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20 EPs nacionais de que gostámos em 2022

20 Janeiro, 2023 - 16:43

Segunda parte do nosso apanhado de 2022, desta vez com alguns dos EPs nacionais que não conseguimos parar de ouvir ao longo do ano.

Rave Tuga. Este título remete-nos para o projeto e sub-label da Paraíso, mas, neste caso, também para tudo aquilo que diferentes atores fazem para pôr o país a dançar de norte a sul. Parte disso ouve-se aqui, na lista de EPs de que gostámos especialmente em 2022.

Depois dos lançamentos internacionais, trazemos agora 20 sugestões de trabalhos que tanto vão à pop como à batida, ao dubstep (e outros géneros da bass music), house, techno e até footwork. A abrir a próxima semana vamos ter os álbuns nacionais, mas, até lá, temos muito tempo para conhecer (ou recordar) EPs feitos por produtores essenciais para o desenvolvimento da nossa cultura clubbing.

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3WA x Causa EP [Cutcross Recordings]

Mesmo a terminar o ano, encontramos este trabalho colaborativo entre o portuense 3WA e o berlinense Causa, que explora as sonoridades mais clássicas e menos estridentes do dubstep. Este EP, pela londrina Cutcross, conta com um original e um remix para cada um dos intervenientes e é mais um marco relevante na carreira de Pedro e que certamente trará novos ouvidos aos ritmos pausados e graves que representa. A DJ Mag alertou-nos para o poderio de Glowing Mushrooms, mas foi o remix de Causa para Flick Knife que mais bassface nos despertou. RC

Acid Cell – Pressure Suit [Assemble Music]

Para cortarmos o paladar do modernismo e do avant-garde deixamos agora aqui algo especial. “Pressure Suit” é o último EP de Acid Cell, composto por cinco temas com um gosto mesmo old school de Deetroit. O selo é da lisboeta Assemble Music, por onde já passaram grandes nomes, e neste lançamento há não só espaço para o techno, mas também para o breakbeat com uma boa pitada de electro. Como já é habitual nesta editora, o disco está disponível em exclusivo em vinil. JF

AL:X – Contemplativo [Percebes]

Apesar de estar presente na história da bass music nacional desde os seus primórdios e de ter pertencido a projetos tão relevantes para a cena como os Cooltrain Crew ou o programa Fala Baixo na Vodafone FM, este é apenas o segundo lançamento a solo de AL:X. E aqui, o produtor agora residente em Singapura explora sonoridades mais ousadas, com Falling Down a transmitir um sentimento que faz jus ao nome, numa espécie de jungle que quase parece invertido, e ainda com um lado mais tribal de Senegal Digital, que se enquadra na perfeição com o restante catálogo da Percebes.RC

Ana Lua Caiano – Cheguei Tarde A Ontem [Chinfrim Discos]

É verdade que as nossas listas de EPs nacionais costumam ser mais viradas para clubbing, mas não há como não destacar esta estreia de Ana Lua Caiano. “Cheguei Tarde A Ontem” é escolha obrigatória pois recorre a muita eletrónica (sintetizadores ou caixas de ritmo) para fazer um disco pop que honra a música portuguesa (dos coros às guitarras, a passar pelas letras bem dignas dos melhores cantautores nacionais) com um toque bem atual. DD

Blast & Friends – Misfits EP [Future Sickness Records]

Aquando da sua entrevista em junho passado, Blast referiu-nos que “Misfits é a luta por um som perdido que ainda não conquistou o terreno que merece”. Não sabemos quando é que o vai conquistar, mas o que é certo é que Tiago Braga vai lutar sempre pelo technoid que tanto ama desde os primórdios da sua carreira. Aqui, o portuense rodeia-se de oito amigos, com uma paixão em comum pelo ritmo frenético desde tipo de drum’n’bass, e dá ao género seis novas armas prontas a ser disparadas em pista. Acceleration é a nossa predileta, e se fecharmos os olhos quase que nos sentimos a bordo do Gandufe (if you know, you know). RC

Danifox – Dia Não Mata Dia [Príncipe]

Da trupe normalmente associada à Príncipe, DJ Danifox é um dos nomes que parece ter vindo a crescer mais nos últimos tempos. Ouça-se o single Moça, por exemplo, feito ao lado de DJ ADAMM, ou até Dark Hope, tema que integra a compilação “Verão Dark Hope”, para perceber o quão própria e reconfortante é a música deste nome. O novo “Dia Não Mata Dia” é mais uma confirmação: os baixos vincados, as percussões contaminantes, as melodias apaixonantes ou o uso da voz são algumas das ferramentas que Danifox manuseia com toda a precisão e perfeição. Dancemos e vibremos, irmãs. DD

Diogo – FINALMENTE! [Discos Extendes]

Nunca escondeu a sua curiosidade. Seja a trabalhar na revista PISTA, a fotografar festas da Ácida, a tocar no bar A Capela, a gerir a Discos Extendes ou simplesmente a dançar, Diogo tem vindo a recolher o estado da arte que lhe permite fazer estudos empíricos como este. É música bass que vai ao breakbeat, ao garage ou ao jungle e que recorre a elementos típicos do género (ouça-se o trabalho das vozes em Até Segunda, por exemplo) sem deixar de ser própria. DD

DJ Narciso & Endgame – NXE [SVBKVLT]

Sim, é verdade: DJ Narciso e Endgame assinaram um EP colaborativo em 2022. O membro da RS Produções juntou-se ao londrino para compor quatro faixas que andam por entre ritmos africanos e ambiências sombrias, batida e bass music, luz e escuridão. A faixa que abre é especialmente prazerosa, mas todo o trabalho é um belo convite para a colisão destes dois mundos. DD

Hélder Russo – Cascalho [Percebes]

Vai uma Pastilha hip house daquelas de fazer dançar até mais não? Hélder Russo tem uma para nós logo a abrir “Cascalho”, trabalho que marca o regresso aos lançamentos a solo e à sua Percebes. Por aqui há um mar de influências vindas do que há de mais clássico nos pilares norte-americanos, mas sem deixar de ser atual e fresco. Música boa feita para pôr gente de todos os cantos a abanar o corpo em qualquer clube, com a dupla Gatupreto, que Russo partilha com Ka§par, a fechar com chave de ouro. DD

LowfatiK – Visions [Yanked Beats]

Até nem se ouve muito juke e footwork nos clubes portugueses, mas não deixa de haver quem se deixe levar pelos ritmos rápidos e baixos característicos desses estilos. João Fragata, aliás LowfatiK, é uma dessas pessoas. Editado pela portuguesa Yanked Beats, “Visions” dá-nos quatro faixas bem vibrantes e surpreendentemente emotivas. Jumpin’, por exemplo, com aquela voz sedutora, era capaz de nos fazer chorar se a ouvíssemos numa noite mais sensível. E por falar em sensibilidade, isso é o que não falta à produção de LowfatiK, que se mostra preciso nos subs, nos stabs ou em todos os outros detalhes. DD

Mardel – Perceptions [Vilamar]

A Vilamar não lança muitos discos, mas quando lança são certeiros. Neste caso, temos o primeiro trabalho de Frederico Vinhas como Mardel. Quatro faixas exclusivas em vinil que dão vontade de ir imediatamente para a pista. É techno profundo que nos leva por caminhos mais deep mas nem por isso menos efusivos. Kicks quentes, modulações alienígenas, pratos espaçosos, tudo envolvido em hipnotismo do mais viciante que ouvimos por cá este ano. DD

Molecular – Surrounded EP [Sofa Sound]

Este EP com rótulo da Sofa Sound Bristol é uma verdadeira pancada. “Surrounded EP” é composto por cinco faixas e transpira uma estética moderna da antiga Virus Recordings. A técnica e a vibe do produtor é inquestionável, é sempre de excelência e, mesmo assim, aqui elevou o patamar. Não faltam stabs, synths enferrujados, snares pesadas e, claro, basslines perigosas. Este não é o primeiro lançamento de Rafael Pinto na editora de DLR e esperemos não ser o último. É que se for para ser assim, que venham mais, por favor. JF

Nørbak – Código de Conduta [PoleGroup]

Acabou de abrir 2023 com um EP pela MORD e não mostra qualquer sinal de abrandamento. Nørbak ainda pode ser considerado um jovem, mas a maturidade dos seus DJ sets ou produções revelam todo o talento que tem dentro de si, tanto que foi recentemente anunciada uma série de noites do amarantino no Lux Frágil. Este “Código de Conduta” é só mais uma das amostras (e que amostra!) de todo esse engenho: techno denso, minucioso e sempre libertador. DD

Petraculto – Expressions of oneSelf

“Expressions of oneSelf” é o EP de estreia do novo projeto de David Falcão, também conhecido por Cassulle, e mostra bem o caráter deste DJ e produtor. Quatro faixas tão palpáveis quanto abstratas, com distintas explorações rítmicas (e muitas outras) que, no final, pedem logo para repetir a escuta para tentar absorver os mais ínfimos detalhes destas produções. Downtempo, bass music e techno são algumas das influências presentes, mas qualquer rótulo é escusado quando a música é tão distinta quanto esta. DD

Puçanga – Impish

O sucessor de “Fazer da Trip Coração” chegou com apoio de uma bolsa de criação da OUT.RA e apresenta cinco faixas que evidenciam quem é esta artista do Miratejo. A voz, como sempre, é o instrumento-chave que acompanha a eletrónica abrangente de Puçanga. Por entre o trabalho encontra-se o lado mais rap da artista, influências distintas de canto ou até uma versão de Polo Margariteño, música tradicional da Venezuela que, neste caso, mostra bem o cerne espiritual de Puçanga, à imagem do que já se ouvia no trabalho anterior. DD

Rkeat – Kredu Kruz [KEY Vinyl]

Rkeat é um daqueles nomes que não se cinge (de todo) a um só movimento. Já o vimos a assinar beats para Sippinpurpp e vemo-lo agora a assinar um disco pela label de Freddy K. “Kredu Kruz” são quatro faixas com o modo groove em full on. Há toques de sci-fi, tribal, hipnose e muito swing – e ainda há tempo para uma colaboração com Salbany neste potente exclusivo de vinil. JF

Vanyfox – Banzelo

A festa está mais do que garantida com este incrível EP. “Banzelo” abre com ritmos acompanhados por uma linha de baixo em forte evidência, daquelas que tomam conta do nosso corpo instantaneamente. Fluidez. Vanyfox vai pincelando a tela com sopros, mais linhas de baixo vibrantes, samples de voz festivos ou alguns dos melhores ritmos africanos que ouvimos este ano. Há momentos emotivos e há outros para rasgar um sorriso e esquecer a vida lá fora. Há batida com marca de Vanyfox. DD

Vários Artistas – HYS005 [HAYES]

Vil, Temudo, Nørbak e Qwelza. Com nomes destes já sabemos que não vai ser uma brincadeira. Todas as faixas têm um olhar quase aquático: umas são mais físicas, outras mais mentais, mas todas elas são perfeitas para o dancefloor ou para que te feches sozinho neste mundo. Quatro faixas, duas dessas de colaborações imperdíveis e das quais já tínhamos saudades. JF

Vil – Above Below [Paraíso]

Nome infalível do techno tuga, Vil voltou a ter um ano em grande. Lançou trabalhos como “The Reese”, ao lado de Cravo, com a faixa homónima a correr pistas de todo o mundo. Em pleno verão, este “Above Below” saltou-nos à vista desde o primeiro instante: com uma edição em vinil com selo Paraíso, o disco mostra o respeito de Nuno Costa pelas fundações clássicas do techno (até pisca o olho a Birmingham num tema), mas sem nunca largar o cunho próprio com que direciona as faixas às pistas mais exigentes de hoje. A rematar tudo, um remix de EDND bem sideral e igualmente viciante. DD

Y.L.S. – Looking In [AMEN]

Uma bomba. Poderíamos ficar por aqui, mas não. Queremos que ouças e que ouças bem. O som é explosivo e está tudo no ponto. A composição e sample selection demonstram maturidade e carácter. A vibe está aquilo que chamam de old school, mas que é nada mais nada menos do que drum’n’bass em estado puro. Qualquer um destes quatro temas, nos anos 90, poderiam ter o selo de uma Metalheadz, Prototype Recordings ou até de uma Valve, de Dillinja. E a melhor parte é essa: é um lançamento nacional da AMEN Lisboa assinado por um dos porta-estandartes de ritmos quebrados em Portugal. JF

Textos por Daniel Duque, João Freitas e Rui Castro

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