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20 lançamentos internacionais de que gostámos em 2022

19 Janeiro, 2023 - 13:41

2022 já vai bem lá atrás, mas não podíamos deixar de recordar alguns dos discos que nos marcaram. Primeiro, os lançamentos internacionais.

Onde é que já se viu um meio noticioso começar a publicar apanhados do ano transato para lá de meados de janeiro? Só n’A Cabine, pois claro. 2022 foi muito difícil para nós. Não sabemos se foi o voltar à vida dita normal ou a exigência dos nossos trabalhos, sabemos só que falhamos em vários aspetos. Mas queremos voltar a ter a força que já tivemos.

Claro que nada disso nos impediu de ouvir música. Antes de passarmos para os EPs e álbuns nacionais, a serem publicados nos próximos dias, temos 20 lançamentos internacionais que marcaram o nosso ano de 2022. Curiosamente não há trabalhos focados em techno ou house, mas há muita música com que possivelmente nos vamos continuar a deliciar durante os próximos tempos. Se puderem conhecer coisas novas por aqui, ainda melhor.

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Beyoncé – RENAISSANCE [Columbia Records]

Diria que não tenho autoridade para falar sobre um disco que aborda a importância sem igual da música negra (de dança, neste caso) ou a relevância da luta LGBTQIA+. Mas posso dizer que foi um dos discos pop do ano, assinado por nada mais nada menos do que uma das suas rainhas. De Honey Dijon a Kelman Duran, a passar por nomes como Grace Jones ou Green Velvet, Beyoncé conta com uma equipa de luxo em “Renaissance” e mostra com clareza o seu tamanho e o da sua música. É música de dança para todos os ouvidos e é imperdível. DD

Björk – Fossora [One Little Independent Records]

Cerca de cinco anos após “Utopia” (2017), Björk deixou que a morte da mãe, o mundo mágico dos cogumelos, o elemento da terra, as raves de gabber (e outras) ou até o seu âmago tomassem conta de si para compor este “Fossora”. Pelo meio há participações de nomes como serpentwithfeet, numa prova de que o universo é muito mais do que o nosso ego e que a partilha nos torna ainda mais fortes. Música enfeitiçante e esquisita (no bom sentido da palavra, atenção) para nosso deleite e para ouvir com atenção. DD

Blocks & Escher – Shot In The Dark

A imagem sonora do duo é quase incomparável. A estética, ambientes, os drums, os synths… Seja a solo ou em grupo, os dois sabem sempre desenhar paisagens de forma muito própria. Aqui, este soberbo lançamento é a prova viva e clara disso – mais uma das provas, aliás. O “Shot In The Dark” abraça uma tendência contemporânea que abraça tanto o techstep como o drumfunk, principalmente em Dance Girl, onde exageraram (e bem) na programação de ritmos. Continuem, queremos mais. JF

Coby Sey – Conduit [AD 93]

Coby Sey já anda aí há algum tempo. Em 2017 lançou o EP de estreia pela Whities (agora chamada AD 93, pela qual editou este primeiro álbum) e por essa altura andava também a colaborar com nomes como Tirzah. É um daqueles britânicos sem medo de experimentar e que agarra em tudo que vai aprendendo para, em qual retiro espiritual, cozinhar um disco destes. Com um lado de spoken word bem vincado ao longo de “Conduit”, à imagem do que se ouve em obras do compatriota Blackhaine, o homem do sul de Londres não tem medo de compor (e cantar em) temas que poderiam passar num clube de techno (Night Ride) ou outros nos quais se escutam vestígios de jazz (Response) e até de dub (Permeated Streets). Obra-prima a não perder do experimentalista pós-grime e pós-punk. DD

Data General – A Few Iterations [AGN7 Audio]

Encontrar este EP foi mágico. Soa a cliché, mas não é. É sempre bom ouvir um nome conhecido e ficarmos empolgados, mas ouvir um nome desconhecido e ter a vontade de bater com a cabeça na parede é outro feeling – é isso que procuramos, sempre. Data General elevou o patamar na programação de drums e, também, na forma de ajuste e composição de tempos. Não sabemos ao certo se é baterista, se produtor, ou se é DJ, mas parece ser tudo isso e muito mais. Amantes de ritmos complexos e baterias, esta é para vocês – mas cuidado com a cabeça, não se magoem. JF

ELLES – A Celebration Of The Euphoria Of Life [naive]

Belo álbum de estreia este de ELLES. “A Celebration Of The Euphoria Of Life” é um disco coeso e pensado ao pormenor, com diferentes elementos a juntarem-se numa só receita altamente sedutora. É, aliás, um disco que vai além da música e que tem um lado poético bem evidente – por aqui, há uma história sobre a vida noturna que se escuta nas palavras, sim, mas também no pop desenhado através de sonoridades como acid, electro e por aí fora. DD

Fracture – 0860 [Astrophonica]

Fracture inspirou-se na London Pirate Radio para levar a cabo este trabalho conceptual de ode aos tempos áureos em que o jungle proliferava em rádios piratas e este género alienista se infiltrava cada vez mais no underground britânico. Para além das 8 faixas (ridiculamente boas) que compõem o álbum, este trabalho vem também com uma mixtape de 19 faixas, uma estação de rádio (a 0860, precisamente) e ainda uma série de entrevistas a artistas como Uncle Drugs, Sherelle, Om Unit, etc. From the very top e Kinda Late for a Sunday Night são, para nós, o crème de la crème, mas oiçam “0860” que prometemos não se arrependerem. RC

Kiss Nuka – I Love the Drive EP [Ahead Of Our Time]

Atriz, produtora, ativista, dj, diretora… enfim, esta indiana multifacetada apareceu-nos numa deambulação random pelas stories no Instagram, quando a mixmag partilhou um excerto de I Love the Drive, e a sideração foi imediata. Os vocais dopantes, o kick pujante, a variância rítmica, os breaks e os twists constantes fazem desta uma das melhores faixas de 2022 e justificam o loop incessante na nossa redação.

Já agora, vejam I love the drive a ser debitada em último no live In The Lab Goa de Kiss Nuka para a Mixmag. Digamos que está do dito cujo. RC

Lila Tirando a Violeta – Desire Path [N.A.A.F.I]

Disco a solo de um dos nomes mais exóticos da eletrónica latino-americana e que aqui se junta a Nicola Cruz ou Merca Bae num ou noutro tema. Camila Domínguez, aliás Lila Tirando a Violeta, é uruguaia e sabe bem fazer música de pista, mesmo que o seu reportório mostre muito mais do que isso. As raízes estão bem vincadas ao longo dos cerca de 40 minutos, mas nunca limitam. Sempre expansiva, Lila Tirando a Violeta é um mundo em si mesma e toda essa exploração pode ser ouvida aqui – seja nos ritmos, na melodia ou até em elementos como gravações. DD

Lucrecia Dalt – ¡Ay! [RVNG Intl.]

Não é o único nome da América Latina a surgir nesta lista (ver acima) e é também um nome que não tem medo de pegar no tradicional para lhe dar novas roupagens. Lucrecia Dalt oferece um disco que tem tanto de sedutor como de alienígena, com vários instrumentos em verdadeira comunhão com eletrónica a atuarem em grande plano, sim, mas que servem para acompanhar um dos pontos-chave desta música: a voz convidativa da artista colombiana, que também nas letras mostra que não se conforma com conceitos como tempo e espaço.

Mako – Death Of Romantic [Samurai Music]

É um dos grandes da atualidade no panorama do drum’n’bass. As produções são um doce e, ao longo do catálogo, conseguimos encontrar faixas do liquid ao neurofunk. Esta estreia na Samurai Music tinha de ser algo diferente – e é! São 10 temas que transpiram densidade de graves e, em algumas faixas, uma forte tendência industrial e deep, que é tão própria desta editora. Mas claro que também há breaks bem cortados e algumas atmosferas bem brilhantes para cortar o sabor. Se não conheces, passa a conhecer. JF

Marlina Herlop – Pripyat [PAN]

A formação clássica talvez a tenha ajudado a formar toda esta excepcionalidade. Mas isso nem sempre diz tudo. “Pripyat”, neste caso, mostra como Marina Herlop se distingue bem do comum: piano une-se a eletrónica, processamento de voz a jogos rítmicos, cordas a sintetizadores, simbioses que até parecem ser triviais não fossem compostas por Marina Herlop. E engane-se quem acha que isto é tudo trabalho de estúdio. Parte é, claro, mas quem já a ouviu (no Mucho Flow, por exemplo) sabe bem que a artista de Barcelona canta e toca tão bem ao vivo como quando está em estúdio. DD

Nico – Si [NAAFI]

Esperamos algum tempo por este lançamento, na verdade. Nico, produtor mexicano, introduz-se em 2022 com dois grandes EPs, “Everyone Sees But Only A Few Know” e “Si”. O dois são igualmente bons, mas este tem uma tendência mais eletrónica e drum’n’bass. São quatro faixas nas quais se exploram as várias conotações do deep, com elementos a entrar e a sair de forma subtil e orgânica. Há também tempo para um tema de garage bem gostoso e frio intitulado de Juno. Visitem, temos a certeza de que não se vão arrepender. JF

Nikki Nair – Renormalization Support Group EP [Astrophonica]

Já há algum tempo que andamos com Nikki Nair debaixo de olho (como não?) e dificilmente não escrutinamos cada lançamento dele. A genialidade polirrítmica sempre assente na bass music leva-o a uma construção diferenciada e é isso que o torna tão relevante e distinto. Veja-se o exemplo de Plug. Se há faixa que deveria ser sinónimo para “delírio de pista” é esta. Vocais habituais de footwork, UK bass, dnb quebrado e aquele drop… meu Deus. Se tens problemas cardíacos, o ideal é deixares passar este EP, que o nível de adrenalina pode subir para níveis perigosos. RC

Pearson Sound – Red Sky [Hessle Audio]

Num ano em que a Hessle Audio pôs cá fora dois incríveis EPs de Shanti Celeste e Pangaea, eis que surge Pearson Sound com um dos curta-duração mais viciantes da última parte de 2022. Um dos cabeças-de-cartaz da cultura bass do Reino Unido na atualidade, David Kennedy oferece arpeggios envolventes, wobbles para abanar o corpo, ritmos e breaks dignos de qualquer pista e até uma malha a 160 BPMs que não exige assim tanto de nós senão fechar os olhos. DD

Perfume Genius – Ugly Season [Matador Records]

Não há palavras que possam descrever este “Ugly Season” de forma tão breve, mas o génio artístico de Perfume Genius está mais forte do que nunca neste disco. Originalmente pensado para acompanhar a peça “The Sun Still Burns Here”, da coreógrafa Kate Wallich, é um álbum que recorre a movimentos tão díspares quanto música clássica ou música reggae, um trabalho que usa elementos tão distintos, sim, mas que se unem todos numa fusão tão natural e arrepiante que obriga o ouvinte a ouvir “Ugly Season” vezes sem conta e do início ao fim. Brilhante. DD

Roza Terenzi & D. Tiffany – Edge of Innocence [Delicata Records]

Disco bomba de Roza Terenzi e D. Tiffany. Não por estar repleto de música para partir pistas, mas por ser honesto e emotivo. Há calma e paciência na produção colaborativa da canadiense e da australiana e isso escuta-se logo desde o primeiro tema. Daí, viaja-se por uma imensidão de influências (do house ao downtempo, do trance ao drum’n’bass) que curiosamente (ou não) resulta num álbum bem consistente. Venham mais. DD

Shygirl – Nymph [Because Music]

Desde singles como “Come For Me” que andávamos desejosos por ouvir a estreia de Shygirl no formato de longa-duração. Sem amarras, a londrina assina um disco genuíno em que a sexualidade-mais-do-que-positiva é protagonista. Isso, o alcance vocal da também rapper e DJ ou os beats assinados por nomes como Arca, Sega Bodega e Vegyn, claro. Percorre-se um caminho hyperpop (não é para menos, dada a ligação de Shygirl à sempiterna SOPHIE) no qual se encontram rasgos de garage ou R&B, tudo numa receita pop bem apurada. DD

Toumba – Rosefinch [Hypnic Jerks]

Jordano por trás do MNFA, um dos espaços mais importantes do país, Toumba continua a chamar a atenção com eletrónica singular e altamente convidativa. “Rosefinch” é prova disso, com cinco faixas a reverberarem pelos cantos do cérebro graças a influências que tanto vão à Jordânia como a África ou ao Reino Unido. Os ritmos até se podem destacar em certos momentos, mas a procura e homenagem folk e todos os elementos (sejam cordas ou samples de voz) são tão bem trabalhados que só queremos é comer o bolo todo. DD

War – Edema EP [Utopia Music]

Desculpem, não consigo ser imparcial. Bogart é a melhor faixa de bass music de 2022. Daquelas em que o arrepio te desce espinha abaixo e uma bassface involuntária te faz soltar um ufff (ou algo pior, para ser sincero). Que abuso! Mas não descartem as restantes – Beefy, por exemplo. “Edema” é um EP experimental para o produtor, que desce BPMs e intensifica o grave, numa delícia auditiva em que existe uma simbiose perfeita entre o selvagem e o requintado. Desde a faixa Rafale, que o produtor lançou em 2010, que andamos de olho posto em War e, até agora, so far, so good. RC

Textos por Daniel Duque, João Freitas e Rui Castro

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