Prestes – É Difícil
rkeat – architecture part ii
Sónia Trópicos – Singela
Sussurro – O Esquerdino Que Desfaz o Elo
Tommy Lee Bones – Genesis EP
Vanyfox – Sonho Azul

Parte dos textos é recuperada dos apanhados mensais e são assinados por Daniel Duque, João Freitas, Nuno Vieira e Rui Castro. A imagem é assinada por Catarina Ribeiro

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