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Lançamentos favoritos de setembro

9 Outubro, 2023 - 16:15

Não faltou música em setembro e estes são apenas alguns dos discos pelos quais nos apaixonamos.

André Miranda – Opaque [All Things Decay]

Já o ouvimos em lançamentos da dupla Blanc Motif e até a assinar como MRND. Desde “Not Many Left” (2022), no entanto, temo-lo ouvido em nome próprio quando se tratam de lançamentos a solo. Neste caso, o português baseado nos Países Baixos traz “Opaque”, um EP de quatro faixas que nos leva para espaços densos de techno ou noise, isto tudo sem deixar de nos ir dando espaço para respirar com alguns contrastes subtis que vai aplicando. Belo explorador eletrónico, este. DD

ANF – Costly Blooms On the Eve Of Collapse [DustWORLD]

Enquanto editora, a DustWORLD chamou-nos a atenção sobretudo com lançamentos de Priori e Killer DJs e por ser altamente futurista. Agora, e três anos depois do último lançamento, a imprint do Canadá volta a chegar-se à frente e apresenta o trabalho de mais um compatriota praticamente desconhecido deste lado do oceano. Pode bem ser o lançamento mais espacial até à data. NV

Askkin – Ifeksa [Faktice]

Pois, também não conhecíamos Askkin. Mas a hibridez de Shoot Me Down, uma faixa que nem é drum’n’bass nem é techno, chamou-nos a atenção para este belga e resolvemos espreitar o resto do EP. Seguiu-se Make It Nice or Make It Twice, e aqui o techno mais duro, porém groovy, com a fórmula dos claps e vocais dopantes ganhou-nos por completo. Remember In The Silence foi a confirmação final de que este Ifeksa teria presença garantida nos nossos lançamentos favoritos de setembro. Sobretudo aquela segunda parte da faixa. Meu Deus. RC

Filipe Sambado – Três Anos de Escorpião em Touro

Todos e todas sabemos que Filipe Sambado é uma das mais preciosas cantautoras do país. Também já se sabe que compõe álbuns que acabam por se destacar nos anos em causa, como “Revezo” em 2020. O que talvez muitos não sabiam, especialmente se não tiverem ouvido esta homenagem a Fausto, é que Sambado assina em “Três Anos de Escorpião em Touro” a sua primeira e bem-vinda viagem hyperpop em formato de álbum.

Isso não significa que ela largue a sinceridade e beleza das suas letras, assim como não deixa de parte as cantigas – ouça-se a emocionante Choro da Rouca, inevitavelmente uma das grandes canções do ano, ou o fado de Um Lugar na Mouraria. Produzido ao lado de Bejaflor e Rodrigo Castaño, o disco conta com alguns convidados (Conan Osíris, AURORA, Marianne, entre outres) e dá-nos aqueles contrastes entre beleza e dureza que podemos ouvir em trabalhos de Arca ou SOPHIE.

Mas atenção: “Três Anos de Escorpião em Touro” nunca deixa de ser um disco de Sambado, daqueles bem próprios e inspiradores para ouvir vezes sem conta e, de preferência, de olhos fechados. É que, independentemente da nova abordagem na música, tal como noutros anos, a artista volta a oferecer uma excelente companhia para o dia-a-dia e para todas as nossas angústias. DD

Föllakzoid – V [Sacred Bones Records]

Talvez já saibas que a banda liderada pela artista Domingæ Garcia-Huidobro é especial. Mas, se ainda não ouviste este “V”, será muito difícil não ficares rendida ou rendido. Cada uma com mais de 10 minutos, as músicas deste álbum são autênticas explorações para entrar em transe. Aqui, a banda chilena anda pelo mundo mais psicadélico do techno mais minimal, por vezes relembrando os universos kraut, e assina temas ideais para ouvir em casa ou para pôr pistas a vibrar. A parte mais interessante é que isto foi tudo gravado sem a presença de Atom™, o incontornável músico eletrónico alemão que tem vivido no Chile e que esteve a cargo de pegar nas gravações, reorganiza-las e de tornar este disco numa das peças mais bonitas e viciantes do ano. DD

Hidden Horse – Incorporeal [Holuzam]

Um dos grandes atos da hauntology feita em Portugal, a dupla de João Kyron e Tony Watts, também conhecida por integrar a banda Beautify Junkyards, volta a lançar um álbum enriquecedor após a estreia em 2022, com “Opala”. Novamente com selo da Holuzam, Kyron e Watts bebem de kraut e industrial para chegar a um resultado que é descrito oficialmente pelo adjetivo do próprio título: incorpóreo. Ideal para os dias que correm, diga-se, não fosse esta uma distopia de ficção científica que chega mesmo a ser claustrofóbica – no bom sentido, claro. DD

Jorge Caiado – Freak Not Freak EP [Carpet & Snares]

Jorge Caiado é um dos maiores embaixadores da música house em Portugal e “Freak Not Freak” é uma obra imperdível para quem se interessa pelo estilo como um todo. Para nós, este é um exclusivo em vinil que levanta o véu para o que se passa e ouve nos clubes onde o house continua a marcar passo e desbravar o caminho. NV

Laurel Halo – Atlas [Awe]

Difícil não olhar para Laurel Halo como um dos nomes mais ricos da música contemporânea. É que, repare-se, tanto a podemos apanhar a tocar piano no mundo dub de Moritz von Oswald Trio ou ao lado de Oliver Coates no festival bracarense Semibreve, como a podemos ouvir a desbravar faixas 4/4 em DJ sets envolventes e cheios de energia. Mais recentemente, para teres uma ideia, passou a fazer parte do corpo docente da CalArts School of Music.

Mesmo sabendo tudo isso, voltamos a ser surpreendidos neste “Atlas”, que abre o catálogo da nova editora de Halo. Com muitas cordas à mistura (Lucy Railton e James Underwood), o saxofonista Bendik Giske ou até a voz de Coby Sey na tão tocante Belleville, a norte-americana assina uma das peças mais ternas que ouvimos este ano, um disco ambient certeiro para encontrar fôlego nesta secularidade caótica e demasiado incerta. DD

Lauren Flax – Liz & Lauren EP [2MR]

Não é à toa que Lauren Flax foi considerada Underground Hero em 2022 pela DJ Mag. E já desde 2019 que andamos de olho nos seus lançamentos, com “One Man’s House Is Another Woman’s Techno” a ser considerado um dos nossos favoritos desse ano. Agora, a DJ e produtora de Brooklyn alia-se a Liz Wight, do duo Pale Blue, com um dos seus trabalhos mais sólidos até então. Este é um EP mais musical e menos direcionado para a pista, que de certo alargará o alcance de fãs de ambas as artistas, e que explora vertentes e temas passiveis de serem apresentados ao vivo em formato live. Se isso vier a acontecer, alguém que as traga a terras lusas. Just saying. RC

Lewis Fautzi – Manner of Death [Faut Section]

Não é novidade que Lewis Fautzi gosta de compor música introspetiva, mesmo sendo maioritariamente conhecido pelos lançamentos e DJs sets de techno enérgico e mental. Já o havia feito no antecessor “Insanity Department” (2019) e voltou a fazê-lo neste “Manner of Death”, também editado pela sua Faut Section. O lado techno continua lá, sim, mas este é um disco denso e espesso que nos põe num outro lugar se ouvido com atenção. Falamos de um álbum feito numa cama de hospital após um acidente de mota, como recordou o DJ e produtor barcelense em entrevista, e talvez por isso seja tão sincero e especial. Ideal para quem gosta de Rrose e outros atos idênticos, mas não só. DD

Loraine James – Gentle Confrontation [Hyperdub]

Nome obrigatório da música feita no Reino Unido e daqueles em que continua a ser justo catalogar como IDM, Loraine James tem em “Gentle Confrontation” o seu novo álbum e também a sua autobiografia. Isso não se escuta apenas na sonoridade (com os desafiantes ritmos, por exemplo, ou os olhares atentos a mundos influentes para a produtora, tão distintos quanto midwest emo, drum’n’bass ou R&B), mas também nas próprias letras (como é caso de 2003, na qual James fala sobre a morte do pai). Ao longo de quase uma hora, há muito para descobrir a cada escuta do disco, que traz belíssimas colaborações com nomes como KeiyaA, George Riley ou Marina Herlop e cujo título, no fim de contas, já mostra parte daquilo que podes esperar. DD

Vários Artistas – Revolution Of The Giraffe [Diffrent Music]

Depois de ter estado um período parada, a irreverente Diffrent Music está de volta à carga, e vem com uma autêntica bomba para os fãs de bass music. O modus operandi da editora londrina está bem explícito no seu nome, e a vontade de esticar os limites dos géneros musicais é bem notória neste que é um cartão de visita excelente para quem a não conhece. Este Revolution of the Giraffe é um VA com 17 faixas e conta com a participação de nomes bem conhecidos da Diffrent Music (Dexta, Lakeway, Arkaik, Mauoq, por exemplo) e talentos emergentes como Itti, Eusebeia ou Amir de Bois, numa combinação entre presente e futuro perfeita. Footwork, drum’n’bass, jungle, breaks, halftime (…) tem de tudo para todos. As faixas de BrandNewTrumpets & Macc, Pepsi Slammer ou A Fruit são obrigatórias, mas as restantes valem mesmo (MESMO!) a pena ouvir. RC

Outros lançamentos de setembro:

Actress – Game Over ( e 1 )
Black Rave Culture – Black Rave Culture Vol 3
Buttechno, Tris – In Your Head
James Blake – Playing Robots Into Heaven
Polygonia – Otro Mundo
Simo Cell – Cuspide Des Sirènes
Turista – Para Fora Cá Dentro

Textos por Daniel Duque, Nuno Vieira e Rui Castro; imagem por Catarina Ribeiro

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